Quem é o 'mercado financeiro' que faz previsões sobre a economia no Focus
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Quando se fala em expectativas do mercado financeiro, a referência é o Boletim Focus, pesquisa de mercado feita pelo Banco Central brasileiro. As expectativas são utilizadas como subsídio para controle da política monetária e tomadas de decisão para empresas.
História do Boletim Focus
O Banco Central realiza uma pesquisa semanal de estimativas sobre os principais índices da economia, consultando atualmente 171 empresas brasileiras. Esses dados são compilados e divulgados como boletim toda manhã de segunda-feira, trazendo também a evolução das projeções, se estão caindo ou subindo, e quantas instituições responderam sobre cada índice.
A pesquisa é realizada desde 1999. No início, cerca de 50 instituições eram consultadas por telefone.
Em novembro de 2001 as instituições participantes passaram a contar com uma página específica na internet para inserir suas projeções. Logo após a implementação do sistema automatizado de coleta, eram 81 participantes ativos. Esse número aumentou gradativamente, alcançando cerca de 140 instituições no fim de 2019 e de 171 em 2024.
Quais são as instituições que respondem ao Boletim Focus
A pesquisa é respondida principalmente por bancos tradicionais e digitais, gestores de recursos, distribuidoras e corretoras. Além disso, participam consultorias e outras empresas não-financeiras, como a FGV, por exemplo. A lista completa atualizada pode ser encontrada no site do Banco Central.
Nem todas as instituições respondem sobre tudo
As instituições não precisam responder sobre todos os índices. Algumas se especializam em projetar algumas variáveis e não fornecem projeções para as demais.
As entidades habilitadas também não são obrigadas a responder toda semana. Mas perdem o acesso ao sistema após seis meses sem atividade.
Grande parte das instituições responde apenas sobre esses principais índices:
IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) - é o principal indicador da inflação no Brasil. Mede a variação dos preços de um conjunto de bens e serviços consumidos pelas famílias com rendimento de 1 a 40 salários mínimos. Também consta no Focus o IPCA de preços administrados, que inclui impostos e taxas (IPVA, IPTU e taxa de água e esgoto) e serviços de utilidade pública cujas tarifas são reguladas ou autorizadas pelo poder público.
PIB (Produto Interno Bruto): Representa a soma de todos os bens e serviços produzidos no país em um determinado período.
Câmbio R$/US$ (Dólar): Estima a cotação do dólar em relação ao real.
Selic: É a taxa básica de juros da economia brasileira, definida pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central.
IGP-M (Índice Geral de Preços - Mercado). O índice é calculado mensalmente pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV IBRE). Costuma ser utilizado para calcular reajuste de tarifas públicas (energia e telefonia), contratos de alugueis e contratos de prestação de serviços.
Além desses, o Focus também traz projeções sobre outros indicadores como balança comercial, investimento direto no país em dólar e dívida do setor público.
Como o Focus influencia a economia real?
Além de servir de suporte para a tomada de decisões do próprio Banco Central, a divulgação das projeções tem repercussão na economia. Por isso, é acompanhada pelos investidores e outros agentes do mercado financeiro.
Crédito pode ficar mais caro. Como exemplo na prática, a economista e professora de MBAs da FGV, Carla Beni, comenta que a última projeção do boletim Focus, da segunda-feira (23), trouxe uma projeção de elevação da taxa Selic, que antes estava em 11,25% ao ano para 11,5% ao ano no final de 2024: "Na economia real, na vida prática das pessoas, quando o Banco Central eleva a taxa Selic, o custo do dinheiro fica mais caro. Então, imediatamente, o que vai acontecer é o encarecimento do crédito, e qualquer pessoa que precise de algo financiado, parcelado, vai pagar mais juros".
O mercado financeiro trabalha as chamadas "expectativas adaptativas", ou seja, um ajuste de expectativas quando surge uma nova informação. Segundo o economista Augusto Caramico, professor de finanças da PUC-SP, toda semana, quando o boletim Focus dá as expectativas da semana, os agentes de mercado vão reprecificando todos os indicadores que eles tinham. "Por exemplo, se o mercado está esperando mais inflação, ele vai ajustar aumentando na taxa de juros, diminuindo o prazo de financiamento, aumentando a margem", afirmou. Desta forma, a inflação é também uma medida de percepção, comentou o especialista, pois ela aparece no cotidiano para consumidores e comerciantes como aumento nos produtos e insumos antes de ser registrada pelos indicadores oficiais.
Quanto ao PIB, o indicador do IBGE mede a atividade econômica passada. Já a projeção do PIB no Focus serve de insumo em conjunto com outros dados. Existe ainda o IBC-Br (Índice de Atividade Econômica do Banco Central), que também tenta antecipar o resultado do PIB. Junto com a previsão do Focus, agentes do mercado podem medir a Formação Bruta de Capital Fixo, aliado ainda com análises para inflação e taxa de juros.
A Formação Bruta de Capital Fixo representa a taxa de investimento para aumentar a produtividade. Esses investimentos podem ser em máquinas e equipamentos ou até mesmo em estoque, tendo a expectativa que você vai vender mais: "Quando você vê a expectativa de crescimento do PIB, as empresas podem fazer esses investimentos, se elas estiverem no limite da capacidade produtiva", concluiu Caramico.
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