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Investimentos diretos brasileiros na Argentina disparam

02/08/2011 06h24

Os investimentos diretos do Brasil na Argentina dispararam e se diversificaram nos últimos seis anos e a perspectiva é de que eles continuem crescendo em diversos setores industriais, segundo dados reunidos pelo setor comercial da embaixada do Brasil em Buenos Aires.

O crescimento econômico argentino (9% anual), a desvalorização do peso frente ao real (R$ 1 igual a $ 2,6), a possibilidade de escapar das barreiras comerciais, a chance de atender a demanda local e exportar para o Brasil e outros mercados são os motivos que levam empresas brasileiras de diferentes setores a se instalarem na Argentina, segundo economistas, autoridades de governo e empresários do país vizinho ouvidos pela BBC Brasil.

A estimativa de estoque de investimentos globais brasileiros no país vizinho, entre 1997 e o primeiro semestre de 2011, é de US$ 11.189,75 bilhões. Deste total, segundo dados da embaixada, quase US$ 8 bilhões (US$ 7,7 bilhões) foram investidos entre 2005 e 2011. Sendo, por exemplo, 25% correspondentes ao setor industrial, 18,5% ao petróleo e gás e 10,9% a mineração.

Projeção

A projeção de investimentos, não incluídos neste estoque, conta, por exemplo, com a instalação de uma fábrica do Grupo Moura, de baterias, com US$ 30 milhões até 2015, conforme anúncio realizado pela companhia no ano passado.

A empresa Randon, do setor de veículos, também informou em maio deste ano que investirá US$ 8 milhões na ampliação da sua fábrica no país até 2012.

E a Vale prevê investimentos de acima de US$ 4 bilhões no projeto de extração de potássio na província de Mendoza, que envolverá obras também nas províncias de Buenos Aires, Neuquén e de Rio Negro, com a construção de um porto e de uma ferrovia.

As operações da Vale em Mendoza tinham sido suspensas, mas foram retomadas em julho, segundo a assessoria de imprensa do governo de Mendoza. Este promete ser o maior investimento brasileiro já feito na Argentina, superando a compra realizada pela Petrobras da Perez Companc (Pecom) em 2002, com cerca de US$ 2 bilhões.

A Vale pretende vender o produto no mercado interno e no mercado brasileiro, segundo assessores do governo de Mendoza.

'Destino natural'

Na semana passada, a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, anunciou que a Camargo Correa investirá US$ 75 milhões para ampliar sua fábrica de cimento no país.

"A Camargo Correa bate recorde de produção no país. A Argentina cresceu 10,9% nos primeiros cinco meses deste ano, superando o recorde de 2010 e o cimento tem papel fundamental, ligado ao crescimento e a construção", disse a presidente ao lado de representantes da companhia.

Segundo ela, as empresas "não têm por que temer a Argentina".

Na opinião do economista Bernardo Kosacoff, ex-diretor da Cepal (Comissão Econômica para América Latina), a Argentina é um "destino natural" das empresas brasileiras que podem então exportar para outros mercados e adquirir "know-how" de companhia internacional.

Para ele, outro "fator natural" é a "complementação" desta cadeia industrial.

No caso dos automóveis fabricados na Argentina, por exemplo, eles contam com peças do Brasil e são exportados, quando prontos, para o mercado brasileiro, principalmente.

O economista Diego Giacomini, da consultoria Economia e Regiões, de Buenos Aires, observou que os custos ainda compensam para o investidor que desembarca do Brasil na Argentina.

"Os custos de energia elétrica e de gás no Brasil são seis ou sete vezes maiores do que na Argentina", disse.

Os serviços públicos privatizados passaram a receber subsídios do governo argentino pouco depois que o ex-presidente Nestor Kirchner tomou posse em 2003, reduzindo os custos das empresas e as tarifas para os consumidores.

Giacomini acha, porém, que o Brasil é "mais seguro e confiável" hoje para um investidor, já que "as regras não mudam como na Argentina".

Inflação

O empresário argentino do setor de calçados, Carlos Alberto López, que tem uma fábrica com sócios brasileiros em Buenos Aires, disse que a sociedade foi feita há dois anos, quando outras empresas brasileiras do ramo desembarcaram na Argentina. Mas hoje ele acha que apesar da desvalorização do peso, os custos já não são tão baixos devido ao aumento da inflação no país.

"Assim como meus sócios, outras fábricas de calçados vieram para vender no mercado local e daqui também exportar para o Brasil e outros mercados. Uma forma de escapar das barreiras comerciais argentinas. Mas agora a inflação está tão alta que não compensa tanto como antes", disse.

Outros setores têm aumentado a presença na Argentina, como o têxtil, em áreas de produção de algodão, como observou o embaixador do Brasil em Buenos Aires, Enio Cordeiro, durante entrevista com jornalistas brasileiros.

Neste caso, elas têm procurado principalmente a região norte do país vizinho. Para o embaixador, o comércio bilateral deverá bater este ano o recorde de cerca de US$ 40 bilhões, mesmo quando setores reclamam das barreiras comerciais argentinas e quando exportadores argentinos do setor automotivo se queixam de veículos parados na fronteira brasileira.