Preconceito, salário baixo, pejotização: como é busca por vaga após os 50
O desemprego entre trabalhadores acima de 50 anos bateu recorde durante a pandemia. Mesmo profissionais qualificados reclamam da dificuldade de retornar ao mercado. Alguns demoram anos para conseguir uma nova posição.
Veteranos ouvidos pelo UOL contam que enfrentam preconceitos, ganham metade do que costumavam e não conseguem mais carteira assinada. Algumas empresas têm programas para absorver essa mão de obra. Especialistas dizem que os trabalhadores não podem se acomodar e precisam se reciclar. Veja a seguir histórias desses profissionais experientes.
Economista com salário menor e sem carteira
"Deixei de trabalhar com carteira assinada, consegui um emprego como PJ [pessoa jurídica] e hoje ganho 40% em relação à renda de antes, e ainda sem benefícios. Empresas maiores procuram mais novos, até 40 anos no máximo. Quem tem 50 ou mais acaba indo para empresas menores, que necessitam de expertise, mas pagam salários menores."
O relato é do economista Carlos Bronzato, 54, do Rio de Janeiro, demitido de uma multinacional em 2015. Ele se realocou no mercado somente neste ano -seis anos depois. Assim como ele, mais de 2 milhões de brasileiros com mais de 50 anos enfrentam a mesma dificuldade.
Segundo levantamento da consultoria Idados com base da Pnad Contínua, do IBGE, a taxa de desemprego para essa faixa etária chegou a 7% pela primeira vez no ano passado. No segundo trimestre deste ano, bateu novo recorde: 7,8%. São 2,03 milhões desempregados com 50 anos ou mais.
O grupo não é o que mais sofre com o desemprego, mas é o que tem encontrado mais dificuldade para retomar sua posição, diz o pesquisador da Idados Bruno Ottoni.
Enfraquecendo o currículo para ter mais chance
Bronzato disse que tomou conhecimento de pessoas desempregadas, na mesma idade que ele, removendo experiências e cursos do currículo com o objetivo de ter mais chances de ser selecionado.
"Vi gente que tirava os cargos mais seniores para não ter um currículo acima da média, mas eu me recusei a fazer isso. Quem vai contratar, tem que saber exatamente quem está contratando."
Salários pela metade
Quem também sentiu na pele a dificuldade para retornar ao mercado foi Alberto Gobato, 58, gerente de compras, demitido em 2015 de uma empresa têxtil, onde trabalhou 35 anos.
Durante seis anos, o morador de São Carlos (SP) passou por outras três empresas com salários 50% menores do que tinha.
Após essas experiências, uma foto dele em um processo seletivo online viralizou e ele conseguiu uma nova vaga. Para o profissional, o preconceito contra os mais velhos é o principal obstáculo.
"Em 2015 quando eu saí da minha primeira empresa, vendo toda dificuldade do mercado, optei por me aposentar para garantir algum recurso. Achei que era melhor pingar algo na conta do que não pingar nada e continuei procurando emprego. Neste tempo, vi que existe certo preconceito contra os mais velhos. Creio que os RHs optam sempre por gente mais nova acreditando na facilidade no uso de tecnologias -que na verdade, são ferramentas que todos têm condições de aprender", disse.
Visão antiquada sobre veteranos
Mórris Litvak, fundador da Maturi, uma plataforma que reúne oportunidades de trabalho, capacitação, empreendedorismo e networking para pessoas com mais de 50 anos, concorda que há preconceito.
"Os gestores ainda têm uma visão antiquada de que as pessoas maduras não sabem mexer com tecnologias, não são atualizadas ou não estão abertas ao novo ou ainda são caras e lentas."
A Maturi tem 160 mil profissionais cadastradas e diz que, nos últimos cinco anos, realocou 5.000 trabalhadores.
Funcionários não devem se acomodar
O consultor em RH Bruno Duarte diz que há trabalhadores com mais de 50 anos desatualizados efetivamente.
"É comum vermos pessoas que passaram tanto tempo em uma única empresa que se descuidaram e não investiram na sua formação ao longo do tempo - o que dificulta a realocação".
Ele diz que a realocação com salários menores acaba sendo normal devido ao recomeço profissional, porque o salário dessas pessoas em suas empresas originais fica acima do mercado por causa de dissídios e promoções.
Para alguns, a solução foi empreender
Depois de trabalhar 14 anos em uma multinacional japonesa em Minas Gerais, o operador de máquinas France Almeida, 50, foi demitido em janeiro deste ano.
Logo após ser desligado tentou uma vaga em outra empresa, mas não obteve sucesso. Decidiu aplicar a rescisão em uma franquia da "Sofá Novo De Novo", que atua na higienização de estofados. Apenas com três meses de operação, ele está próximo de receber o mesmo salário pago pela multinacional -R$ 6.000.
"Foquei numa franquia que não precisava de ponto fixo. Investi R$ 25.900 nos documentos e materiais, gastei mais R$ 4 .000 em passagens e hospedagens para resolver tudo e comecei a trabalhar em julho. Estou supersatisfeito e com uma expectativa de crescimento grande."
Empresas têm programa para contratação
Empresas privadas têm adotado programas de contratação de maiores de 50 anos. Veja alguns exemplos:
Pepsico
A Pepsico lançou em 2016 o programa Golden Years. Foram contratados mais de 400.
A empresa foi a responsável pela recolocação da promotora de vendas Gislaine Silveira, 53, que perdeu o emprego no ano passado, no início da pandemia. Depois de 12 anos de casa, em uma companhia anterior, a promotora voltou a ter que enviar currículos e disse que enfentou preconceitos.
"Antes de chegar na Pepsico, foram quatro portas na cara, e senti bem esse preconceito. É uma coisa velada, desumana e ninguém assume, mas ele existe. As entrevistas correm muito bem até você falar sua idade e sentir todo aquele constrangimento que isso gera. A entrevista passa a não andar mais e depois você recebe aquela mensagem de que a vaga foi preenchida."
Hoje, 10% dos funcionários da Pepsico têm mais de 50 anos e ocupam diversos cargos, de diferentes níveis. Segundo o vice-presidente de recursos humanos da Pepsico no Brasil, Fábio Barbagli, o objetivo é inclusão e diversidade.
Os interessados(as) em trabalhar na PepsiCo podem se inscrever no site.
Vivo
Em 2018, a Vivo criou o programa 50+, que também estimula a contratação de profissionais mais velhos. Segundo a empresa, há 70 colaboradores que fazem parte do programa, em diversas áreas da empresa.
Para Niva Ribeiro, vice-presidente de Pessoas da Vivo, a principal vantagem do programa é a troca de conhecimento entre as gerações. "Os profissionais 50+ possuem várias qualidades complementares aos jovens, tanto pessoal quanto profissionalmente, trazendo elementos fundamentais para o negócio, como comprometimento, responsabilidade, empatia e além da habilidade de construir relacionamentos.".
De acordo com a empresa, os salários oferecidos são compatíveis com o mercado, além de benefícios.
As oportunidades da Vivo podem ser conferidas no site..
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