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Onda de calotes na América Latina está apenas começando

Julia Leite e Christine Jenkins

22/01/2015 15h24

(Bloomberg) -- A América Latina está se transformando em líder mundial em calotes de bonds (títulos de dívidas) corporativos.

Quatro empresas da região descumpriram pagamentos de dívidas denominadas em dólares neste mês, maior total regional no mundo e quase metade da quantidade registrada em todo o ano de 2014.

Em um sinal de que os investidores em bonds estão cada vez mais preocupados em relação à capacidade das empresas latino-americanas de quitar suas dívidas, os tomadores de empréstimos, liderados pelas operadoras de plataformas de petróleo do México, aumentaram para US$ 58 bilhões o montante de bonds da região negociados a preços sob pressão, cerca de um terço de toda a dívida dos mercados emergentes negociadas nesses níveis.

As tensões que têm feito investidores como Prudential Financial Inc. e Hartford Investment Management Co. se prepararem para mais calotes não parecem estar diminuindo. O colapso causado pelo petróleo nos preços das commodities tem sido persistente, o crescimento é fraco em economias como México e Colômbia e o maior escândalo de corrupção da história do Brasil está se propagando.

Essa situação eleva o risco de prejuízos ainda maiores para os investidores, que enfrentam, na região, os piores retornos entre os mercados emergentes neste ano.

"Haverá calotes na América Latina", disse Jennifer Gorgoll, que ajuda a gerenciar US$ 4,1 bilhões de dívidas de mercados emergentes na Neuberger Berman Group LLC, por telefone, de Atlanta, EUA. "Alguns deles são como acidentes entre trens que se movem lentamente. É preciso ser capaz de determinar quais empresas sobreviverão e quais não".

Lava Jato

Apenas três meses depois de prever que a taxa de calote dos bonds de grau especulativo da América Latina se manteria em 3,2 por cento no período de 12 meses que termina em junho, Gersan Zurita, da Moody's Investors Service, diz agora que a taxa provavelmente ficará mais próxima de 6 por cento após a ampliação da investigação de corrupção no Brasil e da queda dos preços do petróleo.

As agências de classificação preveem uma taxa de calote dos bonds de grau especulativo de 2,7 por cento em 2015 para tomadores de empréstimos corporativos em todo o mundo, segundo um relatório de 16 de janeiro.

A OAS SA, uma das 23 construtoras proibidas de participar de licitações da Petrobras em um momento em que os investigadores brasileiros apuram a existência de um suposto cartel formado para ganhar contratos públicos, suspendeu no dia 2 de janeiro os pagamentos de alguns de seus bonds em dólares. Os US$ 875 milhões em notas da empresa com vencimento em 2019 agora são negociados a menos de 18 centavos de dólar, uma queda de 49 por cento apenas neste ano.

"Nós esperávamos um 2015 muito difícil no Brasil e acreditamos agora que será ainda pior", disse Zurita, vice-presidente sênior da Moody's, por telefone, de São Paulo. "Não se trata apenas da situação da Lava Jato no Brasil. São os preços muito baixos do petróleo, o que afeta a Venezuela, e pode ser que vejamos também calotes no setor do petróleo em outras partes da região. Provavelmente teremos mais calotes neste ano do que teríamos normalmente".

Os investidores em bonds corporativos latino-americanos já perderam 0,7 por cento em 2015, principalmente devido aos declínios das dívidas brasileiras e colombianas.

A produtora de açúcar brasileira Grupo Virgolino de Oliveira SA descumpriu um pagamento de bond no dia 13 de janeiro depois que os preços do produto mergulharam 12 por cento em 2014.

Após uma queda de 29 por cento nos preços do ouro nos últimos dois anos, a Gran Colombia Gold disse no dia 9 de janeiro que não pôde pagar os juros de duas notas em dólares. A Newland International Properties Corp., que construiu um hotel com a marca Donald Trump e um complexo de apartamentos no Panamá, não honrou um pagamento de bonds apenas 18 meses após a emissão das notas.

Esses prejuízos provavelmente se multiplicarão devido ao prejuízo causado pelo colapso do petróleo e pelos preços de outras commodities ao crescimento econômico da região, disse Josephine Shea, codiretora de dívidas de mercados emergentes da Hartford Investment Management, que gerencia cerca de US$ 111 bilhões em ativos.