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Quem sempre diz "isso eu já sabia" e palpita em tudo acaba aprendendo pouco

Natalia Gómez

Colaboração para o UOL, em Maringá (PR)

15/10/2018 04h00

Pessoas que se apressam em dizer "isso eu já sabia" diante de qualquer informação sempre existiram, mas esse fenômeno ficou mais evidente com as redes sociais. Embora pareça inofensivo, esse comportamento pode afetar a vida pessoal e até a carreira.

O principal risco é se fechar para novos aprendizados, pois o cérebro humano não está aberto a aprender algo que ele considera que já sabe, segundo a escritora e coach Lilian Bertin, que batizou o comportamento de "síndrome do isso eu já sabia".

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Quando você fala que já sabe, é como se estivesse dizendo para o seu cérebro que aquele arquivo já existe no seu sistema.
Lilian Bertin, escritora e coach

Segundo ela, a "síndrome" deriva da crença de que pode existir uma verdade absoluta sobre algum assunto, levando as pessoas a se fecharem para novos pontos de vista. Geralmente, pessoas com esse perfil acreditam conhecer muitos assuntos e se sentem aptas a falar sobre qualquer tema.

Outra característica dos que sofrem desse mal, segundo Lilian, é a facilidade para guardar informações, ficando sempre com a primeira versão recebida e descartando as versões seguintes, por considerar que já dominam o assunto.

Saber escutar

Para a professora Maria Elisa, do Insper, ter humildade e saber escutar é o melhor caminho para abrir-se a novas informações. "Escutar é uma escolha que nos leva a ver a vida pelo ponto de vista do outro", declarou.

Outra forma de combater a síndrome do "isso eu já sabia" é ter objetivos de vida claros e fazer uma boa gestão do tempo, pois isso permite tornar-se um melhor aprendiz em suas áreas de interesse.

Assuntos superficiais ou questões amplas e polêmicas que nada agregam são grandes ladrões de tempo.
Maria Elisa Moreira, psicóloga

Veja abaixo cinco dicas para evitar a cilada do "isso eu já sabia":

  • Conhecer: por meio de várias formas, como leituras, estudos, pesquisas, áudios ou vídeos
  • Aprender: aprender algo novo todos os dias aumenta a conexão sináptica e é uma forma de exercitar o cérebro
  • Reconhecer: saber qual é o seu estilo de aprendizagem é fundamental. Algumas pessoas aprendem melhor vendo; outras, fazendo; outras aprendem escutando ou refletindo sobre o tema
  • Criar: uma forma de ser mais profundo nas interações sociais é criar algo novo para a sua vida. Experimentar coisas novas, explorar novos ambientes e criar experiências sensoriais, por meio da música e da alimentação, por exemplo
  • Decidir: ser a pessoa que você realmente é, com saberes e "não saberes", exercitando a humildade genuína, disponibilidade interior e vontade de aprender.

As dicas são da Prisma Desenvolvimento Humano.

Medo da rejeição

A rapidez com que as informações chegam até as pessoas tem intensificado esse fenômeno, embora muitas vezes as pessoas recebam apenas dados parciais ou fragmentados, na visão da psicóloga Maria Elisa Moreira, professora do Insper e fundadora da Prisma Desenvolvimento Humano.

A maioria das pessoas entende que ter apenas uma parte dos dados já é o suficiente para se considerarem conhecedoras profundas de determinado assunto que esteja na pauta das famílias, da vida social e das organizações.
Maria Elisa Moreira, psicóloga

Segundo ela, a ansiedade e o medo da rejeição também podem explicar o comportamento. Normalmente, a ansiedade serve para colocar o ser humano em alerta e antecipar o perigo. "Quanto nos deparamos com algo que não sabemos, não conhecemos ou não dominamos, nossos neurotransmissores enviam uma mensagem de que devemos nos posicionar", disse. Por trás desse comportamento, disse ela, está a dificuldade de lidar com o medo da rejeição.

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