Camila Maia

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Reportagem

Indústria vê oportunidade para Brasil com energia limpa na nova era Trump

As políticas anunciadas até o momento no novo mandato de Donald Trump na presidência dos Estados Unidos, ainda que representem ameaças ao ritmo da transição energética, apontam para oportunidades para a indústria brasileira. É a aposta da Abrace, associação que representa grandes consumidores de energia elétrica, que vê potencial para o Brasil explorar a enorme oferta de energia renovável e barata gerada no país como diferencial competitivo para uma nova onda de industrialização.

"O caminho do Brasil é olhar a transição energética com foco no consumo, e não na oferta, como tem sido", disse Paulo Pedrosa, presidente da Abrace, que tem entre seus associados eletrointensivos como Alcoa, Braskem, Ambev, Gerdau, Vale e Suzano.

Ainda que entre as medidas de Trump esteja a taxação em 25% das importações de aço e alumínio importados, afetando a produção brasileira, e o discurso do seu governo seja, na maior parte do tempo, contrário às renováveis, a oferta de recursos naturais no Brasil é tão grande que não deixa de ser uma vantagem competitiva do ponto de vista global.

Para Pedrosa, uma mudança positiva é o provável fim das políticas de subsídios às renováveis na Europa e nos Estados Unidos.

"A gente vem competindo com muitos países que estavam subsidiando a energia renovável, inclusive os Estados Unidos, através do IRA [Inflaction Reduction Act]. Agora que o mundo vai repensar o 'green premium', que significa pagar mais pelo verde, é a hora de aproveitarmos o 'green bonus'. Somos renováveis e somos competitivos", explicou.

O "verde" deixa de ser um prêmio, e passa a ser equivalente quase a um desconto, já que a energia elétrica no país pode ser produzida de forma abundante e com baixo custo. Assim, a indústria brasileira ficará mais competitiva no âmbito global, ainda que os Estados Unidos contem com a vantagem do gás, que no Brasil ainda tem um custo elevado.

Incentivos no lado da produção

A indústria brasileira já se beneficia de subsídios relacionados a incentivos para o desenvolvimento das energias renováveis, como o desconto pelo uso da rede e o enquadramento em autoprodução, que garante isenção de encargos.

O que os eletrointensivos defendem é um passo a mais: que o investimento industrial na transição energética também tenha benefícios, não baseados em subsídios pagos pela conta de luz, mas sim em isenções de tributos. Um exemplo seria o enquadramento no Reidi (Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento da Infraestrutura), um incentivo fiscal que suspende a cobrança de PIS e Cofins sobre determinados serviços e aquisições.

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A indústria também espera poder emitir debêntures incentivadas, hoje liberadas para projetos de energia ou de infraestrutura, que garantem isenção de imposto de renda para investidores pessoa física.

Os incentivos podem ser atrelados à eletrificação de processos produtivos, como por meio de uso de caldeiras elétricas, no lugar das tradicionais a gás, por exemplo.

Assim, a transição energética, hoje muito focada na oferta da energia, vai impulsionar o desenvolvimento da indústria que consome energia renovável, e que espera usar esse diferencial para atender mercados globais com produtos mais competitivos e de baixa emissão.

Taxas nos Estados Unidos - não são tão ruins assim?

Em nota, o MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços) lamentou nesta quarta-feira a decisão do governo norte-americano de elevar as tarifas sobre importação de alumínio e aço, e afirmou que as medidas terão impacto significativo sobre as exportações brasileiras desses produtos aos Estados Unidos, que somaram US$ 3,2 bilhões em 2024.

Fábrica da Gerdau
Fábrica da Gerdau Imagem: Getty Images
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Um dia antes, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao lado de ministros de estado, incluindo o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, participou de cerimônia de inauguração de um novo laminador de bobinas a quente da Gerdau em Ouro Branco, em Minas Gerais. A empresa investiu R$ 1,5 bilhão para aumentar sua produção de aço em 250 mil toneladas por ano, chegando a 1,1 milhão de toneladas em capacidade.

"Se as medidas protecionistas forem isonômicas, ainda assim seremos competitivos globalmente pelo potencial de energia limpa e barata", insistiu Pedrosa.

Em fevereiro, a associação da indústria eletrointensiva divulgou um estudo encomendado à PwC Strategy& sobre os efeitos potenciais da transição energética na reindustrialização do país.

A consultoria mapeou 30 rotas industriais que podem gerar R$ 1 trilhão em valor ao PIB e gerar mais de três milhões de empregos até 2030. Dentro deste valor, R$ 340 bilhões se referem à transição energética, sendo R$ 250 bilhões em biocombustíveis e R$ 90 bilhões em energia adicional gerada por demanda industrial.

Já o segmento de indústria e mobilidade pode gerar R$ 430 bilhões, sendo R$ 300 bilhões em produtos de base de baixa de emissão e R$ 130 bilhões em eletrificação de processos industriais, com armazenamento e captura de carbono.

Reportagem

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2 comentários

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Arthur Eduardo Freitas Heinrich

Não tem que dar incentivo para ninguém. Todos tem que trabalhar sob as mesmas regras. Essa estória de energia limpa é um engodo. Todas as fontes de eletricidade são poluidoras, sem exceção.

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Marcio Francisco Zichia

O Trump ignora o cac Haça…Nem telefone atende!

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