Mulheres e servidores com filhos pequenos são mais impactados no teletrabalho
Os dados são mais um retrato do desafio de mulheres e pais de crianças menores conciliar as atividades, num momento em que o teletrabalho se tornou peça-chave para muitas empresas e o próprio serviço público para seguir funcionando na pandemia da covid-19.
A pesquisa ouviu 16.765 mulheres, 15.586 homens e 33 servidores que não se identificaram com nenhum dos dois gêneros (como é o caso de transgêneros, por exemplo). De acordo com os dados, as mulheres relataram que cerca de 26 minutos são improdutivos a cada hora trabalhada, mais que o dobro dos homens (12 minutos a cada hora trabalhada). Entre quem não se identificou como nenhum dos dois, a perda é de quase 44 minutos por hora.
Não é de hoje que as pesquisas mostram uma sobrecarga maior de afazeres domésticos sobre mulheres. Embora o número de homens que dedicam parte de seu tempo a essas tarefas esteja aumentando ano a ano, a disparidade ainda existe. Em 2019, eles gastaram em média 11 horas por semana com esses afazeres, incluindo o cuidado com crianças e idosos, enquanto as mulheres gastaram uma média de 21,4 horas semanais, segundo o IBGE. A diferença existe mesmo quando ambos estão empregados - ou seja, a maior parte da dupla jornada fica com a mulher.
A perda de produtividade no serviço público também foi maior entre funcionários com filhos até 5 anos. O trabalho produtivo sofreu um impacto de 42 minutos improdutivos a cada hora trabalhada, contra uma redução de 16 minutos entre os que não têm filhos dessa idade. Nas demais faixas etárias, a diferença de efeito de perda de horas produtivas entre quem tem ou não filho foi menor.
Apesar dos percalços, grande parte dos servidores declarou desejo e disposição em equilibrar as horas de trabalho no escritório e em casa. Antes da covid-19, quase 75% das horas eram trabalhadas na sede do órgão de lotação do funcionário, e menos de 20% em casa. Na visão ideal no pós-covid, os servidores gostariam de dedicar 48,38% das horas em casa e 44,20% no escritório.
De forma geral, a pesquisa aponta entre os principais desafios no trabalho remoto as distrações que existem em casa, a falta de interação com colegas, os problemas tecnológicos enfrentados e a falta de delimitação da fronteira entre vida pessoal e profissional.
"No contexto de pandemia, com a necessidade do distanciamento social, foi preciso adotar de maneira emergencial o trabalho remoto. E a pesquisa de Duke nos trouxe dados muito importantes dessa fase, que vão balizar as diretrizes do trabalho remoto e subsidiar a construção de novas políticas públicas de gestão de pessoas no serviço público", ressalta o Secretário de Gestão e Desempenho de Pessoal do Ministério da Economia, Wagner Lenhart.
Sobre a percepção geral do teletrabalho, a resposta mais frequente dos servidores é a de que eles se saem melhor quando os supervisores acreditam neles. "Como é difícil monitorar o trabalho remoto, a confiança se torna um fator muito importante para a produtividade profissional", afirma o coordenador-geral de pesquisa da Enap, Cláudio Shikida.
O governo já tem dado sinais de que o teletrabalho será adotado como política permanente em determinados segmentos do setor público, e a pesquisa - cujos resultados ainda são preliminares - ajudarão na formulação dessa estratégia. Os questionários foram respondidos online pelos servidores.
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