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Eles conseguiram bons empregos na pandemia graças ao home office

Henrique Santiago

Colaboração para o UOL, em São Paulo

20/04/2021 04h00

No início da pandemia da covid-19, Almir Cerqueira foi demitido do emprego em uma agência de publicidade. Como muitos brasileiros, o diretor de arte começou a procurar novas oportunidades, só que havia um detalhe: na cidade em que vive, Conceição do Coité, a 222 km de Salvador (BA), existiam poucas alternativas para ele.

Cerqueira atua em uma área que permite o trabalho em home office. Ele organizou as ideias e decidiu mandar currículos para empresas de fora da Bahia. Depois de muitos emails enviados, uma agência de São Paulo se interessou por sua carreira construída até então no estado baiano. A distância de 2.000 km entre as duas cidades não impediu sua contratação.

Almir Cerqueira, morador de Coité (BA): trabalho a 2.000 quilômetros - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Almir Cerqueira, morador de Coité (BA): trabalho a 2 mil quilômetros
Imagem: Arquivo Pessoal

"Fui atrás de vagas para trabalhar nos grandes eixos, mas não são todas as empresas que estão preparadas para contratar alguém do interior. Eu vejo que o home office ainda vai ter muito crescimento", avalia.

Cerqueira é diretor de arte da agência de comunicação digital ODW há três meses. Ele ganha um salário duas vezes maior do que o recebido no antigo emprego.

Novas oportunidades de crescer

Redator publicitário Luan Alves: qualidade de vida e reconhecimento do trabalho são compensadores - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Redator publicitário Luan Alves: qualidade de vida e reconhecimento do trabalho são compensadores
Imagem: Arquivo Pessoal

Amigo de Almir Cerqueira, o redator publicitário Luan Alves, 22, passou pela mesma dificuldade assim que o coronavírus chegou ao Brasil. Só que o desemprego apenas acelerou sua vontade de ir atrás de uma oportunidade em São Paulo.

Alves mora em Feira de Santana (BA), uma cidade com menos de uma dezena de agências já consolidadas. Em meio a processos seletivos online, o publicitário conseguiu ser aprovado em duas empresas paulistanas. Ele atua há três meses na Dark Kitchen Creatives.

Ele diz que os ganhos em qualidade de vida e reconhecimento do trabalho são compensadores. "Infelizmente, a minha área não é muito valorizada aqui. Em poucas semanas, trabalhei com clientes que me fizeram encher os olhos. Depois da pandemia, quero me mudar para São Paulo."

Privilégio e mais segurança

Anna Beatryz reflete sobre o privilégio de poder trabalhar dentro de casa - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Anna Beatryz reflete sobre o privilégio de poder trabalhar dentro de casa
Imagem: Arquivo Pessoal

A analista de experiência do cliente, Anna Beatryz Sousa, 25, percebeu essa movimentação no ano passado e decidiu arriscar. Moradora de Brasília, ela foi contratada em fevereiro pela Caju, plataforma de São Paulo que unifica benefícios como alimentação, transporte e cultura em um só cartão.

Ao pensar sobre a pandemia, Anna Beatryz reflete sobre o privilégio de poder trabalhar dentro de casa, justamente quando a recomendação dos órgãos de saúde para obstruir o avanço do vírus é essa. Para amenizar a distância, ela conta que a empresa faz encontros virtuais de integração dos funcionários.

O equipamento que ela usa no dia a dia, como notebook, monitor e teclado, foi cedido pela empresa. "Ter pessoas de diferentes regiões agrega em conhecimento e vivência, são realidades que mostram outras ideias e soluções para um problema. Essas experiências somam tanto para o nosso dia a dia quanto para o serviço", afirma.

História de vida viralizou

Cezar Pauxis: conseguiu emprego depois de viralizar na internet - Divulgação/Arquivo pessoal - Divulgação/Arquivo pessoal
Cezar Pauxis: conseguiu emprego depois de viralizar na internet
Imagem: Divulgação/Arquivo pessoal

Cezar Pauxis completou 18 anos neste ano com a carteira de trabalho assinada. Ele foi contratado pelo PicPay, aplicativo de pagamento que tem escritórios em Vitória (ES), após viralizar na internet com uma série de publicações no Twitter.

Natural de Belém, Pauxis é apaixonado por programação e usava celulares quebrados para criar robôs no aplicativo Telegram. Na época, o jovem vivia em Carutapera, no interior do Maranhão, e decidiu voltar para a capital do Pará onde a internet é mais estável.

Sua história de vida atraiu pelo menos seis empresas interessadas, mas ele optou pela fintech. Hoje o engenheiro de software consegue pagar aluguel em um bairro de classe média.

Sem cursar faculdade no momento, ele planeja seu futuro aos poucos e ouve conselhos a distância. "Sinto falta da imersão e do contato com as pessoas, mas todo mundo continua conectado, fazemos reuniões diárias. Eu não imaginava que isso fosse acontecer comigo."

Home office em alta

Ao que tudo indica, a modalidade de home office veio para ficar em setores que apostam em regime flexível. Uma pesquisa realizada pela Vagas.com, empresa de soluções tecnológicas de recrutamento e seleção, revelou que a oferta de vagas para trabalhar em casa cresceu mais de 300% dentro da plataforma em 2020 em relação ao ano anterior.

Desde o início da pandemia, os segmentos que mais contribuíram para esse modelo de contratação foram tecnologia (41%), finanças (11%) e consultoria e gestão empresarial (10%).

Jornada e equipamentos

A advogada trabalhista Luara Rezende, coordenadora do escritório Marcos Martins Advogados, relembra que o regime home office foi regulamentado em 2017 na reforma trabalhista.

A especialista diz que as empresas têm que respeitar a jornada de trabalho. Mas elas não são obrigadas a providenciar equipamentos para a execução das funções, ainda que seja de bom senso fazê-lo.