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Ganância e imitação podem levar a armadilhas financeiras; entenda

Aiana Freitas

Do UOL, em São Paulo

02/08/2013 06h00

Um amigo convida você para se associar a um negócio. Vendendo um produto inovador, você terá um retorno extremamente vantajoso em pouco tempo. Assim como outras pessoas que se associaram àquela empresa, terá condições de comprar um carro novo, talvez até uma casa. Melhor: poderá se aposentar antes de chegar aos 40 anos.

É difícil recusar uma proposta como essa. Mas promessas de ganho fácil, sobretudo se feitas por pessoas conhecidas, podem ser o caminho para muitos problemas. A formação de bolhas e a participação em pirâmides financeiras são alguns dos resultados a que se pode chegar com atitudes assim.

"Um dos elementos que sustentam esquemas assim é a ganância, a busca por uma recompensa grande por meio de um esforço pequeno. Mas o principal motivo é o comportamento de manada, que nos leva a imitar os outros. No cenário evolutivo, isso funciona bem. O homem precisa, por exemplo, aprender a buscar sua própria comida, como os outros fazem. Já no mercado financeiro, isso dá margem a problemas", diz Daniel Martins, psiquiatra do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas.

Pirâmides e bolhas financeiras

Numa pirâmide financeira, uma empresa procura pessoas que não só vendam seus produtos, mas também, e principalmente, recrutem novos associados. O maior ganho de quem entra num esquema assim vem justamente desse recrutamento.

O esquema é ilegal e, geralmente, beneficia somente quem entrou primeiro e conseguiu levar outras pessoas para a empresa. Como a venda do produto em si não é o foco, em algum momento é natural que parem de entrar novos associados. Assim, quem aderiu por último não consegue garantir seu ganho.

As bolhas financeiras, por outro lado, não são ilegais. Porém, elas também se formam porque uma pessoa quis levar vantagem, comprando um produto que ela sabe que está caro porque teme que, no futuro, o preço possa subir ainda mais.

Se muita gente compra esse produto a um preço alto (podem ser imóveis ou ações de uma empresa, por exemplo), isso faz com que os valores continuem subindo, formando a bolha. Quando os investidores mais experientes percebem que os valores estão irreais para o mercado, eles começam a vender seus produtos, o que causa a queda de preços e o "estouro" da bolha.

"Nosso cérebro é espelhado no comportamento do outro, sobretudo se o outro é amigo ou conhecido. Essa atitude é mais forte quando não se entende exatamente o que está sendo vendido. A pessoa vê vantagens naquele negócio, mas não conhece o assunto a fundo", diz o psiquiatra Daniel Martins.

Cuidados podem evitar armadilhas

Controlar esses comportamentos nem sempre é fácil, até porque, muitas vezes, as pessoas não percebem que estão agindo por esse tipo de impulso. Alguns cuidados, porém, podem evitar que o consumidor caia em armadilhas assim.

"Se você está achando o preço de um produto abusivo, não compre só porque acha que amanhã ele vai ficar mais caro. Uma hora essa lógica vai se romper", diz o economista Samy Dana, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV). Uma atitude como essa evita a formação de uma bolha de preços que, fatalmente, vai acabar lá na frente.

Para saber se está caindo num esquema de pirâmide financeira, é fundamental descobrir quem são os clientes finais daquela empresa, e não só os associados.

"É preciso procurar conhecer quem são as pessoas que estão consumindo aquele produto. Num esquema de pirâmide, geralmente o produto é inviável porque é inútil, ineficiente ou tem um preço totalmente fora do mercado", afirma Samy Dana.