Golpe de tarefa online atinge desempregados: 'Perdi dinheiro que não tinha'

Foi na esperança de conseguir uma renda extra que a desempregada Amanda Fabiano Cardoso, de 36 anos, aceitou fazer pequenas "tarefas" online em troca de recompensas que variam de R$ 10 a R$ 350 por dia. O que ela não imaginava é que a proposta aparentemente boa se tratava de golpe e que perderia R$ 2 mil.

Amanda relata que na semana passada navegava pela internet quando recebeu um anúncio com a proposta. Aparentemente, a oportunidade era simples e prometia um pequeno retorno financeiro. Sem trabalhar, ela decidiu dedicar 8 horas do seu dia a essa oportunidade.

Uma pessoa dizendo de ser uma empresa de marketing digital me ligou, disse que eu poderia fazer uma renda extra apenas curtindo looks em uma plataforma e que eu não precisaria investir nada. Por não pedir nenhum dinheiro, eu acreditei que era verdade e aceitei a proposta.

Após o primeiro contato, Amanda foi incluída em um grupo no Telegram com mais seis mil pessoas, onde as tarefas eram passadas aos usuários.

"No primeiro dia fiz algumas tarefas e recebi R$ 36. Acreditando que era algo sério, fui seguindo com as tarefas e não desconfiei porque eles estavam depositando o meu pagamento. Mas no dia seguinte, eles informaram que tínhamos que fazer algumas tarefas pagas, mas que o valor retornaria para a gente corrigido", explica Amanda.

Segundo ela, os valores da tabela variavam de R$ 80 a R$ 499. O valor aumenta conforme o avanço do número de tarefas feita pelo usuário.

"Eu paguei o valor mínimo, fiz a tarefa e recebi R$ 104. E fui fazendo. Quando chegou na 12ª tarefa, eles me colocaram em um novo grupo, dizendo que eu estava crescendo na empresa e poderia liderar outros usuários. Foi aí que tudo começou. Me pediram um depósito de R$ 499 e, acreditando em tudo, fiz o pagamento. Em seguida, me pediram outro depósito no valor de R$ 1.499 e disseram que eu só poderia receber meu dinheiro após o depósito. Mas eu estava tão envolvida que fiz mais esse depósito", detalha Amanda.

Foi só após receber mais uma solicitação de pagamento de mais de R$ 2 mil e não receber o ressarcimento do valor anterior que a desempregada percebeu que havia caído em um golpe.

Mas o que aconteceu com a Amanda não é um caso isolado. Após relatar o golpe no TikTok, a vítima recebeu dezenas de mensagens de usuários contando que também foram vítimas da mesma cilada. Alguns afirmam que perderam mais de R$ 5 mil.

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Eu decidi postar para alertar outras pessoas. Porque eles passam muita credibilidade, principalmente, por ter milhares de pessoas no grupo do Telegram e pagarem certinho as primeiras tarefas. Eu perdi um dinheiro que eu nem tinha e não queria que outras pessoas passassem pelo mesmo. Amanda Fabiano Cardoso, de 36 anos.

A desempregada Renata Faria de Lima, de 21 anos, é uma dessas vítimas. Ela, que está há cinco meses sem conseguir emprego, conta que viu no anúncio uma oportunidade de fazer uma renda enquanto não encontra trabalho fixo.

Renata conta que no primeiro dia chegou a ganhar R$ 50, o que a deixou animada para continuar com as "tarefas". Acreditando que se tratava de uma empresa séria, passou a realizar as tarefas pagas e perdeu R$ 900.

"Eu só não perdi mais porque não tinha dinheiro para fazer os Pix que eles solicitavam. Quando pedi dinheiro para a minha irmã, ela me alertou que poderia ser um golpe", conta.

As duas vítimas procuraram a Polícia Civil, registraram um boletim de ocorrência e também solicitaram o cancelamento do Pix junto às instituições financeiras. Porém, elas ainda não conseguiram o ressarcimento dos valores perdidos.

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O que é o golpe das pequenas tarefas

O golpe das pequenas tarefas, como ficou conhecido, não é novo, mas tem feito muitas vítimas nos últimos meses.

Ele funciona assim: uma falsa empresa entra em contato pelo WhatsApp ou pelas redes sociais e propõe uma oportunidade de renda extra, focada em marketing digital.

Durante a abordagem, os criminosos afirmam que os usuários podem ganhar de R$ 10 a R$ 350 por dia, trabalhando de casa e totalmente online.

Caso demonstre interesse pela proposta, o usuário é orientado a responder uma pesquisa e passar uma chave Pix para receber os valores pelo "trabalho". Depois, é convidado para entrar em um grupo no Telegram, com mais centenas de pessoas, onde supostos resultados financeiros são compartilhados.

É no grupo que as tarefas são passadas. Elas consistem, em sua maioria, em curtir publicações em plataformas de vendas, fazer avaliações positivas em produtos ou até mesmo assistir vídeos.

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A cada desafio cumprido, é preciso enviar um print comprovando que o realizou. Em troca, depósitos de valores baixos são feitos, como R$ 4, R$ 10 ou R$ 20, gerando uma confiança do usuário.

No entanto, com a evolução do usuário, surgem algumas "tarefas pagas" em que a pessoa precisa fazer uma transferência pix para avançar.

Em poucos dias a empresa oferece uma oportunidade de aumentar o valor recebido pelas tarefas por meio de um pequeno investimento em bitcoins, numa modalidade chamada desafio pré-pago. A pessoa compra uma cota inicial de R$ 100 e recebe R$ 130 (30% sobre este valor). O investimento aparenta ser seguro, já que vários usuários compartilham seus comprovantes de recebimento no grupo do Telegram.

As vítimas relatam que após fazerem o pagamento, elas são excluídas do grupo e bloqueadas pelos administradores.

Caí no golpe. E agora?

Especialistas ouvidos pelo UOL, explicam que, após perceber que foi vítima do golpe, o primeiro passo é a pessoa entrar em contato com o seu banco - de onde o Pix saiu - e pedir o bloqueio do dinheiro na conta de destino. O Mecanismo Especial de Devolução (MED) possibilita que a entidade financeira de origem da transação solicite a suspensão do valor na conta de recebimento, se houver suspeita de golpe.

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Depois é necessário juntar as provas. Faça capturas de tela mostrando a abordagem e as conversas que teve com os golpistas.

Vá até uma delegacia da Polícia Civil e registre um boletim de ocorrência. Inclua no registro todos os prints e o protocolo do MED. Também é importante procurar o Procon da sua cidade para registrar o caso.

"É importante identificar as empresas que participaram do golpe, pois elas poderão ser corresponsáveis pelo ocorrido mediante o Código de Defesa do Consumidor. Um site que favoreça esse tipo de atividade poderá ser alvo do processo judicial. Embora não sejam responsabilizadas criminalmente, podem ser responsabilizadas para efeitos de reparação civil", explica o advogado especialista em direito criminal e do consumidor, Leonardo Velloso.

Na esfera criminal, se identificados, os responsáveis podem responder por estelionato por fraude eletrônica.

As pessoas têm que tomar cuidado com essas propostas sedutoras de dinheiro fácil, porque não existe dinheiro fácil. Não existe dinheiro multiplicado em três, cinco ou 10 vezes, em minutos. E esse argumento de que o dinheiro que você está investindo, vai para aplicação em criptomoeda, não existe. Os criminosos acabam utilizando como argumento o fator de imediatismo, que as coisas têm que ser rápidas, justamente quanto mais rápido for, mais chance eles têm de lesar as pessoas", Ricardo Vieira de Souza, advogado especialista em direito digital.

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