'Sou fazedor profissional de Power Point e faturo R$ 3,5 milhões'
Hygino Vasconcellos
Colaboração para o UOL, em Balneário Camboriú (SC)
23/10/2023 04h00
Uma necessidade pontual fez os irmãos Lucas Ferraz, 36, e Fernanda Ferraz, 34, identificarem um nicho de mercado pouco explorado, mas muito rentável. Em 2018, Lucas precisava fazer uma apresentação em PowerPoint para uma convenção da empresa em que trabalhava. Devido ao prazo curto, o serviço acabou sendo terceirizado.
Porém, eles não imaginavam que só havia duas empresas para fazer esse tipo de serviço —e cobrando um preço salgado.
"O que me espantou muito foram os valores. Na época, a gente pagou quase R$ 400 mil para fazer 380 slides mais ou menos — custava em torno de R$ 800 o slide. E isso me mostrou que existe um oceano para este tipo de empresa. A gente tinha um mercado para desbravar. No final, todo mundo precisa de uma apresentação", conta Lucas, que é publicitário.
No ano seguinte, os irmãos abriram a Clarke Agency, em São Paulo. Com o passar do tempo, eles viram o faturamento da empresa aumentar: de R$ 2,9 milhões, em 2021, para R$ 3,5 milhões em 2022. E projetam R$ 4 milhões para este ano.
Afinal, qual é o segredo deles?
A empresa é focada em apresentações de alto impacto. Nela, tudo é pensado meticulosamente: das transições de um slide para o outro, das imagens que serão inseridas (e da qualidade delas), do uso de animações, entre outras coisas. Também é criada uma identidade visual para cada apresentação.
Designer, Fernanda aprendeu a mexer no PowerPoint depois de aceitar a ideia do irmão de abrir uma empresa especializada em apresentações. E ela decidiu adicionar outros softwares para melhorar o trabalho final.
"A nossa execução de PowerPoint é muito publicitária, visual e obviamente dentro do storytelling que a gente construiu, ela é muito chamativa. Então, a gente não fica só com o PowerPoint. Trado esse insight de por que não unir outros softwares de edição de imagem para poder aumentar esse poder persuasivo da imagem, da comunicação audiovisual", conta Fernanda.
No começo, os dois aproveitaram o networking criado ao longo de suas carreiras —e acesso a executivos importantes— para apresentar a proposta de Clarke para grandes empresas. A primeira apresentação foi para divulgar novos produtos de um farmacêutico —que hoje segue sendo cliente deles.
Quanto mais empresas grandes a gente fechava, mais fácil se tornava o processo. Foi um passo super grande para a gente. Empreender é sempre um risco. E qualquer negócio fechado era sempre uma comemoração.
Lucas Ferraz
No ano seguinte à abertura da empresa, a pandemia forçou a redução de atividades presenciais, mas, por outro lado, aumentou a necessidade de apresentações na Clarke. Com isso, foi preciso chamar mais pessoas para trabalhar.
"As pessoas pegaram essa fase da pandemia em que as comunicações tornaram-se remotas e precisaram de uma apresentação para fazer as reuniões. Elas precisaram compartilhar suas estratégias por meio de telas, tanto para o público interno quanto externo", conta Fernanda.
Hoje, a Clarke atende de grandes e pequenas empresas, mas também pessoas físicas. Cada público procura os serviços da Clarke por motivos diferentes.
Grandes empresas: apresentações de lançamentos, convenções ou relatórios internos.
Pequenas empresas: apresentações comerciais para conseguir novos negócios ou apresentar produtos.
Pessoas físicas: apresentações de projetos, como para a defesa de uma tese de doutorado.
Em janeiro deste ano, os irmãos abriram um escritório em Portugal, devido a um projeto fechado com a Lufthansa. Por lá, também há poucas empresas que prestam esse tipo de serviço.
"A Europa é muito cuidadosa dessa execução, dessa excelência de entrega. A gente já tinha alguns negócios, pessoas físicas, na Europa, então acabou que abriu a oportunidade de uma pessoa executar esse trabalho com a Lufthansa. Por la, existem freelancers que executam trabalhos pontuais e não empresas especializadas que conseguirão abraçar um grande volume de trabalho de uma empresa", conta.
A gente viu que poderia levar a qualidade brasileira —técnica e de execução— para fora do país.
Atualmente, 25 pessoas prestam serviço para Clarke e são chamadas de "parceiros". A ideia agora é dobrar a equipe devido a um aporte de 2 milhões de euros (o equivalente a R$ 10,7 milhões) de um fundo de investimento suíço destinado para a Clarke Lab, novo braço da empresa , lançado em setembro deste ano. que atuará no desenvolvimento de sites e aplicativos em uma parceria com a Wix.