Pelo filho, ela criou marca de produtos à base de cannabis; fatura R$ 4 mi
Claudia Varella
Colaboração para o UOL, em São Paulo
27/11/2023 04h00
Barbara Arranz, 36, entrou no mercado da cannabis medicinal para melhorar a vida do filho caçula, se especializou no tema, empreendeu na Espanha e hoje tem uma empresa milionária. Ela é CEO da Hemp Vegan (empresa de produtos veganos desenvolvidos à base de canabidiol —CBD, uma das substâncias encontradas na Cannabis sativa). Em 2022, a empresa faturou R$ 4 milhões.
Além de empresária no segmento, Barbara é biomédica especialista em cannabis medicinal e uma ativista que luta em prol do uso do produto no Brasil há anos.
Busca por ajuda para o filho
Ela se especializou em cannabis pelo filho. Barbara diz que buscou informações e especialistas para saber como a cannabis poderia ajudar no tratamento do seu filho caçula, Raul, diagnosticado com condição do espectro autista. Nessa época, em 2017, ela cursava faculdade de biomedicina e começou a se especializar no tema para cuidar do filho, hoje com 15 anos. Barbara tem outros dois filhos: Maria Eduarda, 19, e Paco, 17.
Conheceu o óleo fitoterápico de cannabis na Apepi. Em 2017, ela conheceu a Associação de Apoio à Pesquisa e os Pacientes de Cannabis Medicinal (Apepi), que lhe apresentou o óleo fitoterápico.
Melhoras significativas na primeira semana. Raul passou a tomar o óleo todos os dias à noite, quatro gotinhas, com uso sublingual. "Logo na primeira semana, ele já teve melhoras significativas. Os sinais de melhora eram nítidos: segurança de entrar na escola sozinho, socialização com os colegas de sala, melhoria na fala, na ansiedade, diminuição dos movimentos repetitivos, foco e disposição", afirma.
Raul passava por outros tratamentos também. Segundo Barbara, juntamente com o tratamento com óleo fitoterápico de cannabis, Raul fazia terapia comportamental e teve ajuda de profissionais de saúde, como fonoaudióloga e psicopedagoga. Ele nunca fez uso de medicação alopática (usada pela medicina tradicional), diz ela.
Não foi fácil convencer meu marido e minha família que eu estava tratando meu filho com maconha. No começo, ouvi dezenas de vezes frases do tipo: 'Você é louca, vai drogar seu filho?!'.
Barbara Arranz, CEO da Hemp Vegan
Desde o começo, meu propósito sempre esteve atrelado ao de uma mãe buscando o melhor para o seu filho, e isso transbordou de uma forma até inesperada, quando vi que não estava sozinha nessa busca e que eu poderia, sim, por meio do conhecimento e acesso à informação, ajudar outras famílias.
Barbara Arranz, CEO da Hemp Vegan
Os três filhos usam canabidiol. Hoje, Raul toma o óleo fitoterápico de cannabis a cada 15 dias. Seu irmão, Paco, que é atleta de alta performance, usa o creme para dor muscular, consome as gummies (balinhas) como fonte vitamínica e toma o óleo para ajudar no equilíbrio e regeneração. Já Maria Eduarda faz uso das gummies e do óleo sublingual em dias de cólicas menstruais, estresse na faculdade, ansiedade e agitação noturna.
Como ela criou a empresa
Em 2017, Barbara criou uma iniciativa chamada Linha Canábica. Ela mantém uma conta no Instagram (@linhacanabicadaba) para falar sobre os benefícios da cannabis. "Inicialmente, era como um grito de libertação, uma forma de expressar meu conhecimento, minha luta, minha busca por informação sobre o assunto", declara.
A Linha Canábica é uma health tech (startup de empresa de tecnologia com foco na saúde). Tem hoje um acervo sobre pesquisas e informações sobre condições médicas e estudos com cannabis. "Por meio dessa iniciativa, conseguimos levar a discussão para dentro das casas das pessoas promovendo a busca por produtos naturais infundidos com cannabis", afirma.
Antes da Linha Canábica, Barbara teve outros empregos. Ela trabalhou como secretária e caixa de loja, foi vendedora de gás encanado, de acessórios, perfume e até salada no pote nos prédios da avenida Faria Lima, em São Paulo. "Até que por fim eu me encontrei no mundo, dentro do mercado da cannabis", afirma.
Em 2020, a família se mudou de São Paulo para Madri (Espanha). Segundo ela, na Espanha, o uso de produtos à base de canabidiol não é proibido. "O canabidiol não é considerado uma substância controlada, o que dispensa o uso de prescrição médica, e é frequentemente vendido em lojas especializadas. Na Espanha, o plantio do cânhamo [Cannabis sativa] em escala industrial ainda não é permitido", afirma.
Em 2021, Barbara abriu a Hemp Vegan, em Madri. O investimento inicial no negócio foi de R$ 400 mil.
A Espanha está geograficamente bem posicionada na Europa, tornando-a um hub ideal para expandir os negócios para outros países europeus onde a aceitação da cannabis está crescendo muito.
Barbara Arranz, CEO da Hemp Vegan
Óleos, cremes e até gel íntimo
O cultivo da cannabis é próprio. Segundo ela, tudo é desenvolvido em um espaço na Eslovênia. "O país permite o cultivo industrial de cânhamo, sendo a cannabis com teor de THC [Tetrahidrocanabinol é a principal substância psicoativa encontrada na cannabis] inferior a 0,2%. E escolhemos ali para iniciar nosso plantio por conta de toda cultura agrícola na Eslovênia ter uma longa história e é parte integrante da identidade do país", afirma.
O portfólio da empresa tem diversos produtos à base de cannabis. Entre eles: gummies (R$ 240; 30 unidades), gel íntimo (R$ 230; 30ml), três tipos óleos sublinguais (de R$ 390 a R$ 450; 10ml) e creme para regeneração muscular (R$ 310; 100ml).
A marca já tem lojas em Madri, Amsterdã (Holanda) e Londres (Inglaterra). Em 2024, a empresa planeja abrir uma loja em Portugal. Em 2022 a Hemp Vegan faturou R$ 4 milhões. O lucro não foi divulgado.
Vendas online representam 75%. A empresa tem cerca de 55 mil clientes (20% são brasileiros). "No Brasil atendemos nossos clientes com os produtos de cannabis por meio de prescrição médica e autorização da Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária], importação especial pela RDC 660 [documento emitido pela Anvisa para que pessoas físicas possam importar, para o tratamento de sua saúde, produtos derivados de Cannabis]. Então, os clientes conseguem comprar os produtos após passar pelo médico e obter a autorização da Anvisa", diz Barbara. A empresa ajuda no passo a passo.
Marca terá franquias no Brasil. A expansão da marca no Brasil será via franquias. O investimento inicial varia de R$ 150 mil a R$ 250 mil. As primeiras unidades devem ser abertas em 2024.
O modelo de negócio é o quiosque. Eles terão totens para facilitar o acesso ao tratamento com cannabis e ao cadastro junto à Anvisa, telemedicina com profissionais de saúde e informações sobre documentação para que o produto chegue com segurança à casa das pessoas. "A franquia será um espaço que educa e apoia aqueles que buscam alternativas terapêuticas baseadas em compostos naturais", diz.
Para mim, a cannabis representa uma farmácia inteira encapsulada em uma única planta. O mercado de produtos à base de cannabis está em meio a uma transformação extraordinária. É fundamental que tornemos acessível a todas as pessoas que podem se beneficiar de suas propriedades.
Barbara Arranz, CEO da Hemp Vegan
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