Inflação da chuva: saiba como o clima tem afetado os preços dos alimentos
Márcia Rodrigues
Colaboração para o UOL, de São Paulo
04/02/2024 04h00
Não são apenas as contas de início de ano, como o IPTU e o IPVA, que pesam no bolso do brasileiro em janeiro e fevereiro. As chuvas, tradicionais neste período, também vêm contribuindo para deixar o preço dos alimentos mais caros. Principalmente de hortifrúti — hortaliças, legumes, verduras e frutas em geral.
Os preços dos alimentos e bebidas subiram 0,56% em dezembro, segundo o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que é considerado o indicador da inflação oficial do Brasil. O índice de janeiro será divulgado na quinta-feira (8).
O que aconteceu
Os hortifrútis foram os vilões da cesta de alimentos. Destaque para o pepino, com alta de 35,32%, seguido pela batata-inglesa (19,09%), abobrinha (16,25%), repolho (11,88%) e tubérculos, raízes e legumes (8,09%). Entre as frutas, altas que se destacaram foram: laranja-baía (22,15%), maracujá (21,89%), limão (20,48%), tangerina (12,59%), abacate (9,54%), laranja-pera (9,49%) e banana-prata (8,24%).
No verão os preços sobem muito devido aos efeitos sazonais e pelo clima mais hostil: chove muito e o sol é mais intenso. Com isso, a produtividade dos alimentos in natura cai muito e os preços sobem bastante. E este ano a alteração climática veio mais forte pelo El Niño, que intensifica o calor da estação e traz o volume de chuvas acima do normal.
André Braz, economista e coordenador do IPC do FGV- Ibre
El Niño influencia nos preços. O efeito El Niño faz com que os itens da feira livre - hortaliças, legumes, frutas, tubérculos - fiquem mais caros, segundo Braz. "A boa notícia é que é um efeito transitório e, à medida que a gente se aproxima do outono, esses preços tendem a diminuir", pontua Braz.
Muita chuva impactou a produção. O excesso de chuvas que ocorreu nos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, no final de 2023, acabou afetando demais a produção dos hortifrútis, segundo Alê Delara, diretor da Pine Agronegócios. "Por isso, vimos alta de preço excessiva nesses alimentos", diz.
Chuvas podem comprometer safra 2024
Arroz mais caro. Devido às chuvas, houve atraso no plantio de arroz no Rio Grande do Sul no segundo semestre de 2023. Em outro continente, na Índia, maior exportador global de arroz, a falta de chuvas, pior dos últimos 10 anos, comprometeu a safra de arroz.
Houve uma grande quebra de produção de arroz na Índia e o país baniu as exportações no final do ano passado, o que acabou causando um aumento de preço no cereal no mercado internacional. Agora, o Rio Grande do Sul também terá um período de colheita com produção menor. Por isso, estamos vendo o patamar do preço do arroz em níveis bem elevados.
Alê Delara, Diretor da Pine Agronegócios
Safra da soja e do milho também podem ser comprometidas. O fenômeno El Niño deve durar até abril, segundo os especialistas, o que pode comprometer safras importantes como a de soja e a de milho.
A queda na produção desses grãos pode fazer com que toda a cadeia de derivados, inclusive as rações oriundas deles, que alimenta os animais que a gente consome a carne, como frangos, suínos e bovinos, encareça. E isso também pode afetar o preço das carnes.
André Braz, economista e coordenador do IPC do FGV- Ibre
Aumento do preço dos grãos não teria um efeito só sazonal, mas duradouro. "Milho e soja ainda não impactaram a inflação. Por enquanto está em baixa, mas, o corte de chuvas na região centro-oeste está colocando uma quebra de expectativa na produção de soja. O Brasil, que tinha potencial de produzir 165 milhões de toneladas desse grão, deve entregar o número de 149 milhões de toneladas, segundo nossas estimativas", afirma Delara.
Preço do óleo de soja deve subir. Isso porque a demanda internacional está mais fraca, mas, a partir de março ou abril, devemos ver o preço da soja subir, afetando o preço do óleo, que realmente atinge o consumidor final, na prateleira de supermercado, na avaliação de Delara.