Starbucks e Subway: o que vai acontecer com as lojas no Brasil?
Bárbara Muniz Vieira
Colaboração para o UOL, em Ottawa (Canadá)
20/11/2023 04h00
O pedido de recuperação judicial da SouthRock Capital, operadora das marcas Starbucks, Subway, Eataly e TGI Fridays no Brasil, pegou funcionários e consumidores de surpresa. Desde então,a empresa teria fechado mais de 40 lojas da famosa rede de cafeterias no país. Mas o que vai acontecer com as outras lojas da Starbucks? O Subway e as outras marcas também vão fechar lojas?
O que aconteceu
A Southrock pediu recuperação judicial, com uma dívida de R$ 1,8 bilhão. A operadora SouthRock Capital alegou problemas financeiros, instabilidade da economia brasileira, volatilidade dos juros, variações do dólar e a pandemia de covid-19 no pedido de recuperação judicial, apresentado no dia 31 de outubro ao Tribunal de Justiça de São Paulo. O documento foi elaborado pela TWK Advogados.
Três anos de vendas em queda. Em 2020, ano da pandemia, a SouthRock afirma que teve uma queda de 95% nas vendas e teve de lidar com a inadimplência de parceiros comerciais que não conseguiram arcar com suas dívidas. Em 2021, a empresa afirma que teve queda de 70% nas vendas e em mais 30% em 2022, conforme o pedido de recuperação judicial.
Quem é a SouthRock?
A empresa foi fundada em 2015 com foco na gestão, desenvolvimento e operação de marcas de alimentos e bebidas no Brasil. A operadora multimarcas da empresa, a Brazil Airport Restaurants, inaugurou suas primeiras lojas de aeroporto em 2017. Em 2018, a SouthRock tornou-se licenciada da rede de cafeterias Starbucks e das lanchonetes TGI Fridays no Brasil. Enquanto isso, já tinha lojas da Starbucks em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Expansão começou em 2019. A Starbucks chegou em Santa Catarina, Distrito Federal, Rio Grande do Sul, Paraná e Minas Gerais. Em 2022, a SouthRock comprou o direito de operação do centro gastronômico Eataly e assumiu o Subway no Brasil.
SouthRock contava com 187 lojas da Starbucks. A empresa possuía 187 lojas da rede de cafeterias no Brasil, mas há registros (não confirmados pela operadora) de fechamento de 43 lojas da Starbucks em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre desde o fim de outubro. Agora, seriam 144 lojas ainda em atividade.
Pelo mundo, a Starbucks tem 38.038 lojas em 80 países. A maioria delas está nos Estados Unidos, com 16.352 lojas no total. As informações são da Starbucks global.
Em nota, a SouthRock afirma que está fazendo um "ajuste do modelo de negócio à atual realidade econômica". Esses ajustes incluem a revisão do número de lojas operantes, do número de funcionários, do calendário de abertura de novas lojas, além de alinhamentos com fornecedores e parceiros. A TGI Friday tem nove lojas entre São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal. O Eataly tem apenas a loja de São Paulo, mas a rede está em mais sete cidades em seis países diferentes. Já o Subway tem mais de 37 mil unidades em cem países, mas a SouthRock não divulga o número de lojas no Brasil.
A Starbucks e as outras marcas vão sair do Brasil?
Sede da rede de cafeterias pediu rescisão da licença da Southrock para operar no Brasil. Segundo o pedido de recuperação judicial, a Starbucks Coffee International Inc., sede americana da rede, notificou no dia 13 de outubro a SouthRock com um pedido de rescisão imediata dos acordos de licença de uso da marca Starbucks no Brasil.
Medida foi recebida com "absoluta surpresa", diz a empresa. A SouthRock, porém, pede para manter a marca pelo menos até a conclusão da recuperação judicial para honrar as dívidas com seus credores, uma vez que o faturamento de R$ 50 milhões mensais da marca é um de seus maiores ativos.
Ainda não se sabe se a SouthRock vai perder a operação do Starbucks no Brasil. A empresa disse não reconhecer como válida a notificação da sede americana de rescisão dos direitos sobre a marca no Brasil, já que "não foi realizada em observância à legislação vigente". Já a Starbucks global afirmou em nota ao UOL que não divulga o conteúdo de suas discussões internas com seus operadores de negócios licenciados.
