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Empresas que "preveem" futuro indicam economia melhor mesmo com pandemia

Indicadores antecedentes e setores da indústria ajudam a prever desempenho da economia - iStockphoto
Indicadores antecedentes e setores da indústria ajudam a prever desempenho da economia Imagem: iStockphoto

João José Oliveira

Do UOL, em São Paulo

30/05/2021 04h00

Resumo da notícia

  • Indicadores antecedentes mostram reação da economia brasileira apesar de 2ª onda da covid-19 no 1º trimestre
  • Veja o que são indicadores antecedentes e como podem antecipar o futuro da economia
  • Apesar de indicadores antecedentes positivos, empresários dizem que pandemia e desemprego podem abortar retomada

A economia do Brasil vai melhorar no segundo semestre, e o PIB deve subir de 4,4% a 5,9% neste ano, apesar das idas e vindas da covid-19. É o que dizem empresários e economistas que trabalham com empresas capazes de "prever" o futuro da economia.

São os chamados indicadores antecedentes, produtos que indicam que o consumo está aumentando, como embalagens e componentes para eletrodomésticos. Quando isso começa a ser vendido, é sinal de que a indústria vai produzir mais. Por isso, esses setores "preveem" o futuro.

Apesar do otimismo, esses mesmos empresários e economistas destacam que essas previsões positivas dependem do controle da pandemia, do avanço da vacinação, com recuperação dos níveis de emprego, e do controle da inflação.

O governo divulga na próxima terça-feira (1º de junho) o PIB (Produto Interno Bruto) do primeiro trimestre do ano. Os números devem mostrar se houve ou não um impacto forte da segunda onda da pandemia sobre a economia. Mas os economistas destacam que esse indicador funciona como um retrovisor, ou seja, olha para o que já aconteceu. Em 2020, o PIB caiu 4,1%, maior recuo em 24 anos.

Empresas que ajudam a prever o futuro da economia

Os cenários traçados por economistas são baseados em indicadores antecedentes, que apuram o desempenho de empresas que estão no começo da cadeia de produção, como as produtoras de embalagens e de matérias-primas, ou que medem a confiança de empresários, consumidores e investidores na economia.

Os setores que estão lá no início de um ciclo de produção indicam a tendência que está chegando. Se uma fabricante de eletrodomésticos ou de alimentos aposta que vai vender mais, essa indústria precisa antes de tudo encomendar mais matérias-primas e equipamentos, além de embalagens para poder empacotar mais produtos.

Por que a economia vai crescer?

Empresários e economistas dizem que vale buscar informações nos indicadores antecedentes.

Segundo esses analistas, os indicadores antecedentes e os setores da indústria que possibilitam prever o futuro da economia estão com desempenhos positivos - o que permite projetar que a atividade econômica brasileira seguirá crescendo até dezembro.

A maioria dos indicadores antecedentes já apresenta sinais favoráveis. Pelo que vemos agora, em maio, a recuperação está dada para acontecer e ela só não se concretizará se uma surpresa muito negativa ocorrer.
Aloísio Campelo Junior, superintendente de estatísticas públicas do FGV/Ibre

Indicador de construção, transporte e energia

Um indicador que acompanha de perto o comportamento das empresas que estão no começo da cadeia de produção da economia é o Índice Abdib-Vallya de infraestrutura, da Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústria de Base.

O índice reúne indicadores de vendas por empresas da infraestrutura que atuam no Brasil nos setores de construção, transportes, energia elétrica e telecomunicações. Ele caiu em fevereiro, mas apresentou leve retomada em março e abril, como mostra o gráfico abaixo.

Veja três fatores que devem ajudar a economia no segundo semestre:

Matérias-primas em alta: Países que estão saindo mais rapidamente da pandemia, como China, estão comprando matérias-primas (metais e alimentos). O Brasil é um dos maiores vendedores desses produtos e se beneficia desse comércio.

Vemos a economia crescendo até o fim do ano influenciada por setores ligados às matérias-primas. Quando esse setor está aquecido, isso sinaliza uma demanda forte para a produção industrial. Vemos isso pelos resultados positivos de empresas como Vale, Gerdau e CSN, que fornecem matérias-primas para a indústria.
Igor Rocha, diretor de economia e planejamento da Abdib (Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústria de Base)

Consumo de alimentos e consumo pessoal: Mesmo durante a pandemia, o consumo de itens básicos, como alimentos, higiene e limpeza, está mantendo o ritmo de crescimento.

