Puxada por gasolina, inflação sobe 0,12% em julho e 3,99% em 12 meses
O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), que mede a inflação oficial do país, subiu 0,12% em julho, puxado pela alta nos preços da gasolina. No mês anterior, o Brasil havia registrado deflação de 0,08%. Os dados foram divulgados nesta sexta-feira (11) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Gasolina pesou no IPCA
Gasolina foi o produto que mais impactou a inflação de julho. O combustível — subitem de maior peso individual no IPCA — subiu 4,75% no mês, após registrar queda de 1,14% em junho. A alta de julho foi puxada pela volta da cobrança da alíquota cheia de PIS/Cofins, explica André Almeida, analista do IBGE.
GNV e etanol subiram, enquanto o diesel caiu. Nos demais combustíveis, foram registradas altas no gás veicular (3,84%) e no etanol (1,57%), enquanto o diesel caiu 1,37%. As altas nos preços de passagens aéreas (4,97%) e automóveis novos (1,65%) também pesaram no resultado do grupo transportes.
Em 2023, inflação acumula alta de 2,99%. A gasolina é o produto com maior impacto nos sete primeiros meses do ano, com alta de 11,64% desde janeiro. O resultado de julho ficou no teto das estimativas do Projeções Broadcast, que iam de queda de 0,08% a alta de 0,12%, com mediana em 0,06%.
Nos últimos 12 meses, o IPCA está em 3,99%. A taxa anual ficou acima dos 3,16% observados nos 12 meses imediatamente anteriores, voltando a superar o centro da meta para 2023 (3,25%). A expectativa atual do mercado é de que a inflação feche 2023 em 4,84%.
Mesmo com alta, presidente do Banco Central vê inflação "voltando para a meta". Durante palestra em Curitiba, Roberto Campos Neto reconheceu que o IPCA veio acima do esperado, mas lembrou que a inflação dos últimos 12 meses foi impactada pela desoneração de impostos no segundo semestre de 2022.
A inflação em 12 meses é um pouco poluída porque tivemos a desoneração [de impostos] no segundo semestre de 2022, que jogou a inflação muito para baixo. O núcleo de serviços está bem acima da meta, mas o número de hoje foi um pouquinho melhor.
Roberto Campos Neto, presidente do BC
Energia e comida têm queda
Energia elétrica residencial foi o subitem com maior queda em julho. Segundo o IBGE, os preços da energia elétrica caíram 3,89% no mês passado, puxados pela incorporação do bônus de Itaipu "creditado integralmente nas faturas emitidas no mês", diz Almeida.
Preços da alimentação no domicílio também caíram (-0,72%). Entre os itens que ficaram mais baratos, estão feijão carioca (-9,24%), óleo de soja (-4,77%), frango em pedaços (-2,64%), carnes (-2,14%) e leite longa vida (-1,86%). Essas quedas, acrescenta o analista do IBGE, "estão relacionadas a uma maior oferta dos produtos".
Inflação por grupo
Dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados pelo IBGE, cinco tiveram alta no mês de julho:
- Transportes: 1,5%
- Despesas pessoais: 0,38%
- Saúde e cuidados pessoais: 0,26%
- Educação: 0,13%
- Artigos de residência: 0,04%
No lado das quedas, destaque para Habitação (-1,01%) e Alimentação e bebidas (-0,46%). O grupo Vestuário também registrou deflação (-0,24%), enquanto Comunicação ficou estável (0%).
Resultado surpreende, mas é positivo
Ficou acima da nossa projeção de 0,06%. Mas a abertura continuou mostrando uma leitura qualitativa muito boa, que chama atenção para o bom desempenho da inflação de serviços. Para frente, vemos que a inflação deste ano pode encerrar abaixo do teto da meta [4,75%].
Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Rena
O IPCA de julho ficou um pouco acima da nossa expectativa de 0,10%. Mas a abertura dos dados mostrou que a tendência de queda da inflação continua. O número de itens em alta está menor, e a média dos núcleos variou apenas 0,2% no mês.
Rafaela Vitória, economista-chefe do Banco Inter
O IPCA veio acima do esperado pelo mercado, mas, apesar da aceleração, os dados foram positivos. O grande destaque, na minha visão, está nos serviços subjacentes (que excluem itens mais voláteis, como hotéis e passagens aéreas). Desaceleraram bem: vieram com alta de 0,19% em julho, após subirem 0,67% em junho.
Andre Fernandes, sócio da A7 Capital
Os serviços vieram mais baixos do que as projeções, uma surpresa positiva. Ou seja: apesar do número cheio mais alto do que o esperado, a abertura foi mais benigna, sobretudo nos itens mais associados à atividade econômica e ao ciclo monetário.
Rafael Cardoso, economista-chefe da Daycoval Asset
Apesar dessa alta acima do esperado, a inflação de serviços desacelerou fortemente, o que é um parâmetro muito útil para avaliar a pressão da demanda sobre os preços e é extremamente positivo para a redução da taxa básica de juros. A pressão sobre o BC para reduzir a Selic deve permanecer forte.
Raphael Moses, professor da COPPEAD/UFRJ
O que é o IPCA?
IPCA mede a inflação para famílias de áreas urbanas com renda de 1 a 40 salários mínimos. Entre as categorias consideradas para mapear a evolução geral dos preços, estão os custos com alimentação, habitação, saúde, transporte e educação, por exemplo. O índice é calculado pelo IBGE desde 1980.
Metas de inflação
Governo definiu meta de inflação de 3,25% em 2023. A meta prevê uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Para 2024 e 2025, a meta é de 3%. Em 2026, a meta também será de 3%, segundo anunciado pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) em junho.
Impacto sobre juros
BC acompanha a inflação para definir os juros. O IPCA é um dos principais indicadores usados pelo BC para fazer ajustes na Selic, a taxa básica de juros da economia. Quando a inflação está alta, o BC sobe a Selic para tentar conter o consumo e, consequentemente, os preços. Quando a inflação cai, a tendência é que os juros também sejam reduzidos.
Selic está em 13,25% ao ano, após recente corte de 0,5 ponto. Na semana passada, o BC decidiu reduzir os juros para 13,25% ao ano, no primeiro corte desde 2020. A melhora no cenário inflacionário foi um dos fatores citados para justificar o ajuste. A expectativa é de que a Selic sofra novos cortes até o fim do ano.