Lula teria em mente colocar Nelson Barbosa na Fazenda no lugar de Levy, diz jornal
SÃO PAULO - A ausência do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, no anúncio do corte de R$ 69,9 bilhões no Orçamento da União, na sexta-feira (22), gerou rumores sobre divergências entre o titular da Fazenda e o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, que foi a público falar sobre os cortes do governo.
De acordo com informações do jornal "Valor Econômico", por trás das divergências sobre o ajuste fiscal há uma estratégia política que conta com o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O ex-presidente teria em mente, segundo o jornal, colocar Barbosa no cargo de ministro da Fazenda, substituindo Levy.
O jornal destaca que tanto Levy quanto Barbosa consideram perigosa a fragilidade financeira do setor público, mas defendem instrumentos diferentes para enfrentá-la.
Enquanto Levy quer reduzir o gasto público, o PT defende aumentar tributos sobre os mais ricos, sobre grandes fortunas e heranças. Ou elevar o imposto de renda das classes mais ricas, o que daria ao governo espaço para reduzir a taxa de desemprego e incrementar programas de transferência de renda. Na sexta, Barbosa destacou que elevar a arrecadação pode ser a solução.
Segundo o jornal "Folha de S. Paulo", Levy barrou uma taxação de grandes fortunas projetada pelo ex-ministro Guido Mantega que poderia arrecadar até R$ 6 bilhões por ano. Levy considerou o IGF (Imposto sobre Grandes Fortunas) ineficiente.
Discordâncias
As divergências entre os ministros da Fazenda e do Planejamento incluem também a desoneração da folha de pagamento das empresas e, principalmente, as mudanças no cálculo do fator previdenciário aprovadas pela Câmara.
O governo definiu um corte de R$ 69,9 bilhões. Levy queria um valor maior - entre R$ 70 bilhões e R$ 80 bilhões - enquanto Barbosa defendia um montante menor do que foi anunciado. Mas as discordâncias não param aí.
Há cerca de duas semanas, numa reunião da coordenação política do governo, a presidente Dilma Rousseff foi obrigada a intervir em uma acalorada discussão entre os dois.
Segundo relatos, Barbosa, apoiado por outros ministros ligados ao PT, defendeu que, caso Dilma decida vetar o novo cálculo previdenciário, que reduz a idade mínima para aposentadoria, ela crie um mecanismo alternativo que contemple os trabalhadores e ao mesmo tempo mantenha a saúde financeira da Previdência.
Já Levy foi na direção contrária. Para ele, o governo deve tentar barrar o projeto no Senado. Em último caso, a presidente deve vetar o novo cálculo, sob risco de comprometer o ajuste fiscal.
O ministro da Fazenda ficou isolado na discussão até que Dilma interveio. "Não vou admitir que vocês façam este debate dessa forma. Quem vai decidir sobre isso sou eu", disse a presidente, segundo testemunhas.
Conforme integrantes do governo, o apoio a Levy se ampara hoje em Dilma e no vice-presidente, Michel Temer, com quem ele tem se reunido pelo menos duas vezes ao dia.
Já os maiores focos de críticas são o ex-presidente Lula --que em conversas privadas e públicas tem criticado o ajuste fiscal-- e o PT, que na última semana escancarou o desconforto com o titular da Fazenda em um manifesto divulgado pelo diretório paulista.
Irritado com as constantes investidas de Lula e do PT, Levy se refere com ironia ao partido. "Mas o PT é mesmo o partido do governo?", disse ele recentemente a um interlocutor.
(Com Agência Estado)
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