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Carla Araújo

Greve dos caminhoneiros fracassou por uso político, diz ministro Tarcísio

Ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, ao lado do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) - Alan Santos/PR
Ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, ao lado do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) Imagem: Alan Santos/PR

Do UOL, em Brasília

01/02/2021 21h00

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Principal articulador do governo com os caminhoneiros, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, disse que a convocação de greve para esta segunda-feira (1º) fracassou, mas deixou lições. Na avaliação do ministro, os caminhoneiros mostraram que estão ganhando maior consciência da realidade do mercado e que a tentativa de uso político do movimento acabou culminando com a baixa adesão.

"Eles sentiram o cheiro de uso político e isso foi decisivo para o afastamento dos caminhoneiros da greve", afirmou o ministro em entrevista à coluna. "A primeira lição que tivemos hoje é que o caminhoneiro não se deixa enganar e sabe que não é qualquer liderança que o representa".

Tarcísio afirmou que desde o início do governo mantém diálogo com a categoria e que, mesmo descentralizados, o caminhoneiro está buscando uma profissionalização, por meio de associações e cooperativas.

"Existe uma dificuldade de representação orgânica, mas hoje ficou provado que não é qualquer um que se auto intitula líder dos caminhoneiros. Houve um chamamento de greve por parte de pessoas que não tinham liderança", disse.

Tarcísio afirmou ainda que nas conversas que mantém com "os trabalhadores do volante" há uma tentativa de mostrar que o governo não pode atender todas as reivindicações, mas que busca auxiliar a categoria.

"A gente não tem condições de resolver todos problemas, mas a gente está disposto a prestar contas", disse. O ministro, que participa de dezenas de grupos de WhatsApp com caminhoneiros, afirmou que costuma também ligar para alguns profissionais e que hoje recebeu diversas mensagens para explicar a não adesão ao movimento.

Oportunismo

O ministro disse ainda que os poucos problemas de bloqueios relatados em algumas rodovias federais não foram feitos por caminhoneiros.
"O Modos operandi dos bloqueios, que foram rapidamente resolvidos pela Polícia Rodoviária Federal, não era modos operandi de caminhoneiros", disse, citando o uso de material inflamável e queima de pneus.

Questionado se poderia apontar os responsáveis pelas ações, o ministro disse que não conseguia, mas que poderia assegurar que "não eram da categoria" e que eram pessoas com interesse políticos. "Foi diferente. Os caminhoneiros não aderiram".

O ministro afirmou ainda que os caminhoneiros deram "uma demonstração de maturidade" ao perceber que o momento de pandemia não combina com uma paralisação das atividades de transporte.

Bolsonaro ainda quer medidas

Apesar de fazer uma avaliação bastante positiva para o governo, o ministro disse que o presidente Jair Bolsonaro tem reforçado os pedidos para que algumas medidas para a categoria possam sair do papel. De acordo com ele, há uma "agenda contínua e que é constante".

Segundo Tarcísio, ainda está na mesa do ministério da Economia, por exemplo, o estudo pedido pelo presidente para tentar atenuar o aumento do preço do Diesel. "Essa possibilidade está na mesa", disse. "O presidente está preocupado, sabe da limitação que tem, e que não há possibilidade de interferir na Petrobras, mas demanda que se estude alternativas."

Para o ministro, o presidente ainda pode contar com parte representativa do apoio da categoria. "A maior parte ainda tem um apreço pelo presidente. E o presidente entende o sacrifício da categoria está o tempo todo cobrando propostas para amenizar a situação".

Segundo o ministro, além da redução da carga tributária, Bolsonaro estaria bastante preocupado com as modelagens de concessões de rodovias para poder cumprir a promessa de redução dos pedágios. "Ele quer pedágios justos e que as rodovias possam ter serviços para os trabalhadores", diz.

Áudio vazado

O ministro minimizou o impacto do vazamento de um áudio de sua autoria que foi revelado pelo colunista do UOL, Chico Alves, e que trazia algumas frases polêmicas como a de que os caminhoneiros deveriam desmamar do governo.

"Eu já venho falando isso há tempos. Quando falo em desmamar é para que eles entendam que o governo não é responsável por determinadas coisas que fazem parte da relação contratual entre o privado e o privado", diz. "Se o frete está ruim, não é culpa do governo. É uma condição de mercado e ele precisa saber negociar", completa.

Para o ministro, a categoria está amadurecendo, mas ainda precisa entender que há algumas regras de mercado que fogem do controle estatal e que muitas exigências não fazem sentido. "O Diesel não deveria ser problema, seria só aumentar o frete. É assim que funciona, se o trigo aumenta o custo do pão sobe. Essa noção eles precisam começar a ter. É a lei do mercado, entender como a coisa funciona", disse.

Último balanço

Depois de diversos balanços ao longo do dia, o Ministério da Infraestrutura e a Polícia Rodoviária Federal (PRF) informam que, às 19h30 do dia 1º de Fevereiro de 2021, "todas as rodovias federais, concedidas ou sob gestão do DNIT, encontram-se com o livre fluxo de veículos, não havendo nenhum ponto de retenção total ou parcial".

Na nota, o ministério da Infraestrutura afirmou ainda que "a rede portuária sob administração da pasta, bem como os Terminais de Uso Privado (TUPs), não registraram bloqueios em seus acessos durante o dia de hoje". "O abastecimento de combustíveis e outros insumos nos aeroportos federais da rede Infraero ou sob concessão também aconteceu sem interrupções", finaliza o informe.