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Produção de parmesão pirata é mais que o dobro da do legítimo italiano

Patrícia Araújo

Do UOL, em Roma

02/04/2015 06h00

Um dos maiores símbolos da gastronomia italiana, o parmesão, enfrenta uma crise sem precedentes em sua história de mais de 800 anos. Em 2014, a produção de falso parmesão no mundo foi mais que o dobro da do legítimo italiano.

O parmesão autêntico teve 133 mil toneladas, enquanto o considerado falso apresentou produção de 300 mil toneladas. Segundo os italianos, esse queijo nada tem a ver com a origem do produto criado no período medieval na região de Parma, norte da Itália.

Pela legislação em vigor na União Europeia desde 2008, para poder se chamar parmesão o queijo de tipo grana precisa ser fabricado em uma região específica constituída pelas províncias de Parma, Reggio Emília, Modena, Mantova e Bolonha e seguir uma série de determinações que incluem o uso de apenas matéria-prima local. 



A pirataria, como os produtores italianos chamam o fenômeno, tem abalado um mercado que movimenta cerca de 2 bilhões de euros ao ano (R$ 6,8 bilhões). Essa cifra dobra se for levada em consideração a produção de grana padano, queijo similar ao parmesão e que também sofre com as falsificações.

A denúncia faz parte de relatório divulgado pela Confederação dos Empreendedores Agrícolas da Itália (Coldiretti) neste mês. Segundo a instituição, o crescimento da pirataria provocou uma queda no valor das exportações do queijo no ano passado.

A situação mais grave foi registrada no comércio com os Estados Unidos, onde o faturamento das exportações italianas caiu 10% em comparação com 2013, chegando a menos de 100 milhões de euros (R$ 342 milhões).

Para a confederação, o problema é considerado gravíssimo porque, além das "profundas consequências econômicas", é difícil de ser eliminado, uma vez que é registrado em vários países.

"Justamente os Estados Unidos são os principais responsáveis. Eles fazem a metade [da produção pirata], e o Estado de Wisconsin é aquele que pirateia mais. Mas outros países também fazem suas falsificações. O Brasil, com o seu parmesão, a Argentina com o reggianito, a Alemanha com o parmesan", conta Giorgio Apostoli, responsável pelo setor de zootecnia da Coldiretti.

Uma em cada quatro empresas fechou em oito anos

Em oito anos, uma em cada quatro empresas envolvidas na cadeia de produção do parmesão fechou as portas e milhares de postos de trabalho foram extintos. Só entre os anos de 2012 e 2014, 400 fazendas de gado, de um total de 3.400 que forneciam o leite para a produção específica do queijo, desapareceram.

Riccardo Deserti, diretor do Consórcio do Queijo Parmigiano Reggiano, responsável pelo controle do produto, diz que o setor reivindica que o consumidor de outros países saiba que está comprando um produto local, e não um italiano.

Responsável pelo setor agroalimentar da ICE (Agência para a Promoção no Exterior das Empresas Italianas), Roberto Lovato conta que, enquanto não são fechados acordos bilaterais que possibilitem a proteção da denominação de origem dos produtos italianos e o fim da pirataria, a instituição investe em campanhas de conscientização. 

"Nós organizamos diversas campanhas de informação aos consumidores. No nosso plano de 2015, há atividades de esclarecimento ao redor do mundo".

Atualmente, 34% da produção de parmesão (cerca de 44.900 toneladas) é destinada à exportação e o restante permanece no mercado italiano. Os principais importadores do queijo são Alemanha (com 7.558 toneladas), França (7.372 toneladas) e EUA (7.210 toneladas).

O Brasil está fora do ranking dos 15 maiores importadores, com um volume médio de importação de 150 toneladas de parmiggiano reggiano ao ano.

Associação brasileira diz que segue regras do Mercosul

Questionada sobre a situação do parmesão no país, a Abiq (Associação Brasileira das Indústrias de Queijo) informou que a produção no Brasil segue as determinações do Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade.

Ainda segundo a associação, a designação genérica “parmesão” é regulamentada  no Mercosul por portaria de 1997, que se refere a queijos de quatro a oito quilos, com pelo menos seis meses de maturação.

"O Brasil é ainda signatário do Trips [Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio], que estabelece que, se um país quer que se respeite uma propriedade intelectual sua, precisa registrá-la no INPI [Instituto Nacional da Propriedade Industrial].  Caso não registre, e o outro país use este nome ou marca por mais de cinco anos, passa a ter direito de usá-la. É o caso do parmesão", afirma Silmara Figueiredo, responsável pelo setor de Marketing da Abiq.