As 14 recessões dos últimos 150 anos - e por que a do coronavírus deve ser a 4ª pior
Nos últimos 150 anos, o mundo sofreu 14 recessões — e a causada pelo novo coronavírus deve ser a quarta pior, prevê o Banco Mundial.
Segundo a instituição, a turbulência econômica decorrente da pandemia da covid-19 só seria superada pelas crises ocorridas no início da 1ª Guerra Mundial, em 1914, na Grande Depressão, em 1930-32, e após a desmobilização de tropas após a 2ª Guerra Mundial, em 1945-46.
O Banco Mundial prevê que o PIB per capita global encolha 6,2% neste ano, mais do que o dobro do registrado na crise financeira de 2008.
De acordo com a FGV (Fundação Getúlio Vargas), o Brasil entrou em recessão no 1º trimestre de 2020, encerrando um ciclo de fraco crescimento de três anos (2017-2019). A expectativa é que a recessão atual seja curta, mas com intensidade recorde.
Mas em que anos — e por que — a economia do mundo contraiu 14 vezes? Confira a lista completa abaixo, em ordem cronológica, e entenda cada uma delas.
1) 1876 (queda de 2,1%)
A recessão de 1876 decorreu do chamado "Pânico de 1873", uma grave crise financeira que desencadeou uma depressão na Europa e América do Norte e que durou até 1879.
Suas causas são variadas, mas têm a ver, entre outros fatores, com a inflação americana, investimentos especulativos desenfreados (predominantemente em ferrovias), a desmonetização da prata na Alemanha e nos Estados Unidos e a Guerra Franco-Prussiana (1870 a 1871).
2) 1885 (queda de 0,02%)
A contração da economia global em 1885 está diretamente ligada à recessão americana que durou de 1882 a 1885.
Com 38 meses de duração, foi a terceira maior recessão dos Estados Unidos, depois apenas da Grande Depressão de 1929 e da Grande Depressão de 1873.
Em maio de 1884, o colapso de uma corretora, a Grant and Ward, provocou uma quebra generalizada no mercado de ações do país, afetando fortemente a economia americana.
3) 1893 (queda de 0,8%)
O Pânico de 1893 foi uma grave depressão econômica nos Estados Unidos, que começou em 1893 e terminou em 1897, afetando profundamente todos os setores da economia e desencadeando revoltas políticas. Pela primeira vez, o nível de desemprego nos EUA superou 10% por mais de meia década.
Vale lembrar que o período que durou de 1873 até 1879 ou 1896 (dependendo da métrica usada) foi apelidado na época de "Grande Depressão" e manteve esse nome até a Grande Depressão de 1930. Atingiu particularmente a Europa e os Estados Unidos.
Embora tenha sido um período de contração econômica e deflação generalizada, não foi tão severa quanto a turbulência financeira de 1930.
4) 1908 (queda de 3%)
O "Pânico de 1907" foi a primeira crise financeira mundial do século 20, apenas superada em gravidade pela Grande Depressão de 1930.
Essa recessão trouxe um legado importante, pois estimulou o movimento de reforma monetária que levou ao estabelecimento do Federal Reserve, o banco central americano.
Economistas argumentam que as lições do Pânico de 1907 mudaram a maneira como os banqueiros de Nova York percebiam a importância de um banco central porque o pânico se instalou principalmente entre empresas fiduciárias, instituições que competiam com os bancos por depósitos.
5) 1914 (queda de 6,7%)
A recessão de 1914 coincide com o início da 1ª Guerra Mundial. Economistas dizem que essa contração, apesar de grave, acabou ofuscada e esquecida por outra crise, a diplomática, que provocou o primeiro conflito a nível global da história.
À medida que o confronto se tornava cada vez mais iminente, o temor nos mercados globais desencadeou um enorme pânico financeiro. Os investidores, temendo que suas dívidas não fossem pagas, retiraram ações e títulos em uma corrida por dinheiro, o que, naquela altura, significou uma corrida por ouro.
A Bolsa de Valores de Londres reagiu, fechando em 31 de julho e permanecendo assim por cinco meses. Já a bolsa de valores dos EUA também fechou no mesmo dia e manteve-se inoperante por quatro meses.
Mais de 50 países experimentaram alguma forma de esgotamento de ativos ou execução bancária.
Segundo Richard Roberts, professor de História Contemporânea na Universidade King's College em Londres, "durante seis semanas, durante agosto e início de setembro, todas as bolsas de valores do mundo foram fechadas, com exceção da Nova Zelândia, Tóquio e da Bolsa de Mineração de Denver, Colorado".
6) 1917-1921 (queda de 4,4%)
A recessão de 1917 a 1921 ocorreu ao fim da 1ª Guerra Mundial, quando o mundo ainda se recuperava dos estragos causados pelo confronto.
7) 1930-1932 (queda de 17,6%)
Considerada a pior recessão econômica do sistema capitalista do século 20, a "Grande Depressão", também conhecida como "Crise de 1929", teve início em 1929 com o crash da Bolsa de Nova York.
Diversos países do mundo, inclusive o Brasil, sofreram os efeitos devastadores desse cataclismo financeiro.
