PIB do Brasil cresce 0,9% no 2º trimestre, acima do esperado
A economia brasileira cresceu 0,9% no segundo trimestre do ano, na comparação com o trimestre anterior, segundo divulgou hoje o IBGE.
O que aconteceu?
O resultado confirma uma desaceleração da economia no período de abril a junho de 2023. No primeiro trimestre do ano, o PIB (Produto Interno Bruto) cresceu 1,8%. Em valores correntes, o PIB no segundo trimestre de 2023 totalizou R$ 2,651 trilhões.
O resultado veio bem acima do esperado. A expectativa em pesquisa da Reuters era avanço de 0,3% no segundo trimestre de 2023 sobre os três meses anteriores.
O IBGE, no entanto, revisou o resultado dos trimestres anteriores. A alta no 1º trimestre foi revisada para 1,8%, ante 1,9% informado anteriormente. Já o resultado do 4º trimestre de 2022 passou de retração de 0,1% para alta de 0,1%.
Frente ao mesmo trimestre de 2022, o PIB do segundo trimestre cresceu 3,4%. No acumulado dos quatro trimestres terminados em junho de 2023, o PIB cresceu 3,2%, ante os quatro trimestres anteriores. Com isso, a atividade econômica do país opera 7,4% acima do patamar pré-pandemia, referente ao quarto trimestre de 2019, e atinge o ponto mais alto da série, segundo o IBGE.
Governo diz que resultado traz viés positivo para a projeção para o ano. A estimativa atual do Ministério da Fazenda é de crescimento de 2,5% em 2023. Em nota, a Secretaria de Política Econômica disse que "com a divulgação do crescimento de 0,9% no segundo trimestre, o carry-over para o ano é de 3,1%".
O que puxou esse resultado dentro do setor de serviços foram os serviços financeiros, especialmente os seguros, como os de vida, de automóveis, de patrimônio e de risco financeiro. Também se destacaram dentro dos outros serviços aqueles voltados às empresas, como os jurídicos e os de contabilidade, por exemplo.
Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE
Indústria foi destaque entre os setores
O maior crescimento foi da indústria, com alta 0,9% em comparação ao primeiro trimestre. O avanço foi sustentado pelos desempenhos positivos de 1,8% nas indústrias extrativas, 0,7% na construção, 0,4% na atividade de eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos e 0,3% nas indústrias de transformação. Na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior, a indústria cresceu 1,5%.
Setor de serviços avançou 0,6%. Como as atividades de serviços respondem por cerca de 70% da economia do país, o resultado do setor influencia ainda mais a expansão do PIB. Agora são 12 trimestres seguidos de alta, com o setor atingindo o ponto mais alto da sua série. Na comparação com o mesmo período do ano anterior, o crescimento foi de 2,3%.
A agropecuária recuou 0,9%, após salto surpreendente no 1º trimestre. A retração vem após o avanço de 21% no primeiro trimestre e se deve, principalmente, à base de comparação elevada. Na comparação com o mesmo período do ano anterior, a agropecuária cresceu 17%. O resultado pode ser explicado, principalmente, pelo bom desempenho de alguns produtos que têm safra relevante no segundo trimestre, como: soja (24,5%), milho (13,7%), algodão (10,2%) e café (5,3%).
No setor externo, as exportações de bens e serviços cresceram 2,9%. Já as importações subiram 4,5% em relação ao primeiro trimestre de 2023.
Consumo das famílias tem maior alta em um ano
A despesa das famílias teve crescimento de 0,9% no 2º trimestre. É a maior alta desde o mesmo período do ano passado, quando o crescimento foi de 1,6%. Já a despesa do governo cresceu 0,7%.
Na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior, o consumo das famílias cresceu 3%. Segundo o IBGE, o resultado foi influenciado pela queda da inflação, reajustes nos programas de distribuição de renda, melhora no mercado de trabalho e aumento do crédito para pessoas físicas.
