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Aéreas tradicionais cobram mais e vão perdendo para as de baixo custo

5.out.2015 - Executivo da Air France é escoltado após ser agredido por funcionários Imagem: Jacky Naegelen/Reuters

Philippe Escande

Le Monde

08/10/2015 06h00

Nada mais tem dado certo para a Air France. A violência que interrompeu bruscamente a reunião do comitê central da empresa, na segunda-feira (5), revela um clima social especialmente deteriorado. Mas isso não é novidade. A história do transporte aéreo é pontuada por conflitos que sempre giraram em torno das complexas relações entre pilotos e a direção das empresas.

A alemã Lufthansa está em sua 13ª greve de pilotos desde abril de 2014. A British Airways e sua filial Iberia também passaram por violentos conflitos antes de conseguirem um aumento de produtividade de 20% dos pilotos da Iberia.

Lobby dos pilotos

O caso da Air France, portanto, não é algo isolado. O poder dos pilotos reside no temor que todos os governos têm de que o país pare, assim como acontece com os táxis.

A exemplo de suas concorrentes, a direção da Air France tentou apelar para a discórdia entre os pilotos com seus opulentos salários e a equipe de solo. A tática, por enquanto, fracassou.

Concorrência x preços

Pois é fato. O transporte aéreo está no centro de uma revolução considerável em um setor que, por definição, é bem mais sensível à globalização do que o trem ou o automóvel. Isso teve um efeito positivo, com o crescimento fenomenal do tráfego, de 1 bilhão de passageiros, em 1990, para 3,5 bilhões neste ano, e uma consequência negativa: a chegada de novos concorrentes.

Estes estabeleceram novas normas em matéria de preços, proporcionais à sua estrutura de custo, que é bem mais leve. Um assento em classe econômica custa cerca de duas vezes mais na Air France do que na EasyJet, e como o preço do bilhete deve se alinhar, são as perdas que fazem a diferença.

Sem contar as companhias do Golfo, que ficaram com a nata das viagens de companhias europeias nos voos de longa distância.

A hora da verdade se aproxima

As companhias tradicionais demoraram para reagir. Swissair, Sabena, Iberia e Alitalia desapareceram ou perderam sua independência na Europa. Assim, a hora da verdade se aproxima para a Air France.

Seus resultados estão nitidamente em defasagem em relação às suas duas últimas concorrentes europeias, IAG (British Airways-Iberia) e  Lufthansa. Só no primeiro semestre deste ano, a Air France-KLM teve perdas de 232 milhões de euros (R$ 990 milhões), contra um lucro de quase 550 milhões de euros no caso da britânica e quase o mesmo montante no caso da alemã.

A dívida vai crescendo e a crise de liquidez começa a emergir, impedindo que a companhia tenha um ano excepcional no transporte aéreo. Cortar custos com pessoal, que representa um terço dos gastos, torna-se inevitável.

A redução na frota e as demissões que a acompanham é a pior das soluções, tanto do ponto de vista social, pois leva à supressão de postos, quanto do ponto de vista comercial, pois insere a empresa na espiral do declínio. Todos os atores sabem disso, e é por isso que estamos só no começo de uma queda de braço que decidirá sobre a própria existência da bandeira francesa no cenário mundial.

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