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Três anos após quebra do Lehman Brothers, crise ainda ronda o mundo

Maria Carolina Abe

Do UOL Economia, em São Paulo

15/09/2011 06h00

Foi uma manhã de segunda-feira, a poucos dias da chegada do outono boreal, que chocou o mundo há três anos. Em 15 de setembro de 2008, o respeitado banco Lehman Brothers decretou falência após 158 anos de existência --e de um fim de semana de discussões entre o alto escalão financeiro dos EUA.

O evento disparou um gatilho e acabou tornando-se o marco do agravamento da crise financeira internacional, que repercute até os dias de hoje.

No dia 12 de setembro de 2008, sexta-feira, as ações do Lehman caíram 13,5% na Bolsa de Nova York. Era o quarto maior banco dos Estados Unidos, com 25 mil funcionários e ativos em 84 países.

Cientes de um possível efeito dominó, banqueiros e reguladores foram chamados às pressas para uma reunião no banco central de Nova York. Eles tinham menos de 72 horas para encontrar uma solução para o Lehman, antes que os mercados abrissem na segunda-feira.

Participaram Hank Paulson, então secretário do Tesouro americano, Ben Bernanke, presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), e Timothy Geithner, então presidente do Fed de Nova York.

As negociações terminaram pouco depois da 1h da manhã de segunda. O veredito: permitir a falência do banco. Alegaram não ter poder, nem recursos, para bancar o resgate do gigante financeiro. Imediatamente, o Lehman pediu concordata no tribunal de Nova York.

O dia seguinte

Tentando tranquilizar a população, o então presidente dos EUA, George W. Bush, se disse confiante na flexibilidade e na resistência dos mercados financeiros e em sua faculdade de enfrentar esses ajustes.

Mas o céu não foi de brigadeiro. Com mais de US$ 600 bilhões em ativos ao redor do mundo e derivativos com um valor nominal de trilhões de dólares, o Lehman estava conectado a todo o sistema financeiro global.

A quebra levou a uma parada quase fatal nos mercados de capital mundiais, forçou governos a injetarem trilhões de dólares no sistema financeiro e mudou permanentemente o setor bancário. Com poucas exceções, os mercados de ações, títulos e dinheiro despencaram ao redor do mundo.

Será que o governo dos EUA deveria ter salvado o Lehman Brothers?

Alguns economistas acham que o governo dos EUA agiu corretamente ao deixar o Lehman Brothers quebrar.

"Algumas linhas de pensamento defendem que, pelo capitalismo, os empresários devem pagar por suas decisões erradas, e não transferir seus problemas para o Estado", diz Daniel Miraglia, consultor-sócio da eyesonfuture e professor da Business School São Paulo.

Depois da derrocada do Lehman, o governo dos EUA e de países da Europa passaram a resgatar bancos em situação de risco. E, graças a isso, gerou-se o forte endividamento dos Estados e a crise econômica atual.

"Será que não deveriam ter deixado mais gente quebrar, para não chegarmos à crise em que estamos hoje?", questiona Miraglia. Segundo ele, os efeitos poderiam ter sido mais drásticos naquele momento, mas o mundo não enfrentaria a crise atual --menos intensa, mas mais duradoura.

Por que o Lehman Brothers quebrou?

No auge da bolha imobiliária dos EUA, o Lehman Brothers tinha investido fortemente em títulos ligados ao mercado do chamado "subprime", o crédito imobiliário para pessoas consideradas com alto risco de inadimplência. Com isso, era inevitável que aumentasse a desconfiança dos investidores em relação ao banco, avaliam analistas.

Com essa desconfiança, mais uma dependência excessiva em fundos de curto prazo, houve uma queda no valor das ações da empresa. Também fracassaram negociações para levantar bilhões de dólares para dar garantia de solidez aos investidores.

Finalmente, em 2010, um relatório ainda revelou que executivos do Lehman Brothers teriam "maquiado" a situação real das contas do banco antes de pedir concordata.

O Lehman Brothers viu o valor de sua ação encolher de US$ 82 para menos de US$ 4, uma queda de 95%.

Os negócios foram adquiridos por um valor relativamente pequeno pelo Barclays, nos Estados Unidos, e pelo Nomura, na Europa e na Ásia.

(Com informações de France Presse, Valor e Reuters)