O que falta para o Brasil atrair mais investimentos? Empresários respondem

A insegurança é um dos principais motivos que afastam o investimento estrangeiro no Brasil. O UOL ouviu empresários que participaram do Lide Brazil Investment Forum nesta terça-feira (14), em Nova York, para entender o que repele o dinheiro estrangeiro do país e o que, na visão deles, precisa ser feito para melhorar o ambiente de negócios brasileiros.

Dificuldade de atrair investimento

A insegurança jurídica é um dos principais entraves para o Brasil atrair investimento. Gustavo Ribeiro, presidente da Abramge (Associação Brasileira de Planos de Saúde), afirma que há dificuldades no âmbito tributário, trabalhista e na saúde, setor em que a empresa atua.

Apesar de o país ter uma forte polarização política no momento, ela pesa menos nos negócios do que a insegurança jurídica, para Ribeiro, até porque a polarização política é um fenômeno mundial.

Se a gente conseguisse passar para o investidor estrangeiro uma organização melhor nessa judicialização desenfreada que tem, acho que ajudaria muito.
Gustavo Ribeiro, presidente da Abramge

O Brasil deve buscar por estabilidade para atrair mais investidores. Bruno Ferla, vice-presidente jurídico, de compliance e relações internacionais da BRF, afirma que é preciso ter estabilidade política, tributária, monetária e também em relação a taxa de juros, que é determinante na hora de tomada de decisão de investimentos. Em momentos de juros altos, a tendência é que o país receba mais investimento no mercado financeiro, o que não é tão interessante, para Ferla.

Sempre que tem uma taxa de juros elevada acabamos atraindo o investimento estrangeiro que não é desejavel, que é o investimento para o mercado financeiro pura e simplesmente. A empresa vai emprestar para o governo e não vai injetar dinheiro na economia para gerar emprego, gerar valor, valor agregado, bens de consumo.
Bruno Ferla, executivo da BRF

Preocupação com o equilíbrio das contas públicas é fundamental. Isaac Sidney, presidente da Febraban, afirma que o Brasil dá passos em direção ao controle das contas e que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, está comprometido com a agenda, mas que é preciso manter o foco neste objetivo para melhorar ainda mais o ambiente de negócios.

É preciso que o Brasil continue absilutamente focado em fazer com que as suas despesas caibam no orçamento. Investmentos não convivem com desequilíbrio fiscal, com desequilíbrio das contas públicas.
Isaac Sidney, presidente da Febraban

As mudanças constantes na carga tributária têm um forte impacto nos negócios. É o que diz Gustavo Werneck, presidente da Gerdau, que afirma que de 2023 para 2024, a empresa teve um aumento de 13% em carga tributária, pagando R$ 250 milhões a mais de impostos de um ano para o outro. Werneck afirma que é importante olhar para o equilíbrio fiscal e para a recomposição de receitas, mas que a previsibilidade da tributação é essencial para atrair investimento.

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O empresário diz que vai conversar com investidores e acionistas dos Estados Unidos nesta semana. "É dificil explicar para ele [investidor] como que temos um crescimento de carga tributária de R$ 250 milhões de um ano para o outro", afirma Werneck. Segundo o executivo, hoje 70% dos investidores da empresa estão localizados na América do Norte.

Como melhorar cenário

Ribeiro afirma que os governos têm tomado boas medidas para atrair o capital estrangeiro. O executivo cita a reforma trabalhista feita pelo ex-presidente Michel Temer. A reforma tributária veio com um bom texto, na avaliação do executivo, mas ainda é uma incógnita, porque ainda precisa de muitas regulamentações para que comece a valer.

Diminuir a judicialização é um dos caminhos para atrair mais investimento. Ribeiro afirma que existe uma cultura de judicalização no Brasil, o que implica em custos altos para as empresas. Na saúde, ele considera que falta o judiciário focar nas regras pré-estabelecidas e nos contratos, além de haver a necessidade de um assessoramento técnico dos juízes na hora de avaliar casos do setor.

A judicalização é negativa para todo negócio: o grande número de processos serve como motivo de repulsa para os investidores do exterior, que não conhecem em detalhes a dinâmica de negócios no Brasil, diz Ferla. Ao resolver essas questões, que o executivo considera estruturais, o Brasil tem mais chances de investimento, já que tem uma economia grande, resiliente e um enorme mercado consumidor.

O maior problema da judicalização é que processos mudam "a regra do jogo". Ao alterar um entendimento sobre um tema, isso pode impactar todo o resto do sistema, o que traz insegurança, para Dyogo Oliveira, presidente da CNseg (Confederação Nacional das Seguradoras).

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Para o executivo, hoje o maior desafio é que o investidor estrangeiro muitas vezes já conhece o Brasil. No entanto, muitos deles tiveram experiências ruins, o que dificulta a atração do capital novamente.

O Brasil é um grande destinatário de investimento externo. O grande empecilho de ser mais é realmente construir solidez nessas relações. O estado brasileiro precisa evoluir no sentido de respeitar as condições contratuais e jurídicas que são dadas para as empresas para que elas possam desenvolver os seus negocios.
Dyogo Oliveira, presidente da CNseg

Com controle das contas públicas por meio do teto de gastos e, agora, do arcabouço fiscal, os estrangeiros conseguem ter mais previsibilidiade para investir no Brasil. A regulamentação da reforma tributária também é uma medida que ajuda a dar mais estabilidade aos investidores. É o que diz Henrique Meirelles, presidente da consultoria HMA&Associados, ex-ministro e ex-presidente do Banco Central.

A previsibilidade do investimento é talvez o dado mais importante para que ele seja feito. Ninguém faz investimento onde o futuro é imprevisivel. Então é fundamental que exista essa previbilidade e o Brasil hoje já pode oferecer isso aos empresários.
Henrique Meirelles, presidente da HMA&Associados

*A repórter viajou a Nova York a convite do Lide.

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