Do lado positivo, o mercado de trabalho vem melhorando constantemente, há o crescimento do crédito e várias medidas governamentais como incentivos fiscais, vide redução de preços de automóveis, e os reajustes nos programas de transferência de renda, notadamente o Bolsa Família. Por outro lado, os juros seguem altos, o que dificulta o consumo de bens duráveis, e as famílias seguem endividadas porque, apesar do programa de renegociação de dívidas, elas levam um tempo para se recuperar.
Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE
Investimentos ainda mostram fraqueza
A Formação Bruta de Capital Fixo, indicador que mensura os investimentos feitos no país, teve alta de apenas 0,1%. Frente ao 2º trimestre do ano passado, caiu 2,6%. Já as despesas do governo cresceram 0,7% ante o 1º trimestre e 2,9% no comparativo interanual.
Apesar da fraqueza, a alta vem após dois trimestre seguidos de queda nos investimentos. A taxa de investimento no segundo trimestre de 2023 foi de 17,2% do PIB, contra 18,3% no mesmo período do ano anterior. Esse indicador representa a parcela de investimentos no total da produção de bens e serviços produzidos no país. O resultado é ligado à queda da produção interna de bens de capital, como máquinas e equipamentos.
Já a taxa de poupança passou de 18,4% no segundo trimestre de 2022 para 16,9% em 2023. Segundo Palis, esse resultado era esperado e vem ocorrendo desde o primeiro trimestre. Durante a pandemia, houve aumento porque as famílias de maior renda, por não poderem consumir certos serviços, pouparam esse dinheiro excedente. Com a normalização da demanda e oferta dos serviços, a taxa de poupança caiu", afirma a coordenadora do IBGE.
Repercussão
O número traz otimismo por si, mas está ainda longe de denotar um crescimento estruturalmente robusto da economia, visto que teve impulso altamente associado a itens básicos, enquanto os investimentos seguem deprimidos. Com efeito do headline, revisamos nosso PIB [projeção para o ano] de 2,2% para 2,7%, sob reflexo de uma resiliência de agropecuário.
Guilherme Sousa e Étore Sanchez, analistas da Ativa investimentos
O resultado foi fortemente influenciado pelo consumo das famílias que subiu 0,9% e este impulso sem dúvida é decorrente da elevação do rendimento médio real habitual que vem subindo por conta da inflação sob controle e de medidas mais ligadas ao aumento da demanda por parte da administração Federal. Imaginamos uma atividade mais forte este ano uma vez que os investimentos ainda não andaram. Vale notar que o corte da Selic aconteceu apenas no 3º trimestre e seus efeitos ainda vão ser sentidos ao longo do ano.
André Perfeito, economista
Para o 3º trimestre, a perspectiva é de redução do ritmo de crescimento na margem, seguida de leve recuperação no último trimestre do ano... As medidas de estímulo ao investimento, que englobam o novo PAC; as melhores condições oferecidas pelo programa Minha Casa Minha Vida; a facilitação da tomada de crédito para atividades de inovação e digitalização; o novo marco de garantias e a desburocratização das emissões de debêntures no mercado de capitais também devem contribuir positivamente para o crescimento até o final do ano.
Secretaria de Política Econômica, em nota técnica
A estatística mostra que o país pode crescer cerca de 3,1% no ano, mesmo que as variações do terceiro e quatro trimestres sejam nulas.
André Galhardo, professor e consultor econômico da Remessa Online
Em virtude dos incentivos econômicos que o governo acabou dando pra população, houve aumento do consumo da família e dos serviços. Recentemente o governo aprovou a questão do aumento de receita via impostos principalmente dos fundos exclusivos, do offshore, porém não colocou nada ou não propôs nada sobre cortes na máquina pública e isso deixa o mercado insatisfeito.
Não adianta aumentar a arrecadação via impostos sem haver o corte de gastos, então isso vai gerar uma pressão muito grande a partir de agora.
Dierson Richetti, especialista em mercado de capitais e sócio da GT Capital