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Com preço baixo, 20 mil toneladas de cebola apodrecem no interior paulista

André Cabette Fábio

Do UOL, em São Paulo

05/11/2013 16h50

O excesso de cebolas colhidas a partir de setembro baixou tanto os preços que já não compensa para os agricultores colher o produto na região de São José do Rio Pardo, a 254 km ao norte da cidade de São Paulo. Agora, as cebolas que ainda não foram colhidas estão apodrecendo nas lavouras, onde outros produtos deverão começar a ser cultivados neste mês.

Atingindo o final da época de colheita, o produto está cotado a entre R$ 0,10 e R$ 0,12 o kg. Segundo Luiz Roberto de Oliveira, agrônomo da Secretaria de Agricultura de São José do Rio Pardo, a colheita de uma saca de 45 kg de cebolas sai por cerca de R$ 3. "Com a saca valendo de R$ 5 a R$ 6, como agora, não vale a pena colher", afirma.

Com isso, cerca de 20 mil toneladas de cebola -- ou 30% da produção total de 60 mil toneladas do município-- serão perdidas este ano.

Os números levam em consideração apenas a produção de 150 pequenos agricultores do município. Mas os prejuízos também devem ser sentidos por produtores de outras cidades da região e mesmo de outros Estados do país que mantêm o cultivo, como Pernambuco e Bahia, afirma Oliveira. Em São José do Rio Pardo, são cultivados 1.700 hectares do produto.

Perdas com cebola vão representar até R$ 10 milhões à economia do município

Com as perdas, a estimativa da secretaria da Agricultura é de que de R$ 8 milhões a R$ 10 milhões deixarão de ser gastos pelos pequenos agricultores no município no comércio local.

"A cebola está lá no campo, na superfície do solo, abandonada porque não tem mercado. Eu perdi 270 toneladas", afirma Nelson Vedovato, que além de cultivar cebolas em 15 hectares é secretário de Agricultura do município paulista.

Segundo ele, o excesso de produção se deve ao aumento da área plantada e às boas condições climáticas neste ano, que teve um inverno relativamente quente e sem excesso de chuvas.

A cebola produzida na região vem de sementes importadas, o que aumenta seu custo, diz Luiz Roberto de Oliveira.

O produto, afirma, é de sabor suave e tem teor de água elevado, por isso, precisa ser revendida logo após a colheita e não pode ser armazenado à espera de uma melhora de preços, ao contrário do que acontece com as cebolas roxas .

Cultivadas na Argentina e no Sul do Brasil e colhidas de janeiro a fevereiro, as cebolas roxas têm a casca mais grossa e podem ser armazenado por meses.

Perdas começaram com queda de preços em setembro

Oliveira afirma que as perdas começaram com as cebolas colhidas a partir da metade de setembro, quando os preços do produto caíram. Do início da colheita, no final de julho, até a metade de setembro, apenas parte dos produtores estavam colhendo e os preços estavam bem mais vantajosos --ao redor de R$ 0,5 o kg, afirma. 

"A partir de meados de setembro e durante todo o mês de outubro, todas as regiões produtoras entraram em produção ao mesmo tempo", diz. Apesar do prejuízo, ele afirma que a situação "não é calamitosa".

O secretário de Agricultura, Nelson Vedovato, afirma que os agricultores que tiveram prejuízo se preparam para plantar outras culturas agora em novembro. "As cebolas serão incorporadas na terra durante a aragem. Geralmente se cultiva milho, hortaliças, beterraba, cenoura e repolho", afirma.