Produção de cacau cai, preço triplica e deixa ovos de Páscoa mais caros

O preço do cacau quase triplicou no último ano e obrigou o setor de alimentos a se redesenhar para a chegada da Páscoa. Para os fãs dos ovos de chocolate, o peso no bolso vai além do valor elevado dos produtos nas gôndolas, com a redução dos tamanhos e mudanças na composição das iguarias.

O que aconteceu

Preço do cacau disparou 189% no último ano. A variação de preço da matéria-prima essencial para a fabricação do chocolate é apurada pela FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura). A alta alcançou o pico de 282% no período.

Inflação está relacionada a questões climáticas. Responsáveis por 70% da produção mundial de cacau, os países da África Ocidental atravessaram períodos de chuvas e secas. O cenário foi determinante para a redução da oferta da matéria-prima.

Crise sanitária também inibe produção de cacau. O fungo Vascular Streak Dieback devastou as plantações na Costa do Marfim e em Gana, principais fornecedores da matéria-prima, fator que contribuiu na redução da disponibilidade do fruto. "Com menor oferta, o preço do cacau sobe e, naturalmente, atinge o valor do chocolate", destaca Leandro Rosadas, especialista em gestão de supermercados.

Aumentos já atingem os chocolates brasileiros. Segundo o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), o preço de chocolates em barra e bombons disparou 16,5% nos últimos 12 meses. A alta anual é a maior desde a atualização do indicador que mede a inflação oficial do Brasil, em 2020.

Cenário contribui para encarecimento na Páscoa. "Vai ficar mais caro. A expectativa é de que o chocolate do dia a dia da Páscoa esteja pelo menos 12% mais caro", diz Rosadas. "As perspectivas não são boas para a venda de ovos de Páscoa neste ano, justamente por causa dessa inflação sentida na hora de comprar os produtos", complementa.

Produção conta com 13 milhões de ovos a menos. Diante do cenário adverso, a Abicab (Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados) afirma que 45 milhões de ovos foram produzidos para a Páscoa de 2025. O número é 22,4% menor em relação ao ano passado, quando foram distribuídas 58 milhões de unidades aos consumidores.

Setor se reinventa

Indústria de chocolates aposta em alternativas. A Abia (Associação Brasileira da Indústria de Alimentos) afirma que as adversidades afetaram os segmentos que dependem do cacau. "O setor tem buscado minimizar esse efeito por meio de eficiência produtiva, automação, inovação e otimização de processos, evitando repassar integralmente os custos aos consumidores", diz a entidade.

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Foram meses de investimento e fortalecimento de uma cadeia para entregar experiências que se adequem ao mercado e atendam aos diversos padrões de consumo dos brasileiros.
Jaime Recena, presidente executivo da Abicab

Ovos menores e com menos cacau são tendências. Segundo a Abicab, 94 lançamentos compõem a cesta de 83 produtos destinados para a Páscoa deste ano. Rosadas explica que as novidades alteram a composição dos ovos e envolvem a chamada reduflação, que consiste na redução dos tamanhos para inibir a alta efetiva dos preços.

As indústrias focaram na redução de cacau dos produtos. Eles também mudam a gramatura para fingir uma 'inflação que o consumidor não vê'. [...] Eles entregam o mesmo produto com o mesmo preço, porque diminuíram a gramatura e usaram menos insumos para a produção.
Leandro Rosadas, especialista em gestão de supermercados

Misturas também aparecem nas apostas da indústria. O vice-presidente de negócios da Cacau Show, Daniel Roque, afirma que a empresa "diversificou o portfólio", com produtos que equilibram chocolate e outros ingredientes, como biscoitos. "Apesar das estratégias de contenção de custos, houve um aumento médio pouco inferior a 10% nos preços dos produtos em relação ao ano passado", admite.

Revendedores também procuram driblar a inflação. Para impedir que o aumento dos preços resulte em reduções significativas dos volumes de compras, o setor supermercadista deve antecipar a comercialização para amenizar as perdas. "A gente entende que vai existir uma retração das vendas. Com o trabalho iniciado em março, é possível ter um bom resultado", avalia Rosadas.

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