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Carla Araújo

Ministro do Turismo acusa Ramos de traição e de querer dar pasta ao Centrão

Do UOL, em Brasília

09/12/2020 17h10Atualizada em 09/12/2020 18h42

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O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) já assinou a demissão do ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, e ela deve ser publicada no Diário Oficial ainda nesta quarta-feira (9), segundo interlocutores do Planalto.

A decisão foi tomada após o ministro ter enviado uma mensagem num grupo interno do governo acusando o chefe da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, de ser "traíra" e de negociar com o Congresso "a um preço altíssimo". O teor da mensagem foi confirmado à coluna por dois ministros.

Segundo fontes, nesta quarta, após conversa com Bolsonaro, o ainda ministro do Turismo se desculpou com Ramos e conversou com o ministro da Casa Civil, Braga Neto, reconhecendo que havia se excedido. A decisão de Bolsonaro, entretanto, já está tomada.

Acusações

Na mensagem, Álvaro Antônio acusa Ramos de entrar na sala de Bolsonaro "comemorando algumas aprovações insignificantes no Congresso". "Não me admira o Sr. Ministro Ramos ir ao PR pedir minha cabeça, a entrega do Ministério do Turismo ao Centrão para obter êxito na eleição da Câmara dos Deputados", diz o texto.

Ele diz ainda que Ramos não revela ao presidente "o altíssimo preço" que tem custado as aprovações de certas matérias no Congresso. "Não temos uma base sólida no Congresso Nacional, (tanto que o Sr pede minha cabeça pra tentar resolver as eleições do parlamento, ironia, pede minha cabeça pra suprir sua própria deficiência)...", escreveu o ainda titular do Turismo.

Álvaro Antônio diz ainda que Ramos queria sua demissão. "O Sr. deveria ter aprendido na sua própria formação militar que não se joga um companheiro de guerra aos inimigos, não se pode atirar na cabeça de um aliado", diz.

Por fim, diz que Ramos "é exemplo de tudo que não quero me tornar na vida". "Quero chegar ao fim da minha jornada EXATAMENTE como meus pais me ensinaram, LEAL aos meus companheiros e não um traíra como o senhor".

O ministro da Secretaria de Governo foi procurado para comentar o teor da mensagem, mas não quis comentar.

Desafetos

Apesar da amizade com o presidente Jair Bolsonaro, Ramos acumula desafetos na equipe ministerial. Recentemente, foi acusado pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, de ser "Maria fofoca".

Salles, entretanto, após uma reprimenda do presidente, resolveu pedir desculpas. A diferença de tratamento entre Salles e Antônio, segundo interlocutores de Bolsonaro, é que apesar de os dois serem mais ligados à ala ideológica, o ainda titular do Turismo não possui a mesma força.

Ramos já foi alvo de fritura de congressistas, mas tem dito a aliados que confia que continuará auxiliando o presidente. Ao seu lado, o general tem o apoio do núcleo militar, principalmente do ministro da Casa Civil, o também general Braga Neto.

Leia a íntegra da mensagem enviada de Marcelo Álvaro Antônio a colegas de Esplanada:

"Caros colegas, de antemão peço desculpas por utilizar este espaço com objetivo que não seja a construção de um Brasil melhor.
Ministro Ramos, sinceramente não sei onde o Sr estava nos anos 2016, 2017, 2018...
Mas eu, junto ao Ministro Onix (sic) e outros membros do governo, já estava na Câmara do Deputados articulando em favor da então candidatura do Presidente JB (em um momento que quase ninguém acreditava na eleição dele). Na ocasião da campanha, percorri TODAS as regiões do estado de MG de carro para organizar as ações da campanha, dormindo na maioria das vezes 4 / 5 horas por noite, levando as pessoas a minoria a acreditar que precisávamos dele para mudar o Brasil (a maioria naquele momento já acreditava).
Quem estava na campanha eram os conservadores que hoje o senhor ataca sem parar, de forma covarde.
Quando indicado ao Presidente pelo ministro Onix, procurei incansavelmente honrar nosso Capitão à frente do Ministério do Turismo. O trabalho me parece que surtiu efeito... Em 2019 vivemos o melhor momento da história do ministério:
- Enquanto a própria economia (PIB) cresceu 1,1% a economia do Turismo cresceu 2,6 (mais que o dobro);
- Geramos 163% a mais de empregos que o mesmo período do ano anterior;
- Com a ajuda do Itamaraty e da Assessoria Internacional do Presidente, isentamos de vistos quatro países estratégicos EUA, Japão, Canadá e Austrália, isso nos permitiu bater alguns recordes, pela primeira vez na história Cataratas do Iguaçu ultrapassou a barreira de 2 milhões de visitantes em 2019;
- A transformação da EMBRATUR em uma agência de promoção internacional (um pleito de mais de 10 anos) vai sem dúvida em médio prazo trazer grandes resultados;

- Fui a Madri em bate e volta, fiz três reuniões, resultado: Conseguimos atrair o Wakalua, o maior hub de inovação e tecnologia em soluções para o turismo do mundo, o escritório será aberto no próximo semestre (vai nos trazer GRANDES avanços);
Conseguimos atrair a Air Europa para operar no Brasil (Já homologada pela ANAC); Conseguimos atrair o Escritório da Organização Mundial do Turismo (OMT), será instalado no RJ, ação que vai colocar o Brasil na vitrine dos investimentos do turismo no mundo.
- Na pandemia as ações do Ministério do Turismo (junto ao ME) foram alvo de gratidão e reconhecimento desde os maiores empresários do Trade turístico até os mais simples Guias de Turismo.
Enfim, dito isso, não me admira o Sr Ministro Ramos ir ao PR pedir minha cabeça, a entrega do Ministério do Turismo ao Centrão para obter êxito na eleição da Câmara dos Deputados.
Ministro Ramos, o Sr entra na sala do PR comemorando algumas aprovações insignificantes no Congresso, mas não diz o ALTÍSSIMO PREÇO que tem custado, conheço de parlamento, o nosso governo paga um preço de aprovações de matérias NUNCA VISTO ANTES NA HISTÓRIA, e ainda assim (na minha avaliação), não temos uma base sólida no Congresso Nacional, (tanto que o Sr pede minha cabeça pra tentar resolver as eleições do parlamento, ironia, pede minha cabeça pra suprir sua própria deficiência)...
Nem por isso Ministro Ramos, fui ao PR pra dizer que o Sr não capacidade pra atuar em tal função, AO CONTRÁRIO, várias vezes ofereci ajuda pra que o Sr tivesse êxito em suas atribuições (ex: Contratação do Carlos Henrique, abrindo espaços no MTur).
SOMOS UM TIME PELO BRASIL, o Sr deveria ter aprendido na sua própria formação militar que não se joga um companheiro de guerra aos inimigos, não se pode atirar na cabeça de um aliado...
Ministro Ramos, o Sr é exemplo de tudo que não quero me tornar na vida, quero chegar ao fim da minha jornada EXATAMENTE como meus pais me ensinaram, LEAL aos meus companheiros e não um traíra como o senhor.
Tenha um Bom dia!"