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'Só vamos investir se as reformas saírem', diz fundador da Cosan

Regis Filho/Valor
Imagem: Regis Filho/Valor

09/05/2017 14h16

O empresário Rubens Ometto Silveira Mello, fundador do grupo Cosan, que atua em áreas de distribuição de combustíveis, usinas sucroalcooleiras a logística, está otimista em relação à economia. Ometto diz que o presidente Michel Temer fez importantes mudanças desde que assumiu, como o encaminhamento e aprovação de importantes reformas.

Para Mello, a aprovação das reformas é essencial para atrair investimentos. "Só vamos investir no País, se todas as reformas forem aprovadas."

Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista.

O sr. vê sinais de recuperação da economia?

Vejo que o Brasil está melhorando. (O presidente Michel) Temer está fazendo um excelente trabalho. O fato de ele dizer que não é candidato permite não fazer um governo populista. Ele está querendo deixar como legado as reformas e fazer o que precisa ser feito. Já aprovou o teto dos gastos, está conduzindo as reformas trabalhista e da Previdência. Depois, virá a política e a tributária. Com isso, fará com que a inflação caia e que o país acabe com deficit fiscal. A inflação caindo, tem reflexo nos juros e aumenta a credibilidade do Brasil e volta a gerar emprego.

Mas já há ambiente para criar emprego?

Se o país voltar a crescer, claro que há. Arriscaria dizer que, se Temer não conseguir fazer as reformas, não vai mais ter reforma. Ele é do ninho político. Ele tem condição de convencer (os políticos) e entender as demandas. Até agora está (convencendo). Temos de apoiá-lo porque é fundamental para o país. E, se não for aprovado, estamos entre o céu e inferno. Tem de ter um patriotismo em favor de um bem maior e essas reformas consolidam isso.

Quais são as prioritárias?

Todas. O Brasil precisa se modernizar. Por que existe a corrupção? Porque você tem um Estado fortemente empresário. Se você tira o governo da posição de empresário, não tem corrupção. Se tem corrupção na minha empresa, eu combato. Se é uma empresa do governo, não tem ninguém olhando isso com interesse macro. Se tirar o governo como empresário, a corrupção diminui.

Havia no governo anterior uma relação promíscua entre o setor privado e público?

No governo petista piorou muito. Mas qualquer governo que tenha o Estado como empresário, o convite à corrupção é muito grande.

Como combater isso?

Sistema de gestão com meritocracia. Qual o estímulo que tem uma pessoa que é funcionária pública e não pode ser mandada embora? Se não tem dono, não tem gente em cima preocupada em fazer uma gestão saudável e dar o máximo do rendimento. Isso gera um prejuízo enorme.

O prefeito João Doria ganhou a eleição com esse discurso. O sr. acha que falta um pouco desse gestor no governo federal?

Acho. O Doria é um caso específico. Tem de fazer com que isso seja generalizado. Surgirão outros expoentes como ele.

Mas há forte resistência dos servidores públicos para aprovar a reforma da Previdência. O governo tem de endurecer?

Acho. Tem que ser duro o suficiente até conseguir aprovar. O ótimo é o inimigo do bom.

O que compete ao governo exatamente?

O setor público tem de se concentrar em saúde, educação e defesa. Não deve se meter na parte econômica, fazendo intervenção com política artificial de preços. Não se controla a inflação intervindo na economia. Já se tem as agências reguladoras. Vamos muito a Brasília pedir autorização. Isso leva você a supervalorizar o funcionário público. O nível de corrupção é elevado com a participação enorme do Estado na economia, com o excesso de regras.

Como o sr. vê o cenário econômico e político para 2018? Novas lideranças vão aparecer?

Novas lideranças sempre aparecem.

O sr. tem ambição política?

Não. Nem para cargos.

A imagem do empresariado ficou arranhada com a Lava Jato?

O empresário é sempre visto como bandido. É injusto. Única novela que eu vi que o empresário era bom foi em Pecado Capital (de Janete Clair), com o personagem de Lima Duarte (Salviano Lisboa).

Qual o legado da Lava Jato?

Vai haver renovação grande. E é muito saudável. Muda a maneira de fazer negócio entre público e privado.

A crise deixou os ativos baratos e atraiu investidores estrangeiros. Como vê esse movimento?

Não me preocupo. Tenho expertise, sei o que vou fazer, sei o que eles vão fazer. Confio na minha competência, eu já vi esse filme várias vezes. Nossa sociedade com a Shell foi bem-sucedida porque aliamos a expertise tecnológica da Shell e estamos do lado do negócio. O olho do dono engorda o rebanho. Investidores estrangeiros são bem-vindos.

Os futuros investimentos da Cosan estão ligados ao cenário político e econômico?

Se as reformas não forem aprovadas, eu não tenho interesse nenhum em fazer investimentos no Brasil.

Tem algum investimento congelado na Cosan?

A gente nunca para (de investir). Tem muita coisa rolando. Mas a gente poderia ser muito mais agressivo.

Há interesse da Cosan em investir na Ferrogrão e em outros setores?

Interessa sim (a Ferrogrão, ferrovia que ligará a região Centro-Oeste ao Norte do País). Faz sentido ao nosso negócio. Mas não tem nada em curso. O projeto ainda está muito cru. A Cosan sempre analisa oportunidades nas áreas onde atua.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.