Haddad critica bilionários e defende imposto global para super-ricos no G20
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), defendeu nesta quarta-feira (28), durante a abertura da 1ª reunião de ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais do G20, a criação de uma tributação progressiva para bilionários. A participação de Haddad foi virtual porque ele foi diagnosticado com covid-19.
O que ele disse
Em seu discurso, Haddad disse que bilionários têm de pagar uma "justa contribuição em imposto". O ministro afirmou que a ideia, que será discutida em uma sessão com autoridades na quinta-feira (29), constituiria um terceiro pilar para a cooperação tributária internacional— a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) trabalha em uma solução de dois pilares, que inclui taxação de empresas multinacionais com lucros bilionaríos, por exemplo.
Reconhecendo os avanços obtidos na última década, precisamos admitir que ainda precisamos fazer com que os bilionários do mundo paguem sua justa contribuição em impostos.
Fernando Haddad, ministro da Fazenda, em discurso virtual de abertura do G20
Ele destacou o aumento da pobreza global nos últimos anos. O ministro disse que a crise financeira mundial de 2008, marcada pela falência do tradicional banco Lehman Brothers, foi causada pela combinação de quatro fatores: a liberalização de mercados, flexibilização de leis trabalhistas, a desregulamentação financeira e a livre circulação de capitais.
Haddad afirmou que a crise de 2008 deixou o mundo ainda mais desigual. Embora ele reconheça que avanços sociais e econômicos levaram "milhões" a saírem da pobreza, sobretudo na Ásia, ele declarou que a pobreza avançou em níveis altos em diversos países. Por outro lado, bilionários seguiram praticamente intactos aos efeitos de uma economia instável, declarou.
O ministro da Economia defende que países ricos devem olhar pelos mais vulneráveis. Segundo ele, países desenvolvidos devem pensar em soluções globalmente e não apenas doméstica, ou seja, devem contribuir com propostas para a redução da pobreza no mundo. Em sua fala, Haddad defendeu uma "tributação justa" aos bilionários.
Chegamos a uma situação insustentável em que o 1% mais rico detém 43% dos ativos financeiros mundiais e emitem a mesma quantidade de carbono que os 2/3 mais pobres da humanidade.
Fernando Haddad, em discurso de abertura do G20 no Brasil
O G20 reúne as principais economias do mundo, além da União Europeia e da União Africana. O Brasil está à frente do grupo desde dezembro de 2023 e seguirá até novembro deste ano. O encerramento será na cúpula de chefes de Estado, no Rio de Janeiro.
Haddad diz que mais ricos 'não podem dar as costas' para o mundo
O ministro ressaltou que a recente emergência climática afeta os mais pobres. Ele criticou que faltam recursos para países endividados investirem em políticas públicas desse tipo, enquanto lidam com o enfraquecimento da atividade econômica e com juros altos no pós-pandemia. Na leitura do petista, nações ricas não podem dar as costas para o mundo e pensar apenas em soluções dentro de casa.
"Pobreza e desigualdade precisam ser enfrentadas como desafios globais, sob pena da ampliação das crises humanitárias e imigratórias."
A fala do ministro está alinhada com os objetivos do Brasil na presidência do G20. O país propôs duas forças-tarefa durante o ano em que presidirá o grupo das maiores economias do mundo: uma aliança global contra a fome e a pobreza e uma mobilização global contra a mudança do clima. A reunião do G20 acontece hoje e amanhã (29), no Pavilhão da Bienal, no Parque Ibirapuera, zona sul de São Paulo.
O presidente do Banco Central falou sobre o impacto da inflação controlada aos mais vulneráveis. Em discurso em inglês, Roberto Campos Neto, que está presente no evento, usou o microfone para dizer que a inflação baixa é uma peça essencial para a diminuição da pobreza em escala mundial.
Ele defendeu que essa política traz custos para a economia. No entanto, afirmou que adiar a restauração da estabilidade de preços pode acarretar mais prejuízos aos vulneráveis. "A melhor contribuição da política monetária para o crescimento econômico sustentável, baixo desemprego, o aumento do rendimento real e a melhoria das condições de vida das pessoas é manter a inflação baixa e estável", disse.
Programação em São Paulo
A programação de hoje inclui duas reuniões centrais com membros do G20. A coordenadora da Trilha de Finanças do G20, Tatiana Rosito, disse que ao longo do dia serão realizadas sessões com ministros de Finanças e presidentes dos bancos centrais. A primeira delas vai tratar desigualdades de renda, gênero e raça e suas implicações para políticas macroeconômicas e a segunda discutirá perspectivas sobre crescimento econômico, inflação e taxa de juros.
A imprensa também terá um briefing ao meio-dia. O secretário de Políticas Econômicas do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello, dirá aos jornalistas quais devem ser as prioridades brasileiras para a Trilha de Finanças do G20, de acordo com um comunicado oficial.
Fernando Haddad adiantou um dos temas da reunião de quinta-feira. Segundo ele, os integrantes das delegações do G20 vão discutir a possibilidade de criação de um imposto mínimo global sobre a riqueza. Outros assuntos também devem entrar em pauta.
Quais temas devem ser tratados na reunião do G20
- Combate à pobreza e à desigualdade
- Financiamento ao desenvolvimento sustentável
- Reforma da governança global
- Tributação justa
- Cooperação global para transição ecológica
- Endividamento crônico de vários países