UOL - Como fazer um Brasil melhor?
João Appolinário - Minha proposta é esta: um país mais liberal, deixando a iniciativa privada crescer e colocando o governo onde ele tem que estar atuando, porque hoje ele não faz nem uma coisa nem outra. É simples, é ver o que acontece no mundo. É ver o que está dando certo e onde está dando certo. Quais as economias que estão crescendo e por que estão crescendo? Aí você copia, faz igualzinho.
O que achou da reforma trabalhista?
A reforma trabalhista trouxe grandes benefícios principalmente para o trabalhador. E tudo aquilo que foi feito serviu para gerar mais emprego, para facilitar, para acabar com essa indústria das ações trabalhistas.
Se queremos ser exportadores, ter importância dentro da economia global, temos que ser competitivos e, para isso, não podemos ter esses números de problemas trabalhistas que afastam todo mundo.
Existem várias empresas --inclusive umas de e-commerce [como Alibaba]-- que não vieram para o Brasil por todos os problemas de legislação que existem aqui. A dificuldade de empreender neste país é em função disso.
O país onde há menos leis para proteger o empregado é o país aonde todo mundo quer ir para trabalhar, que são os Estados Unidos. Não há alguma coisa que temos que repensar em relação a isso? É o livre mercado que paga os salários mais altos, que faz com que a pessoa tenha mais garantias, toda vez que você começa a criar proteções, o trabalhador não é o grande beneficiário.
E a reforma da Previdência?
Também é necessária. Estourou sem a população envelhecer. O grande problema está dentro do funcionalismo público, inclusive. Hoje o maior empregador é o governo, o segundo é o varejo. Existe uma quantidade enorme de funcionários públicos.
Só no Ministério do Trabalho, por exemplo, quantas pessoas estão ali trabalhando, consumindo dinheiro nosso, do trabalhador, que é o que mais paga imposto, porque na hora em que consome arroz e feijão o imposto está ali. Achar que só quem paga imposto é o rico... Essa coisa de que vamos cobrar mais dos ricos... nós temos é que desonerar para todo mundo porque assim o consumo cresce.
A quantidade de impostos que existe no Brasil é absurda. O que você precisa é diminuir a carga tributária para aumentar o consumo de tudo, para as pessoas comerem mais e melhor.
Existe um estudo que mostra quantos dias por mês a pessoa trabalha para pagar só os impostos. Imagine se você tirasse isso e o deixasse comer melhor, consumir melhor. Você cobra menos imposto e vai receber a mesma coisa.
Agora, é um círculo vicioso. O difícil é você acertar isso. Não sou um economista para avaliar, mas eu gosto e sou da linha da livre iniciativa. Eu não conheço nenhum país estatizante que deu certo.
Houve mudanças no perfil do consumidor com a crise econômica?
Sem dúvida nenhuma, o medo do desemprego fez com que o consumo caísse muito. As pessoas passaram a ir menos ao shopping e a consumir menos. Sentimos isso de certa forma.
Mas pensamos: quem sabe aquele consumidor que não está podendo consumir um carro novo ou até uma casa nova, possa, talvez, comprar uma panela. Vai que ele acaba se emocionando ou se presenteando com alguma coisa um pouco mais barata.
Nós nos preocupamos em colocar produtos com parcelas e com valores mais baixos e procuramos respeitar uma parcela que realmente cabe no bolso do consumidor. Os nossos produtos são muito mais baratos, muitas vezes, do que uma calça jeans, por exemplo, sobretudo quando parcelo em 10x. É um bem durável, enquanto que uma calça, não.
A crise reduziu a capacidade de expansão da marca?
O nosso projeto era chegar em 2020 com 300 lojas, mas hoje já estamos muito próximos disso. Ou seja, dois anos antes do previsto. Crescemos nesses anos mais difíceis em cima de oportunidades.
Tivemos oportunidades de uma negociação melhor com os shoppings, e isso nos proporcionou até antecipar a abertura de algumas lojas. Foi importante porque eu acredito que, mesmo em um momento desses, há oportunidade de abrir lojas de uma forma muito mais econômica.
Há cinco anos tínhamos dificuldade de comprar aparelho de ar-condicionado para as lojas. Imagine eu conseguir negociar o preço, se a pessoa não estava nem conseguindo me entregar. Hoje é uma situação diferente, conseguimos construir a mesma loja com muito menos dinheiro em relação a quatro anos.
Entendemos que o mercado hoje passa por um momento crítico, mas isso é cíclico. O mais importante para mim é acertar o produto de desejo. Porque tivemos anos em que o Brasil cresceu 4% ou 5%, e mesmo assim empresas entraram em falência. O empreendedor não deve jogar tudo nas costas do governo. Lógico que seria muito melhor um país em plena expansão, com economia completamente diferente da de hoje, mas o empreendedor sempre acha o caminho e vai buscar as soluções.
Como a política impacta os negócios?
Eu entendo que o Brasil está cada dia mais maduro em relação à política e à economia. Acredito na economia livre, da livre iniciativa, da iniciativa privada. O governo tem que estar concentrado naquilo que é a sua vocação: saúde, educação e segurança.
Não precisa atrapalhar as empresas, que são as grandes geradoras de emprego e pagadoras de impostos. Eu vejo que já houve um desligamento muito forte da economia em relação à política. Veja tudo o que aconteceu este ano na política e tudo que ainda vem acontecendo na economia.
Mesmo que nós tenhamos um crescimento menor, mas é um crescimento. Acho que esse desligamento aconteceu, e isso, para mim, significa maturidade econômica e política dentro do país.
Mas estamos ainda sob efeito da crise, a volatilidade do dólar, desemprego...
Sem dúvida que o dólar interfere em todos os negócios do Brasil. O mundo é indexado ao dólar, e a globalização traz isso cada vez mais. Não temos como nos isolar disso. Temos medidas a tomar. Há alguns produtos que a indústria brasileira consegue ter mais preço, ou seja, isso tudo a médio e longo prazo dá para ser feito.
É normal em todos os anos de eleição vermos o mercado financeiro com um nervosismo diferente. E ele também vive disso e ganha com isso, faz parte de quem está nessa indústria do financeiro.
Quando há alguém perdendo, alguém está ganhando. Sem dúvida nenhuma, qualquer notícia afeta todos os negócios. Mas eu não me deixo influenciar a médio ou longo prazo com o que está acontecendo agora ou nos próximos meses.
Temos muitos produtos que dependem de importação. Mesmo a indústria nacional, se ela pode exportar a um preço melhor, não vai vender no mercado interno a um preço menor. Tudo depende e está indexado ao dólar. Se você considerar que há 12 anos o dólar já esteve a R$ 4, hoje seria normal ele chegar a R$ 8, e estamos próximos a R$ 4. É uma questão de se adequar e não deixar que isso o pegue.
O Brasil está menos corrupto?
Acredito que tudo isso que vem acontecendo e ainda irá acontecer, com certeza, está trazendo uma mudança muito grande não só ao empresário que atende aos órgãos públicos como ao empresário que recebe das empresas. Tudo isso faz parte do amadurecimento político e empresarial do país.
E faz parte da história, é uma questão de tempo, mas essa história aconteceu e acontece em vários outros países. Eu tenho esperança, sim, que exista uma mudança de comportamento tanto dos empresários como dos homens públicos.