'Gympass dos coworkings' conecta 500 empresas a 2.000 escritórios flexíveis
Claudia Varella
Colaboração para o UOL, em São Paulo
27/02/2024 04h00
Imagina uma empresa que precisa alugar, por algumas horas, uma sala de reunião ou estação de trabalho para sua equipe. Do outro lado, existem escritórios flexíveis que oferecem essa estrutura. O que a startup Woba fez foi conectar essas duas pontas. A Woba já recebeu aportes que somam R$ 63 milhões, um deles do fundador do Booking.com.
A empresa tem cerca de 500 clientes. Entre eles, estão Itaú, Bradesco, XP Investimentos, Cielo, iFood e Odontoprev. O faturamento não foi divulgado.
Como funciona a Woba
É uma espécie de "Gympass dos coworkings". As empresas compram créditos para reservar estes espaços. Marco Crespo, 39, sócio e COO da Woba, é inclusive ex-executivo da Gympass, sistema de benefícios que oferece academias e outros serviços de atividade física para funcionários de diversas empresas. Lá, ele atuou como CEO do Brasil, América Latina e EUA, antes de se tornar sócio da Woba.
Na sua plataforma, há mais de 2.000 coworkings parceiros. No total, são cerca de 11 mil opções de estações de trabalho, 3.500 salas de reunião, 2.100 escritórios privativos e 300 espaços de eventos. Estão localizados em mais de 300 cidades no Brasil, México, Peru, Argentina, Colômbia, Chile, Uruguai e Bolívia. No Brasil, 48% dos espaços estão no Sudeste.
Nas estações de trabalho, equipes de diferentes empresas podem trabalhar juntas. Normalmente, são mesas grandes dentro dos coworkings, com espaços para sentar junto de seu computador. Já as salas de reuniões são privativas e alugadas por períodos curtos. Há ainda espaços privativos, com lugares fixos, que podem ser alugados para todos os dias ou só alguns dias por semana.
As reservas podem ser feitas diretamente pelo site ou aplicativo, onde aparecem todos os espaços disponíveis. Os contratos são anuais, sem multas ou taxas de cancelamento, e estão incluídos gastos como luz, água, internet, recepção e segurança.
A Woba diz que seus clientes conseguem economizar de 30% a 60% dos gastos mensais com a manutenção de um escritório tradicional. Além disso, há uma grande economia ao não se pagar por espaços ociosos. "Na Woba sempre brincamos que o metro quadrado mais caro do Brasil não é o da Faria Lima [avenida em São Paulo com concentração de muitas empresas], mas, sim, o que está ocioso", diz Crespo.
Os principais sócios da empresa são os irmãos Roberta e Pedro Vasconcellos e Marco Crespo. A Woba tem Kaszek, Valor Capital e Kees Koolen (fundador do Booking.com) como principais investidores. Ao total, os aportes somaram R$ 63 milhões. Atualmente, ela participa do programa de aceleração Scale-Up Endeavor, que seleciona empresas com alto potencial de crescimento no país.
A própria Woba não tem sede. Os 118 profissionais têm a flexibilidade de trabalhar dentro dos coworkings.
Como está o setor de coworkings
Apesar da crise da WeWork, uma gigante do ramo, o segmento de coworkings no Brasil está em plena expansão, diz sócio da Woba. A empresa americana de coworkings, que chegou a ser avaliada em US$ 47 bilhões e viu sua tentativa de abrir capital se frustrar, tem uma "dúvida substancial" sobre sua capacidade de continuar operando. Ela entrou com pedido de recuperação judicial nos EUA.
"Houve um boom que ocorreu no pós-pandemia. Vários empreendedores entenderam que imóveis fechados poderiam ser transformados nesse modelo de negócio", diz Carlos Elpidio Prado, diretor de comunicação e marketing da Ancev (Associação Nacional de Coworkings e Escritórios Virtuais).
Em 2023, houve aumento na quantidade de agendamentos realizados na plataforma. A Woba registrou cerca de 2,5 vezes mais a utilização dos créditos de reservas nos seus espaços.
Pandemia foi momento crítico
Na pandemia, a Woba teve uma queda de 40% do faturamento de março a julho de 2020. Afinal, com o lockdown, os coworkings ficaram praticamente fechados, e isso afetou os contratos da Woba com seus clientes. "A negociação para flexibilizar os contratos foi feita com dois grandes blocos de empresas: as que tinham acabado de assinar contrato e as que estavam em vias de fechar negócio e que, por conta da pandemia, pausaram a negociação", diz Crespo.
Para ajudar os coworkings, a empresa tomou algumas medidas. Uma delas foi antecipar o fluxo de pagamento aos coworkings e diminuir os custos de todos os envolvidos no ecossistema.
Outra medida foi realizar treinamentos de atendimento. O objetivo era que os coworkings estivessem preparados para o aumento da demanda assim que a rotina normalizasse. Quando as empresas e os colaboradores voltaram a frequentar espaços públicos, houve um aumento da demanda por estes espaços compartilhados e salas de reunião. "Isso porque muitas empresas haviam devolvido os seus escritórios sede ou seus colaboradores já não queriam mais abrir mão da flexibilidade", afirma.
Objetivo é balanço entre vida e trabalho
A Woba nasceu com outro nome: BeerOrCoffee. Os irmãos Roberta, 32, e Pedro Vasconcellos, 28, criaram a BeerOrCoffee dentro da comunidade San Pedro Valley (de startups), em Belo Horizonte (MG), em 2017. O investimento no negócio não foi divulgado.
No começo, a ideia era criar conexões entre pessoas para assuntos de trabalho, como entrevistas e negociações com clientes. Os parceiros da época eram pubs e cafeterias. Com o BeerOrCoffee, o usuário podia convidar outro membro conectado, com habilidades ou conhecimentos de interesse, para tomar um café ou uma cerveja, e sair de lá com um novo parceiro de projeto, funcionário ou cliente.
Entre 2018 e 2019, a empresa abraçou a demanda de flexibilidade e começou a mapear coworkings para oferecer aos clientes. "Para monetizar este 'novo normal', a BeerOrCoffee deixou de ser apenas um aplicativo para convites e criou um marketplace que ajuda as empresas a se posicionar para o trabalho híbrido", afirma Crespo. Na época, a plataforma conectava mais de 1.000 espaços de trabalho flexíveis com 400 empresas que já eram clientes da startup no modelo de "pay per use" (pagar por uso).
A mudança do nome para Woba (que vem do conceito "work-life balance") só ocorreu em 2022. "'Work-life balance' para nós é poder encaixar o seu trabalho à sua rotina, e não o contrário. É você poder trabalhar perto da escola do seu filho, por exemplo", diz Crespo.