Como ensinar filhos a usar cartão de débito e crédito e a poupar

As crianças estão cada vez mais conectadas, com mais acesso a propagandas e conteúdos que instigam o consumo. Nesse cenário, é possível educá-las para serem consumidores conscientes, preocupados em ter uma reserva de dinheiro e independência financeira? A resposta dos especialistas é que sim!

Comece com dinheiro físico

Aprendizado deve ser lúdico. "Com quatro a cinco anos, já é possível trabalhar conceitos de educação financeira com a criança, brincando", afirma o planejador financeiro Fábio Lopes Araujo. Livros e brincadeiras são uma boa forma de começar. Ele é autor dos livros de educação financeira "O Cão Pidão" e "A Sociedade da Fortuna", para crianças e adolescentes.

O ideal é que as crianças tenham contato primeiro com cédulas e moedas. "As crianças precisam ter essa experiência com as cédulas e moedas antes de lidar com o dinheiro em formato de plástico, os cartões", diz a educadora financeira Teresa Tayra. Oito em cada dez pais dizem conversar com seus filhos a respeito do tema, sendo que 24% deles iniciam as conversas com os pequenos de até cinco anos, diz pesquisa recente da Serasa em parceria com o Instituto Opinion Box.

Técnica ajuda a criança a entender quanto dinheiro tem à sua disposição. A maioria das crianças não tem acesso a saldos e movimentações bancárias por aplicativo. Por isso, elas precisam ter o contato físico, visualizar e manusear as notas, diz Teresa.

Também ensina matemática. O contato com o dinheiro é interessante para a criança começar a calcular troco, diz Araújo.

Cartão-presente ajuda a controlar gastos

O cartão-presente de alguma loja pode limitar gastos. Pais podem dar um cartão-presente de R$ 50 para a criança usar em um videogame, por exemplo, diz o educador financeiro. Assim, os responsáveis terão controle sobre onde o dinheiro será gasto. Uma boa idade para começar a usar o cartão-presente, como um crédito no videogame, é a partir dos sete anos, diz o especialista.

Criança pode acompanhar seu saldo. Assim, ela aprende a administrar o dinheiro dentro de um ambiente pré-estabelecido.

Cartão pré-pago exige mais atenção. Ainda que os responsáveis estabeleçam um valor que pode ser gasto, o cartão pode ser usado em mais lugares. O cartão pré-pago pode ser apresentado a partir dos oito até os 10 anos. Essas idades não se tratam de uma regra fixa, e são apenas uma ideia para guiar os pais. Tudo dependerá da maturidade em geral e em relação ao dinheiro de cada criança.

O cartão de débito deve ser inserido apenas quando a criança já dominar as modalidades anteriores, a partir dos 10 anos. Para Teresa, os pais precisam identificar o quanto a criança entende que um cartão não representa apenas saques e retiradas, mas é um elo de entradas e saídas.

Menores podem ter conta em banco. A Febraban afirma que é possível abrir contas de depósitos, ou seja, tanto conta corrente quanto poupança, para a criança ou adolescente. Mas é necessário a apresentação e identificação de um representante legal, como pai, mãe, responsável ou tutor, para a abertura de conta. O responsável também deve ter acesso às movimentações desses menores, e serem informados de qualquer gasto ou saque.

Crédito só a partir dos 15 anos

O cartão de crédito é mais complexo para o entendimento das crianças, segundo os especialistas. "A criança precisa ter noção sobre limites de crédito, controle de impulso e passar por todo esse processo, para depois ter o cartão de crédito ainda sob controle dos pais. O ideal é que isso ocorra depois dos 15 anos, quando a criança já está mais madura", diz Araujo.

Criança pode comprar, mas não sai dinheiro da conta. Os valores vão sendo somados na fatura e serão pagos só no futuro. A sensação da saída do dinheiro da conta é diferente da do cartão de débito, que é imediata. No débito, é mais simples entender o limite de gastos. Se não houver dinheiro disponível, a compra simplesmente não é efetuada.

É mais difícil filtrar o uso do cartão. "Os pais conseguem bloquear certos app e sites, mas não há um controle das operadoras para menores. Por isso é importante manter diálogo diário."

Educação financeira de pai pra filho

Muitos adultos têm dificuldades para controlar gastos. Mas isso não significa que essa falta de educação financeira deva ser hereditária. "Não é porque não tivemos educação financeira que nossos filhos não terão. Passar por alguma dificuldade ou desafio financeiro deve servir de motivação para os pais educarem seus filhos", declara Teresa.

Educação ensina a não buscar só prazeres imediatos. Para a educadora, ensinar seu filho a controlar gastos é ajudá-lo também a perceber que ele pode fazer escolhas melhores com o dinheiro, de olho em recompensas melhores no futuro, e que abrir mão de uma escolha imediatista e evitar desperdícios.

Ao entender que os gastos dele fazem parte de um grupo de vários outros gastos em família, ele entenderá sobre as prioridades dentro do contexto familiar. Por isso é importante a família puxar as crianças para as discussões sobre o orçamento da casa. Assim elas entendem que todos os gastos entram no contexto familiar.
Teresa Tayra, educadora financeira

Bancos oferecem cartões específicos para menores

Nubank, C6 e Inter permitem a abertura de contas específicas para menores de 18 anos. O Nubank oferece o serviço para crianças de 10 a 17 anos e, atualmente, possui 1,2 milhão de clientes com esse perfil. O Inter tem mais de 2,9 milhões de contas de clientes menores de idade; 60% delas abertas no ano passado. No último ano, o número de contas Yellow, do C6 cresceu 2,3 vezes. Esses clientes investem duas vezes mais do que resgatam. Pagbank possui um cartão pré-pago para menores - a abertura de conta corrente só é permitida a partir dos 18 anos.

Contas têm muitas funções. Além da conta corrente, oferecem cartão de débito, recarga de celular, envio ou recebimento de Pix e demais transferências, gift card de games, Uber ou Ifood, investimentos e outros. Ainda não é possível criar filtros que limitem onde os cartões são usados ou qual valor máximo de uma transação.

Pais têm acesso às movimentações. No Nubank e no C6, pais são comunicados a cada Pix, transferência ou compra no cartão. A titularidade da conta é do menor de idade, mas fica vinculada à conta do responsável.