Juro do cartão chega a 455%: entenda cálculo e como escapar das dívidas
Fernando Barbosa
Colaboração para o UOL, em São Paulo
12/07/2023 04h00
A taxa média de juros cobrada pelos bancos nas operações com cartão de crédito rotativo atingiu 455,1% ao ano em maio, o maior nível desde março de 2017. A dívida no cartão de crédito costuma ser a mais comum entre os milhões de brasileiros endividados. Entenda como são calculados os juros e dicas para sair do vermelho.
Juros do cartão
Quem não paga o cartão no vencimento precisa pagar juros altos. A taxa de 455,1% ao ano representa juros de 15,18% ao mês.
É como pegar dinheiro 'emprestado'. O banco concede o dinheiro para cobrir a fatura e, no mês seguinte, é preciso pagar as contas daquele mês, mais os juros.
A modalidade costuma ter os juros mais altos do mercado. Vale lembrar que a taxa básica de juros (Selic), que é considerada alta e tem sido alvo de críticas do governo e de empresários, está atualmente em 13,75% ao ano.
Dívida do cartão de crédito é a principal causa de inadimplência. Entre as contas em atraso, o cartão de crédito lidera (31%), seguido por empréstimo em banco ou financeira (26%), crediário (21%), cheque especial (15%) e telefone (11%), segundo pesquisa da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil).
Uma fatura de R$ 1.000 vira R$ 1.185,60 no mês seguinte, com juros, multa e IOF. O cálculo foi feito por Eduardo Reis Filho, educador financeiro e especialista em investimentos. Com um primeiro atraso, o banco cobra o juro do rotativo, de 15,18%, mas já propõe um parcelamento da dívida, a juros menores (6%). A regra foi determinada pelo Banco Central em 2017 para evitar superendividamentos.
Se o cliente pagar a 1ª parcela quando a conta vem parcelada, isso significa que ele aceitou a proposta de parcelamento. Ao aceitar o parcelamento, é como se ele tivesse assinado um novo empréstimo
Eduardo Reis Filho, educador financeiro e especialista em investimentos
Simulação com dívida de R$ 1.000
Fatura de R$ 1.000 do cartão vira dívida R$ 1.696,92 em 1 ano. A pedido do UOL, Eduardo Reis Filho fez os cálculos para mostrar como uma dívida inicial de R$ 1.000 evolui ao passar pelo rotativo no 1º mês e, depois, com a entrada no parcelado. Na simulação, o saldo é atualizado pela taxa de 15,18%, no primeiro mês, correspondente aos juros anuais do rotativo. Depois, a conta é atualizada em 6% ao mês. Veja abaixo:
- Dívida inicial: R$ 1.000
- Valor no 1º mês após falta do pagamento: R$ 1.185,60
- Valor da parcela nos 12 meses seguintes: R$ 141,41
- Total a ser pago após 1 ano: R$ 1.696,92
Fatura de R$ 1.000 pode virar dívida de R$ 2.016 se houver atraso no parcelamento durante 3 meses. Se alguém não paga a fatura e aceita parcelar, precisa cumprir o combinado. Caso contrário, a regra do rotativo continua valendo até o pagamento da primeira parcela. Por isso, o saldo final é maior:
- Dívida inicial: R$ 1.000
- Valor no 3º mês após falta do pagamento: R$ 1.408,56
- Valor da parcela nos 12 meses seguintes: R$ 168,01
- Total a ser pago após 15 meses: R$ 2.016,12
Fatura de R$ 1.000 vira dívida de R$ 5.451 em um ano se houver atraso por 12 meses. O cálculo foi feito por Victor Marques, planejador financeiro pela Planejar (Associação Brasileira de Planejamento Financeiro). Ele considera o caso de o cliente não aceitar o parcelamento. A fatura pode crescer ainda mais se o consumidor não pagar o mínimo. É que as instituições podem cobrar multa de 2% e IOF, além dos juros. Veja abaixo como ficaria a evolução da dívida:
- Dívida inicial: R$ 1.000
- 1º mês: R$ 1.151,79
- 2º mês: R$ 1.326,62
- 3º mês: R$ 1.527,98
- 4º mês: R$ 1.759,92
- 5º mês: R$ 2.027,05
- 6º mês: R$ 2.334,74
- 7º mês: R$ 2.689,13
- 8º mês: R$ 3.097,31
- 9º mês: R$ 3.567,44
- 10º mês: R$ 4.108,94
- 11º mês: R$ 4.732,64
- 12º mês: R$ 5.451,00
Como evitar o endividamento
Atrase outras contas, mas pague o cartão. Segundo Marques, em razão dos juros altos, deixar de pagar a fatura de cartão de crédito deve ser considerada a última opção.
Faça todas as contas e verifique quais delas podem ficar para depois e quais são a prioridade. Ao deixar de pagar o aluguel para cobrir o cartão, por exemplo, o consumidor pode ter que pagar juros igualmente elevados, além de lidar com a eventual possibilidade de despejo. Uma alternativa é listar despesas e verificar onde dá para economizar tanto no supermercado, quanto nas contas de telefone ou internet, por exemplo.
Tente renegociar com os bancos. Sugira a entrada de um valor para pagar menos juros. Isso pode facilitar um acordo. Segundo Filho, o consumidor pode entrar em contato com a instituição financeira e explicar a situação financeira atual. Elas costumam ter programas de renegociação ou opções de parcelamento mais acessíveis.
Busque condições de pagamento que caibam no bolso. Negocie prazos mais longos, descontos ou avalie a contratação de um outro empréstimo com juro menor para quitar o mais rápido possível a dívida. Mas ofereça um plano de pagamento que seja viável para suas condições financeiras. É importante, ainda, que todos os aspectos estejam previstos em contratos. Assim, não haverá surpresas de novas cobranças no futuro.
Veja o que dá para cortar nas despesas. Identifique áreas onde é possível economizar, reduzir gastos supérfluos e direcionar esse dinheiro para o pagamento da dívida, indica Eduardo Reis Filho. Busque também alternativas para aumentar a renda, como trabalho freelancer, venda de itens não utilizados ou tentar um segundo emprego, também é válido.
Quando conseguir equilibrar o orçamento, tente poupar para ter uma reserva de emergência para eventualidades. Com a perspectiva de queda do juros e a Selic em 13,75% ao ano, o Tesouro Direto pagava na última segunda-feira (10) ao investidor, por exemplo, um retorno de 10,18% ao ano no prefixado com vencimento para 2026, e 10,60%, para 2029.