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Com escassez de produtos na Venezuela, preço da camisinha passa de R$ 2.000

Do UOL, em São Paulo

04/02/2015 17h08

Além de encarar filas gigantescas para comprar produtos de primeira necessidade, como carne, açúcar e remédios, os venezuelanos estão enfrentando também a escassez de outro produto: um pacote com 36 camisinhas, difíceis de encontrar no país, chega a custar até 4.760 bolívares (R$ 2.035,38), segundo informações do site de notícias norte-americano Bloomberg Business. Quer dizer que cada camisinha custa cerca de R$ 57.

"Agora precisamos esperar na fila até para fazer sexo", disse Jonatan Montilla, 31, diretor de arte de uma empresa de publicidade.

A queda no preço do petróleo internacional aprofundou a escassez de produtos na Venezuela, cujas exportações de petróleo respondem por cerca de 95% dos ganhos com moeda estrangeira. 

Como o valor que o país recebe pelas exportações caiu quase 60% nos últimos sete meses, os importadores têm menos dólares para trazer produtos do exterior. Quase todos os bens de consumo do país são importados.

A Venezuela tem a terceira maior taxa per capita de infectados pelo vírus HIV na América do Sul, atrás do Paraguai e do Brasil, de acordo com dados da ONU (Organização das Nações Unidas) de 2013.

Escassez ameaça prevenção de HIV 

"Sem camisinhas não podemos fazer nada", disse Jhonatan Rodriguez, diretor da ONG StopHIV. "Essa escassez ameaça todos os programas de prevenção em que trabalhamos por todo o país."

O país também tem uma das mais altas taxas de gravidez na adolescência do continente, atrás da Guiana, segundo o Banco Mundial.

Na Venezuela, onde o aborto é ilegal, a falta de contraceptivos vai aumentar o número de mortes de mulheres devido ao aumento da procura por clínicas de aborto clandestino, disse o ginecologista Carlos Cabrera, vice-presidente para a Venezuela da ONG inglesa International Planned Parenthood Federation (federação internacional para o planejamento familiar, na sigla em inglês).

A falta de camisinhas também pode ter um impacto econômico duradouro, na medida em que adolescentes e jovens abandonarem a escola e o trabalho para cuidar dos filhos.

"Uma gravidez indesejada na adolescência é uma marca da falha do governo: falha na economia, na saúde pública e na política educacional", disse Cabrera.

Preço da camisinha é quase o valor do salário mínimo

No site MercadoLibre (versão venezuelana do MercadoLivre), usado pelos venezuelanos para conseguir produtos escassos, um pacote de 36 camisinhas da marca Trojans custa 4.760 bolívares (R$ 2.035,38). É quase o salário mínimo do país, hoje em 5.600 bolívares (R$ 2.394,56). No mercado negro, usado por quem tem dólares, o preço é de US$ 25 (R$ 68,69).

O desaparecimento de camisinhas e outros contraceptivos das farmácias e clínicas começou no final de dezembro, de acordo com a Federação Farmacêutica Venezuelana. Não havia nenhuma camisinha à venda em todas as dez farmácias visitadas pela reportagem da Bloomberg na capital, Caracas. Em novembro, havia mais de 20 tipos de camisinhas disponíveis nelas.

Protestos contra o presidente Nicolás Maduro contra a escassez de produtos, a inflação e a criminalidade deixaram 43 pessoas mortas no ano passado.

Segundo a Bloomberg, o Ministério da Saúde da Venezuela não respondeu aos pedidos de entrevista.

(Com Bloomberg)