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Estudo surpreende e mostra que Bolsa ganha no curto prazo e perde no longo

Do UOL, em São Paulo

18/07/2012 06h00

Diferentemente do que a maioria dos analistas econômicos defende, a Bolsa de Valores no Brasil não tem sido uma boa aplicação de longo prazo, mas sim de curto, em comparação com os investimentos de renda fixa. A conclusão é de um levantamento inédito feito pelo economista e blogueiro do UOL Samy Dana, professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas) de São Paulo.

O estudo foi feito com base em 38.499 simulações de investimentos considerando-se os 18 anos de existência do Plano Real, ou seja, de julho de 1994 a junho de 2012.

Foram comparados o Índice Ibovespa (que reúne as principais ações negociadas na BM&F Bovespa) e os rendimentos médios de CDIs (Certificados de Depósitos Interbancários) segundo dados da Economatica.

VALOR OBTIDO EM CADA TIPO DE INVESTIMENTO
(Considerando-se uma aplicação inicial de R$ 100)

DATA DA APLICAÇÃODATA DA RETIRADA BOLSA RENDA FIXA
04/07/199429/06/2012R$ 1.470,40R$ 2.863,75
29/06/199529/06/2012R$ 1.431,54R$ 1.763,22
29/06/200229/06/2012R$ 472,68R$ 380,17
29/06/199929/06/2012R$ 462,71R$ 621,72
29/06/199729/06/2012R$ 412,73R$ 1.033,84
29/06/200329/06/2012R$ 404,27R$ 310,57
29/06/200429/06/2012R$ 253,13R$ 261,69
29/06/200629/06/2012R$ 144,31R$ 188,95
29/06/200929/06/2012R$ 100,99R$ 133,68
29/06/201129/06/2012R$ 84,47R$ 110,68
  • Fonte: Samy Dana/FGV-SP

Os CDIs são títulos de renda fixa emitidos pelos bancos, e sua remuneração costuma acompanhar a da Selic (taxa básica de juros). Apesar de os CDIs não serem vendidos diretamente para a pessoa física, eles servem de referência para remunerar aplicações como os CDBs (Certificados de Depósitos Bancários). Os grandes bancos costumam pagar, pelo CDB, cerca de 90% da remuneração do CDI.

A análise considerou o rendimento nominal das aplicações, ou seja, sem descontar a inflação.

Bolsa ganha apenas no curto prazo

No estudo, para um investimento pelo período de dez anos, por exemplo, consideraram-se aplicações realizadas no dia 1º de julho de 1994 até 31 de junho de 2004. Depois, aplicações feitas entre 2 de julho de 1994 até 1º de julho de 2004. E assim seguiram-se os prazos de dez anos, até junho deste ano.

No total, nesse caso específico, foram feitas 1.995 simulações. Foram calculados, então, os retornos obtidos pelos investidores e calculadas as vezes em que a Bolsa rendeu mais do que a renda fixa.

COMPARE O DESEMPENHHO DA BOLSA E DA RENDA FIXA

PERÍODO
(EM ANOS)
% DE VITÓRIAS
DA BOLSA*
% DE VITÓRIAS
DA RENDA FIXA**
152,47%47,53%
252,66%47,34%
346,55%53,45%
445,11%54,89%
548,08%51,92%
644,92%55,08%
749,84%50,16%
847,90%52,10%
946,19%53,81%
1045,11%54,89%
1143,66%56,34%
1238,94%60,16%
1332,36%67,64%
1440,93%59,07%
1544,22%55,78%
1617,60%82,40%
1714,72%85,28%
  • * Percentual de simulações em que a Bolsa teve rendimento maior
  • ** Percentual de simulações em que a renda fixa teve rendimento maior
  • Fonte: Samy Dana, professor da FGV-SP

Nas simulações para investimentos de dez anos, a Bolsa ganhou 45,11% das vezes. A renda fixa saiu-se melhor em 54,80% das vezes.

Essa conclusão de repete na maior parte do estudo. A Bolsa perdeu na maioria das vezes considerando-se também os outros prazos de investimentos. Apenas quando foram considerados os prazos de um ou dois anos ela se saiu melhor do que na renda fixa.

Nos prazos entre três anos até 17 anos, a Bolsa sempre perdeu para o CDI.

Na prática, quem investiu, por exemplo, R$ 100 na Bolsa em 4 de julho de 1994 tinha, em 29 de junho de 2012 (última data considerada no estudo), R$ 1.470.

Quem investiu o mesmo dinheiro, pelo mesmo período, em CDI tinha, ao final, R$ 2.863, ou quase duas vezes mais.

"Defensores do mercado de ações podem argumentar que essa magra margem de vitória, para horizontes de um e dois anos, indica que a Bolsa é um bom investimento. Mas, se considerarmos que a Bolsa é muito mais arriscada que a renda fixa, essa margem deveria muito maior para compensar o risco", diz Samy Dana. "Mesmo sendo menos arriscado, a renda fixa apresentou um excelente desempenho."

Para o economista, o investimento na Bolsa, no Brasil, ainda não é tão interessante quanto parece.

"Ninguém pode garantir o futuro, mas o fato é que, no Brasil, a Bolsa foi um péssimo investimento, não conseguindo bater nem a renda fixa de risco mínimo", conclui.

Apesar do resultado do estudo, analistas consultados pelo UOL consideram que a Bolsa é um bom investimento de longo prazo, e o passado não pode determinar o futuro.