Fim do parcelado sem juros prejudicaria empreendedores, diz Sebrae
Do UOL, em São Paulo
06/11/2023 15h23
Para o Sebrae, o parcelamento sem juros é indispensável para a economia do país. Além disso, diversos negócios podem fechar com o fim do parcelado, e pequenos empresários estão "apavorados" com essa possibilidade, diz o presidente da entidade. A organização publicou nota hoje, 6, a favor da modalidade de crédito.
O que diz o Sebrae
Limitar ou acabar com o parcelado sem juros prejudica consumidores e empreendedores, diz o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas). A instituição, que representa micro e pequenas empresas do país, avalia que não existe amparo técnico para mudar ou mesmo extinguir a modalidade.
Empresários estão "apavorados", afirma Décio Lima, presidente do Sebrae, ao UOL. O presidente diz que há uma certa angústia por parte dos micro e pequenos empreendedores, que podem até ter que fechar o próprio negócio se a mudança, de fato, acontecer. "É uma situação assustadora, porque o que eu tenho ouvido é: 'Olha, simplesmente, vou fechar minha lojinha porque 90% daqueles que são meus fregueses compram parcelado'", diz.
Lojistas também usam o cartão de crédito para financiar suas compras. 39% dos donos de pequenos negócios usam o cartão de crédito como modalidade de financiamento para suas empresas. O dado é da pesquisa "Financiamento dos Pequenos Negócios no Brasil", realizada pelo Sebrae em agosto deste ano.
Cartão de crédito é mais usado que outras modalidades de empréstimo. Apenas 7% dos empresários têm empréstimos em bancos privados (7%) ou públicos (4%). Décio Lima, presidente do Sebrae, lembra que micro e pequenos empreendedores usam o cartão para abastecer estoques. Eles "compram no parcelamento e vendem no parcelamento", diz ele.
94% dos CNPJs do país são de micro e pequenas empresas. Desta forma, o Sebrae avalia que uma mudança no parcelamento sem juros impactaria a economia fortemente, já que boa parte da população deixaria de consumir itens básicos, porém essenciais, como é o caso de eletrodomésticos.
O parcelado sem juros movimenta um trilhão de reais. Isso é 10% do PIB brasileiro. Do setor que nós pertencemos, nove em cada 10 varejistas no Brasil adotam o parcelado sem juros. Não podemos imaginar que uma conquista dessa, que se transformou num processo cultural da sociedade brasileira, venha ser retirada do dia para a noite.
Décio Lima, presidente do Sebrae
Entenda a discussão
A discussão em torno do parcelamento já dura alguns meses. O presidente do BC mencionou a possibilidade de mudança no parcelado sem juros pela primeira vez em agosto. Na ocasião, Campos Neto disse que a modalidade é um dos principais fatores que levam o consumidor ao juro rotativo e, consequentemente, à inadimplência.
No dia 16 de outubro, a instituição sugeriu limitar a 12 o número de parcelas sem juros em compras no cartão de crédito. Na ocasião, Campos Neto estava reunido com representantes do comércio, maquininhas e bancos, mas a reunião acabou sem consenso.
Além do Sebrae, diversas associações já se manifestaram contrárias a qualquer tipo de mudança. É o caso da CNC (Confederação Nacional do Comércio), Proteste, Abad (Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores), Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), Afrac (Associação Brasileira de Tecnologia para o Comércio e Serviços), Anamaco (Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção) e CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas). Todas reiteram que não existe dado que comprove a relação entre o parcelamento e a inadimplência da população.
No último dia 23, Campos Neto voltou a falar sobre o tema. Em evento promovido pelo jornal O Estado de S. Paulo, o presidente do Banco Central afirmou que o mercado precisa ceder de alguma forma para encontrar "uma solução para que as pessoas possam continuar comprando com o parcelado sem juros e não tenhamos uma bola de neve no efeito do rotativo".
A proposta de limitar o parcelamento está relacionada às discussões sobre os juros do crédito rotativo. O setor precisa propor até o final deste ano uma autorregulação que reduza os juros da modalidade, ou então, passa a valer um teto de 100% do valor original da dívida, aprovado pelo Congresso. Os bancos argumentam que para baixar os juros do rotativo, o parcelamento deveria mudar.
Em agosto, a taxa de juros do crédito rotativo ficou em 445,7%. A alta foi de 4,4 pontos percentuais em relação ao mês de julho. Os clientes entram no rotativo quando não pagam a fatura do cartão integralmente e precisam arcar com a taxa de juros mais cara do mercado.