Entenda o que é meta contínua de inflação, o que muda e o impacto nos juros

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou a adoção de uma meta contínua de inflação a partir de 2025.

O que é a meta contínua?

Hoje a meta de inflação é de ano-calendário. Na prática, o BC precisa entregar a inflação no intervalo permitido para o período de janeiro a dezembro.

Com a meta contínua, o país passa buscar uma meta permanente de inflação em um prazo que deverá ser definido de forma técnica pelo Banco Central. O conceito é adotado em outros países, como os Estados Unidos.

A novidade começa a valer apenas em 2025 — quando mudará a presidência do BC. O mandato de Roberto Campos Neto termina em 2024.

A meta de inflação para 2023 é de 3,25%. Para 2024 e 2025, a meta é de 3% (com intervalo de tolerância de 1,5 ponto porcentual). Em 2026, a meta também será de 3%, de acordo com anúncio feito hoje pelo CMN (Conselho Monetário Nacional).

Não nos cabia, neste momento, uma alteração que pudesse, para baixo implicar em um aperto monetário ainda maior, e para cima sinalizar um descompromisso com o combate à inflação, em um momento que a inflação demonstra uma trajetória consistente.
Fernando Haddad, ministro da Fazenda

Qual o impacto para a Selic?

A mudança pode ter reflexos na trajetória futura da taxa básica de juros definida pelo Copom. Com uma alteração no horizonte da meta, o BC pode não precisar apertar tanto a política monetária quando há uma tendência de queda da inflação num horizonte mais longo, como ocorre hoje no Brasil.

A meta contínua abre mais espaço para o BC cortar ou, em cenário de alta da inflação, elevar juros. No Brasil, como cerca de 40% do crédito é direcionado ou subsidiado (juros menores), as mudanças na Selic demoram mais tempo para impactar diretamente o mercado de crédito. Com a mudança, o BC pode optar por não dar um remédio tão amargo (juros altos) para jogar a inflação para baixo rapidamente.

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Meta de inflação contínua é aperfeiçoamento interessante, segundo Campos Neto. Pela manhã, o presidente do BC disse que considera a mudança a substituição ao sistema de ano-calendário um avanço interessante, que seria um sistema eficiente. "Ano-calendário foi importante no início, era forma de auferir a meta no curto prazo. A gente entende que avançou no processo e vê como um aperfeiçoamento", afirmou.

Modelo de meta contínua também tem críticos. Há um temor de que a mudança deteriore a credibilidade, pois se o BC estiver perseguindo uma meta olhando para frente, ele sempre pode jogar o cumprimento da meta para depois.

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