O setor de embalagem vende muito para áreas de alimentação, higiene e limpeza, ou seja, itens de primeira necessidade. As encomendas no setor de embalagens seguem fortes. O setor projeta para este ano um crescimento de 4,4% a 5,9% [da economia como um todo].
Marcos Barros, presidente do conselho da Abre (Associação Brasileira de Embalagem)

Segundo o presidente da entidade que reúne fabricantes de embalagens de papelão e plástico, por exemplo, o setor abriu 6.000 vagas neste ano e deve seguir contratando até dezembro.

Compras de bens duráveis: A parcela da população que não perdeu emprego nem teve redução de salário preservou o nível de renda, mas gastou menos em itens como viagens e lazer.

Parte desse dinheiro foi gasta em bens duráveis, como TVs, smartphones, eletrodomésticos e até imóveis. E uma parte foi guardada. Isso ainda pode ser gasto neste ano, diz o diretor da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), André Rebelo.

A Fiesp prevê que as vendas na indústria paulista cresçam 10% neste ano em relação a 2020, enquanto o emprego deve aumentar 0,3%.

Tem um motor ligado na economia, movido pela exportação, pela poupança acumulada por uma parte do mercado consumidor e pelo aprendizado dos agentes econômicos de como atuar durante as restrições, como é o caso do crescimento dos meios digitais. A gente aprendeu a conviver com restrições de ondas da covid. Atrapalha ainda, em especial o setor de serviços, mas o efeito tem sido cada vez menor.
André Rebelo, diretor de Economia e Estratégia da Fiesp

Indicadores de confiança também ajudam a prever

Os cenários traçados por economistas são baseados em indicadores antecedentes (embalagens e matérias-primas) e também em índices que medem a confiança de empresários, consumidores e investidores na economia.

Os índices de confiança, por exemplo, são pesquisas que perguntam a empresas e consumidores se eles estão otimistas ou pessimistas com relação ao futuro. Um empresário pessimista não investe na produção, enquanto um empresário otimista aceita assumir o risco de contratar pessoal e expandir a fábrica.

Uma família preocupada com o desemprego ou com risco de ficar sem trabalho não vai gastar, o que afeta a economia. Já uma família mais otimista vai ter confiança para tomar crédito e adquirir uma casa ou um carro, por exemplo, movendo assim a economia.

Veja abaixo o comportamento de alguns indicadores antecedentes e, na sequência, como cada um deles é calculado.

IACE - Indicador Antecedente Composto da Economia Brasileira da FGV/Ibre: é formado por itens como juros futuros, Ibovespa, expectativas da indústria, dos serviços e do consumidor, produção de bens de consumo duráveis e índices de comércio exterior.

IAEmp - Indicador Antecedente de Mercado de Trabalho: antecipa movimentos do mercado de trabalho, usando dados extraídos das sondagens empresariais e de expectativas do consumidor produzidos pela FGV/Ibre.

ICE - Índice de Confiança Empresarial: Consolida os índices de confiança dos quatro setores cobertos pelas sondagens da FGV/Ibre em indústria, serviços, comércio e construção.

O que pode atrapalhar a retomada?

Economistas e empresários apontam o que pode atrapalhar a economia:

  • Agravamento da pandemia: Se uma terceira onda da covid-19 fechar atividades.
  • Vacinação lenta: Com poucos imunizados, a chance de fechar a economia é maior.
  • Inflação: O mesmo dinheiro compra menos coisas, e isso afeta a economia como um todo.

Agora os indicadores sinalizam uma visão otimista para a economia, mas o Brasil tem condições diferentes do que temos lá fora, com relação ao ritmo de vacinação, por exemplo. Além disso, o crescimento econômico pode ser prejudicado pela inflação ainda alta e pelo medo de desemprego. Inflação e emprego preocupam porque deixam o consumidor muito cauteloso.
Aloísio Campelo Junior, superintendente de estatísticas públicas do FGV/Ibre