Mas é improvável que tanto a Starbucks quanto o Eataly e a TGI Friday fechem as portas no país. Recuperação judicial é um instrumento utilizado justamente para que a empresa tente atravessar a crise econômico-financeira e se restabelecer, ainda que na mão de empresários diferentes, de acordo com Bruno Ramos, sócio do Fazano & De Lucca Advogados, mestrando em direito dos negócios na FGV e especialista em Direito Societário e em Direito dos Contratos.
Neste caso, é importante ter em mente que quem pediu recuperação judicial foi a empresa responsável pela operação no Brasil. Ainda que a SouthRock não tenha tido êxito, outras operadoras poderão assumir a operação local ou até mesmo a própria matriz da Starbucks, Eataly e TGI Friday podem assumir. Existem alternativas para que essas marcas continuem operando no Brasil, o que parece hoje ser o cenário provável.
Bruno Ramos, sócio do Fazano & De Lucca Advogados
O Subway vai fechar?
Segundo a SouthRock, a marca Subway não faz parte do pedido de recuperação judicial. "Por uma decisão de negócios, tomada em conjunto com seus parceiros comerciais", justifica. As demais marcas, Eataly e TGI Friday, no entanto, estão, sim, contempladas no pedido, conforme a empresa.
Como está o pedido de recuperação da South Rock?
No dia 1º de novembro, a Justiça de São Paulo negou o pedido de recuperação judicial. Ela alegou que a SouthRock não apresentou provas que demonstrassem a situação financeira alegada. O juiz Leonardo Fernandes dos Santos, da 1ª Vara de Falências de São Paulo, também pediu uma perícia judicial para analisar a situação da empresa.
Pedido de tutela de urgência atendida. Uma semana depois, porém, a Justiça atendeu o pedido de tutela de urgência da SouthRock Capital para antecipar os efeitos da recuperação judicial. Na prática, a decisão protege parte do patrimônio da empresa, mas em caráter temporário. Uma perícia preliminar também já apontou a necessidade de uma recuperação judicial para proteger a empresa contra seus credores.
R$ 5 milhões foram bloqueados pela Justiça por pedido dos credores.
E quais os efeitos de uma recuperação judicial? A medida serve para evitar que uma empresa em dificuldades financeiras feche as portas de uma vez. Assim, a empresa endividada consegue um prazo para continuar operando enquanto negocia com seus credores, sob mediação da Justiça. As dívidas ficam congeladas por pelo menos 180 dias, e a operação é mantida.
Nota da SouthRock Capital na íntegra:
Ao longo dos últimos três anos, desde que a pandemia da covid-19 transformou drasticamente a vida de todos ao redor do mundo, incontáveis empresas, incluindo varejistas, têm sido vistas lutando para manter suas operações. Os desafios econômicos no Brasil resultantes da pandemia, a inflação e a permanência de taxas de juros elevadas agravaram os desafios para todos os varejistas, incluindo a SouthRock.
Neste cenário, a SouthRock segue comprometida a defender a sua missão e seus valores, enquanto entra em uma nova fase de desafios, que exigiu a reestruturação de seus negócios para continuar protegendo as marcas das quais tem orgulho de representar no Brasil, os seus Partners (colaboradores), consumidores e as operações de suas lojas.
O processo de reestruturação da SouthRock já começou, com o apoio de consultores externos e stakeholders. Mas, o trabalho deve continuar, então a SouthRock solicitou recuperação judicial para proteger financeiramente suas operações no Brasil atrelado a decisões estratégicas para ajustar seu modelo de negócio à atual realidade econômica. Por uma decisão de negócios, tomada em conjunto com seus parceiros comerciais, a marca Subway não faz parte do pedido de recuperação judicial.
Neste momento, o pedido está sendo analisado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), o qual já concedeu tutela de urgência à SouthRock, antecipando parte dos efeitos da recuperação judicial.
Os ajustes às marcas já previstos pela SouthRock incluíram a revisão do número de lojas operantes, do calendário de aberturas, de alinhamentos com fornecedores e stakeholders, bem como de sua força de trabalho tal como está organizada atualmente.
Enquanto esses ajustes estruturais são implementados, todas as marcas continuarão sendo operadas pela SouthRock, entregando os produtos exclusivos e as experiências únicas que cada uma delas oferece aos consumidores que visitam suas lojas todos os dias.