Bolsonaro está disposto a segurar Pazuello, mas auxiliares reconhecem crise
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O entorno do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) avalia as consequências do desgaste deste domingo (17) para o governo e para a manutenção do general Eduardo Pazuello no cargo. Há uma crescente pressão para que o titular do Ministério da Saúde deixe a pasta, mas o presidente já avisou que está disposto a mantê-lo no governo.
Auxiliares do presidente admitem que houve uma derrota na "briga da vacina" com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que deu ao Brasil as primeiras imagens de brasileiros imunizados contra o coronavírus.
Ministros ouvidos pela coluna afirmam, no entanto, que o presidente já estava se preparando para o que classificou como "postura antipatriótica" do governador de São Paulo neste domingo. Foi com esse argumento que o governo angariou o apoio de outros governadores contra Doria e então decidiu fazer um evento em Guarulhos nesta segunda-feira (18), para dar início a vacinações em outros estados.
Além disso, os ministro salientam que até mesmo a postura da Anvisa —de autorizar a aplicação de vacinas— já estava (a contragosto) nas contas de Bolsonaro.
Auxiliares reconhecem também que Bolsonaro não seria o melhor "garoto-propaganda" da vacina, já que ele sempre se mostrou desconfiado e contribuiu para jogar suspeitas sobre a segurança dos imunizantes. Principalmente em relação à CoronaVac, que chegou a classificar como "vacina do Doria" e vacina "chinesa", já que ela é elaborada pelo Instituto Butantan e o laboratório chinês Sinovac.
Nesta segunda-feira, porém, Bolsonaro afirmou que a CoronaVac "é do Brasil, não é de nenhum governador, não".
Logística em xeque
A pressão pela saída de Pazuello começou a ganhar força na semana passada, com o agravamento da situação em Manaus e a recusa da Índia em entregar as 2 milhões de doses da vacina de Oxford contra o coronavírus encomendadas pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz).
Na sexta-feira à noite (15), em uma reunião no Palácio da Alvorada, o presidente se mostrou incomodado por estar sendo culpado pela falta de oxigênio em Manaus e também pelas conversas diplomáticas com a Índia, que estavam à beira do fracasso.
Apesar do desgaste, ampliado pelo alardeado histórico de experiência de Pazuello em logística, Bolsonaro reiterou seu apoio ao ministro da Saúde. Segundo auxiliares diretos, o presidente não mostrou disposição a ceder a pressões e quer manter o general.
"Barata-voa" na comunicação
A avaliação feita por auxiliares diretos do presidente é de que a falha não é apenas de Pazuello, e sim da comunicação. Eles cobram a falta de um plano de comunicação de governo, que ainda não foi apresentado pelo ministro Fábio Faria, que ganhou uma pasta com esse propósito em junho do ano passado.
Ministros criticaram a inércia da pasta comandada por Faria e por seu xará, Fabio Wajngarten (Secretário Especial de Comunicação).
Auxiliares próximos dizem que melhorar a comunicação do governo é crucial para vencer novas batalhas, ainda mais com um adversário "marqueteiro como Doria". Essa briga por uma narrativa de governo esbarra na personalidade de Bolsonaro, que tem dificuldade em aceitar conselhos e é impulsivo.
Além disso, falar em comunicação e relacionamento com a mídia é uma batalha antiga e disputada com o chamado gabinete do ódio.
O boneco de Bolsonaro com as mãos sujas de sangue, no estilo "pixuleco", que foi colocado na frente da Anvisa ontem, também chamou a atenção de interlocutores do presidente que temem um agravamento da crise.
Há quem avalie que o governo atravessa um dos momentos mais delicados do mandato e que lembra um período no governo da então presidente Dilma Rousseff, quando as as crises eram classificadas como momentos de "barata voa". Ou seja, com as notícias ruins vindo em sequência e o governo se mostrando sem rumo.
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