O dia 24 de outubro de 1929 é considerado seu principal marco de referência, pois, naquele dia, os valores das ações na bolsa de valores de Nova York, a New York Stock Exchange, despencaram drasticamente. O crash da bolsa ficou conhecido como "Quinta-Feira Negra". Milhares de acionistas perderam tudo, da noite para o dia.
Essa quebradeira acelerou drasticamente os efeitos da recessão já existente, provocando o fechamento de empresas e indústrias e forçando demissões em massa.
8) 1938 (queda de 0,5%)
A recessão iniciada em 1937 ocorreu durante a recuperação da Grande Depressão.
Segundo o Escritório Nacional de Pesquisa Econômica dos EUA, essa contração, que durou de maio de 1937 a junho de 1938, foi a terceira pior recessão do país no século 20: o PIB real americano caiu 10%; o desemprego, que havia diminuído consideravelmente após 1933, atingiu 20% e a produção industrial contraiu 32%.
Segundo economistas, as possíveis causas dessa recessão foram uma contração no suprimento de dinheiro causada por políticas do Federal Reserve e do Departamento do Tesouro e políticas fiscais contracionistas.
9) 1945-1946 (queda de 15,4%)
A recessão de 1945-1946 resultou diretamente do pós-guerra. O conflito, que envolveu mais de 70 países, incluindo o Brasil, causou estragos drásticos na economia mundial, particularmente na Europa e nos Estados Unidos.
10) 1975 (queda de 0,8%)
A recessão de 1973-1975 ou a recessão da década de 1970 foi um período de estagnação econômica em grande parte do mundo ocidental durante a década de 1970, que pôs fim ao boom econômico que se seguiu à 2ª Guerra Mundial.
Diferentemente das recessões anteriores, foi uma "estagflação", ou seja, uma combinação de recessão com inflação alta.
Entre suas causas principais, estavam a crise do petróleo de 1973 e o colapso do Sistema de Bretton Woods de gerenciamento econômico internacional com o chamado "choque Nixon" — uma série de medidas adotadas pelo presidente americano Richard Nixon, entre elas, a de acabar unilateralmente com a convertibilidade do dólar em ouro.
11) 1982 (queda de 1,3%)
A recessão do início dos anos 80 foi uma grave recessão econômica global que afetou grande parte do mundo desenvolvido no final dos anos 70 e início dos anos 80.
Seus efeitos não foram tão duradouros nos Estados Unidos e no Japão, mas o alto desemprego continuou afetando outros países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) até pelo menos 1985.
Suas origens remontam à crise do petróleo de 1973 e a crise energética de 1979. Até então, foi a recessão mais profunda desde o pós-guerra.
12) 1991 (queda de 0,3%)
A recessão do início dos anos 90 afetou grande parte do mundo ocidental. Acredita-se que foi causada pela política monetária restritiva promulgada pelos bancos centrais principalmente em resposta a preocupações com a inflação, à perda de confiança do consumidor e das empresas como resultado do choque dos preços do petróleo em 1990, ao fim da Guerra Fria e à subsequente queda nos gastos com defesa, à crise de poupança e empréstimos e a uma queda na construção de escritórios resultante da construção excessiva nos anos 80.
13) 2009 (queda de 2,9%)
A recessão de 2009 decorreu do colapso do mercado imobiliário dos Estados Unidos por causa da crise financeira de 2007-2008 e da crise das hipotecas subprime.
Como resultado, diversas empresas e bancos tiveram que ser resgatados por governos centrais em todo o mundo.
Segundo o FMI (Fundo Monetário Internacional), foi "o colapso econômico e financeiro mais grave desde a Grande Depressão dos anos 1930".
No entanto, essa contração não foi sentida igualmente em todo o mundo. Se, por um lado, a maioria das economias desenvolvidas entrou em recessão, países emergentes, como o Brasil, sofreram um impacto proporcionalmente muito menor.
A título de comparação, em 2009, o PIB americano caiu 2,5% enquanto o brasileiro, 0,1%. No ano seguinte, o Brasil registrou um crescimento estrondoso, de 7,5%.
Naquela época, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a descrever a crise como uma "marolinha" para o Brasil.
14) 2020 (estimativa de queda de 6,2%)
Segundo o Banco Mundial, a economia global deve encolher mais de 5% devido à pandemia de covid-19. O novo vírus, originário na China, forçou a maior parte dos países a implementar fortes medidas de restrição ao movimento de pessoas. Com populações confinadas diante do temor pela saturação dos sistemas de saúde, as trocas econômicas ficaram severamente prejudicadas.
"As previsões atuais sugerem que a recessão global do coronavírus será a mais profunda desde a 2ª Guerra Mundial, com a maior parcela de economias experimentando declínios no PIB per capita desde 1870. A produção de mercados emergentes e economias em desenvolvimento (EMDEs) deverá contrair-se em 2020 pela primeira vez em pelo menos 60 anos", afirmaram os economistas Ayhan Kose e Naotaka Sugawara no blog do Banco Mundial.
Segundo eles, em 2020, "a maior proporção das economias sofrerá contrações no PIB per capita anual desde 1870. A proporção será mais de 90% maior que a proporção no auge da Grande Depressão de 1930-32".
"A recessão global da covid-19 é única em muitos aspectos. Também está associada a um enfraquecimento sem precedentes em vários indicadores da atividade global, como serviços e demanda de petróleo, além de declínios na renda per capita em todas as regiões do mundo emergente", concluem.
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