Pandemia deixa 9,7 milhões de trabalhadores sem remuneração em maio
Necessário para conter o avanço do novo coronavírus, o distanciamento social deixou 9,7 milhões de trabalhadores sem remuneração em maio de 2020. Isso corresponde a mais da metade (51,3%) das pessoas que estavam afastadas de seus trabalhos e a 11,7% da população ocupada do País, que totalizava 84,4 milhões.
As informações são da primeira divulgação mensal da PNAD COVID19, realizada hoje pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O levantamento é uma versão da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD Contínua), realizada com apoio do Ministério da Saúde, para identificar os impactos da pandemia no mercado de trabalho.
"Nós já sabíamos que havia uma parcela da população afastada do trabalho e agora a gente sabe que mais da metade dela está sem rendimento. São pessoas que estão sendo consideradas na força [de trabalho], mas estão com salários suspensos. Isso não é favorável e tem efeitos na massa de rendimentos gerada, que está estimada abaixo de R$ 200 bilhões", comentou o o diretor adjunto de pesquisas do IBGE, Cimar Azeredo.
A pesquisa mostrou que 19 milhões de pessoas (ou 22,5%) estavam afastadas de seu trabalho, a maior parte (15,7 milhões) por conta do distanciamento social. Além disso, o grupo etário com maior proporção de pessoas afastadas do trabalho foi o de 60 anos ou mais: 27,3%.
Trabalhadores domésticos sem carteira foram os mais afetados, registrando o maior percentual de pessoas afastadas devido à pandemia (33,6%), seguidos pelos empregados do setor público sem carteira (29,8%) e pelos empregados do setor privado sem carteira (22,9%). Já entre os trabalhadores domésticos com carteira, o percentual de afastados foi de 16,6%.
"Claramente os trabalhadores domésticos sem carteira foram os mais afetados pela pandemia. Parcela expressiva deles tem renda média abaixo de um salário mínimo [R$ 1.045]. Já os com carteira foram menos afetados porque têm mais estabilidade", explicou Azeredo.
Mais de 28 milhões não procuraram trabalho
Em maio, 75,4 milhões de pessoas estavam fora da força de trabalho no Brasil, das quais 34,9% não procuraram trabalho, mas gostariam de trabalhar, e 24,5% não procuraram principalmente devido à pandemia ou porque faltava trabalho no lugar em que moravam.
Ao somarmos a população fora da força que gostaria de trabalhar, mas que não procurou trabalho, com a população desocupada, temos 36,4 milhões de pessoas pressionando o mercado de trabalho. Quando o motivo de não ter procurado foi pandemia ou a falta de trabalho na localidade, o total foi de 28,6 milhões de pessoas.
Azeredo analisa que a crise da covid-19 inflou a força de trabalho potencial. "Esse fenômeno afeta principalmente as pessoas de nível superior, pretos e pardos e adultos de 30 a 49 anos", explicou.
Caem horas trabalhadas e rendimento efetivo
Ainda segundo o IBGE, também caiu o número de horas trabalhadas para as pessoas que estavam ocupadas e não afastadas: 27,9% delas (18,3 milhões) trabalharam menos que o habitual, fazendo com que a média passasse de 39,6 horas por semana e para 27,4 horas de fato trabalhadas.
No entanto, para 2,4 milhões de trabalhadores, ou 3,6% das pessoas ocupadas e não afastadas, a média de horas trabalhadas aumentou.
O rendimento efetivo dos trabalhadores também caiu no período, ficando cerca de 18% menor do que o normal. A média de todos os trabalhos no País ficou em R$ 2.320, enquanto o efetivo foi de R$ 1.899 — ou seja: o efetivo representava 81,8% do habitualmente recebido.
Segundo a pesquisa, no Brasil, 38,7% dos domicílios receberam algum auxílio relacionado à pandemia. O valor médio recebido foi de R$ 847 reais. Entre os benefícios, estão o auxílio emergencial e a complementação do governo pelo Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda.
*Com Agência IBGE Notícias
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