Eletrônicos, móveis e vestuário podem ser afetados com mudança no parcelado
Karla Dunder
Colaboração para o UOL, de São Paulo
01/11/2023 13h14
Pesquisa do Instituto Locomotiva aponta que os setores de móveis, eletrodomésticos e eletrônicos e vestuário seriam os mais afetados em volume de vendas se o número de parcelas sem juros no cartão de crédito fosse limitado, dizem os comerciantes. O levantamento, que ouviu empreendedores, foi realizado após o Banco Central propor que as compras sem juros no cartão sejam limitadas a 12 parcelas, caindo para 9 e, depois, para 6.
O que diz a pesquisa
Em números gerais, 72% dos comerciantes brasileiros afirmam que teriam impacto nas vendas. Mudança do modelo de cobrança poderia afetar os negócios, segundo eles.
84% dos comerciantes de móveis, eletrodomésticos e eletrônicos disseram que suas vendas cairiam. No comércio de roupas, calçados e acessórios, o percentual é de 83%.
No setor de autopeças e serviços para automóveis, 78% afirmam que teriam o negócio impactado. No setor da construção civil, essa percepção é comum a 77% dos donos de lojas, assim como no ramo de saúde, higiene e beleza.
O estudo foi feito entre comerciantes das cinco regiões do Brasil, formais e informais, com faturamento de até 5 milhões. O levantamento do Instituto Locomotiva foi feito entre os dias 30 de agosto e 22 de setembro de 2023 com 800 pesquisados. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos.
Parcelar é opção por causa da renda
População só consegue adquirir bens se comprar parcelado, porque não tem renda. O parcelamento sem juros é uma prática consolidada e benéfica para o comércio, afirma a CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo). "O ponto mais importante é entender que o parcelado sem juros é um hábito do consumidor, não por cultura, mas por restrições de renda, grande parte da população só consegue adquirir bens e serviços por meio das compras parceladas sem juros", destaca o economista-chefe da CNC, Felipe Tavares.
Segundo pesquisa divulgada pela CNC 90% do varejo brasileiro tem suas vendas parceladas sem juros no cartão de crédito. Para 47% dos estabelecimentos, metade do faturamento vem das vendas parceladas. Para 29,3% dos varejistas, o parcelado sem juros representa entre 50% e 80% do faturamento. Para outros 13,2%, a fatia de vendas parceladas é superior a 80%.
Se as compras no parcelo sem juros forem extintas do dia para a noite, o país vai extinguir 13% dos estabelecimentos, o que representa um prejuízo de R$ 400 bilhões, com o impacto em toda a cadeia produtiva. Não existe uma solução simples para um problema complexo. Não é só um botão que se aperta. Juros são consequência de diversos problemas que precisam ser resolvidos. É preciso pensar antes de propor travas e interferências, a economia na vida real não é uma planilha, e ações podem ter consequências irreversíveis.
Felipe Tavares
Entenda a discussão
Proposta para limitar parcelado sem juros é para reduzir endividamento. A discussão em torno do parcelamento sem juros é complexa. O presidente do BC mencionou a possibilidade de mudança no parcelado sem juros pela primeira vez em agosto. Na ocasião, Campos Neto disse que a modalidade é um dos principais fatores que levam o consumidor ao juro rotativo e, consequentemente, à inadimplência.
A instituição sugeriu limitar a 12 o número de parcelas sem juros em compras no cartão de crédito. Em 16 de outubro, Campos Neto esteve com representantes do comércio, maquininhas e bancos, mas a reunião acabou sem consenso.
Para Campos Neto, mercado precisa ceder. Em 23 de outubro, ele voltou a falar sobre o tema. Em evento promovido pelo jornal O Estado de S. Paulo, Campos Neto afirmou que o mercado precisa ceder de alguma forma para encontrar "uma solução para que as pessoas possam continuar comprando com o parcelado sem juros e não tenhamos uma bola de neve no efeito do rotativo".