Economista que criou Bolsa Família critica auxílio emergencial: 'Péssimo'
Do UOL, em São Paulo
30/05/2021 10h26Atualizada em 31/05/2021 10h49
O economista Ricardo Paes de Barros, um dos mentores da criação do Bolsa Família no Brasil em 2004, criticou a maneira como o auxílio emergencial de 2020 foi criado no país. Em entrevista à revista Exame, Barros classificou o benefício como "péssimo".
"Tem coisas que são muito bem boladas, como o programa de redução da jornada e da renda, o BEm. O auxílio emergencial é péssimo", declarou à revista.
"Obviamente precisava ter um auxílio emergencial. Mas não deveria ser decidido de forma centralizada quem vai receber o auxílio. Isso deveria ser descentralizado o máximo possível. Deveríamos trabalhar com cotas, que poderiam ser por municípios, e deixar cada município se organizar com as suas comunidades para descobrir quem são as pessoas que mais necessitam", afirmou.
Barros ainda criticou a maneira como a pandemia foi gerenciada no país e disse que há o risco de transformá-la em algo "crônico".
Deveríamos ter feito como outros países, que adotaram um distanciamento social mais duro e uma paralisação econômica planejada por três semanas, com transferência de renda, com a intenção de controlar a pandemia. Corremos o risco de transformar a pandemia em algo crônico."
Ele ainda acrescentou que um tratamento mais profundo causaria menos detrimento para a economia. "Esse mecanismo arrastado de muitos meses é pior particularmente para os mais pobres", afirmou à publicação.
O economista diz acreditar que seria possível "cuidar melhor dos mais pobres" se a freada na pandemia tivesse acontecido em "um ou dois meses". "Mas por dois anos, não dá para fazer isso. O erro é arrastar o enfrentamento da pandemia."
Na entrevista à Exame, ele ainda defendeu que não há apenas perdas na economia, mas também na educação. "São 35 milhões de crianças fora da escola, o ano inteiro. O potencial de aprendizado que está sendo perdido é gigantesco."