Salários e planos de saúde: como a Eletrobras pretende cortar mais gastos
A Eletrobras propôs uma redução de 12,5% no salário de funcionários que recebem R$ 15.572 e foram contratados antes de 17 de junho de 2022. Além dos cortes, a companhia, privatizada em junho de 2022, também pretende unificar os planos de saúde. Representantes de trabalhadores contestam as decisões, que precisam ser negociadas em convenção trabalhista. Para analistas de mercado, esses cortes de custos são "naturais".
O que a Eletrobras quer
A revisão do acordo coletivo de trabalho foi apresentada ontem (17) aos sindicatos. Uma fonte que representa os trabalhadores da Eletrobras diz que a repercussão entre os funcionários foi "péssima". Ele afirma que cerca de 5.000 dos 8.300 funcionários seriam afetados com a medida.
O documento exclui a cláusula sétima do acordo coletivo firmado em 2022. Nela, é dito que até 30 de abril de 2024 que as dispensas em massa sejam feitas de uma só vez. As coletivas, por sua vez, devem ser realizadas em lotes e as individuais sucessivas estarão ficarão condicionadas à prévia oferta do Plano de Demissão Voluntária (PDV).
Os trabalhadores temem que a Eletrobras possa demitir mais sem a necessidade de lançar outro PDV. Mas uma fonte da empresa disse, sob anonimato, que novas demissões em massa estão descartadas.
Os planos de saúde também estão sob risco. Segundo o documento, a Eletrobras quer adequar o plano dos funcionários a uma só operadora, possivelmente a Bradesco Saúde ou a Unimed, de acordo com a mesma fonte. Hoje as empresas subsidiárias da holding contam com planos de autogestão. Furnas tem o Real Grandeza Saúde; Eletrobras, o Eletros Saúde; Chesf; o Fachesf Saúde; Eletronorte, o E-Vida; e a Eletrosul oferece o Elos Saúde.
A discussão entre Eletrobras e trabalhadores pode parar em Brasília. Se não chegarem a um acordo, o TST (Tribunal Superior do Trabalho) mediará a situação. Segundo a fonte ouvida pelo UOL, é possível que a categoria entre em greve. "Temos mais duas rodadas de negociação nas próximas semanas, mas a empresa não abre mão de reduzir salários", diz.
Eletrobras já cortou 4.000 funcionários
Em outubro de 2022, a empresa anunciou um PDV. Desde junho de 2023, foram cortados cerca de 4.000 postos de mais de 12 mil—ou seja, um terço do quadro. Os últimos desligamentos acontecerão em 30 de abril.
A investida de corte de custos da Eletrobras deve aumentar o atrito com o governo federal. No início deste mês, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, recebeu representantes da CNU (Confederação Nacional dos Urbanitários) para tratar, por exemplo, das dificuldades com o acordo coletivo com a nova gestão da Eletrobras. "Vamos convocar a empresa para uma mesa de conciliação", disse Marinho na ocasião.
A União tem 43% das ações da Eletrobras. Mas, com as regras criadas na privatização, seus votos estão limitados a 10% do capital da empresa. O governo e a empresa estão em processo de conciliação no STF (Supremo Tribunal Federal) pela ADI 7385, que discute o poder de voto da União na Eletrobras.
A Eletrobras afirma que está em negociação com os sindicatos. Em nota enviada ao UOL, a companhia diz que "busca um acordo coletivo baseado nas determinações da lei e na construção de uma empresa cada vez mais robusta". Ainda, elimina os rumores de demissões em massa, destacando a contratação de mil funcionários nos últimos dez meses. "O que a Eletrobras busca é rever cláusulas de seu acordo coletivo anterior à capitalização para implementar políticas de pessoal que estejam em linha com práticas do setor privado."
Especialistas dizem que a proposta era esperada
O enxugamento de postos de trabalho é uma consequência esperada. O analista da Levante Corp, Arlindo Souza, diz que o anúncio do PDV seria apenas um dos primeiros passos de redução de custos da nova gestão. Para além dos cortes com pessoal, ele avalia que a incorporação das subsidiárias também será pauta na Eletrobras. "Esse movimento de fazer esses ajustes é natural. Mas é óbvio que vai ter resistência dos trabalhadores e sindicatos", diz.
A Eletrobras teve um ano de 2023 positivo. Em balanço divulgado em março, a companhia destacou que o lucro líquido aumentou 21% em relação a 2022, para 4,4 bilhões. O EBITDA, sigla para lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, chegou a R$ 21,6 bilhões (+19%).
A empresa justificou o desempenho pela adequação de custos e despesas. O presidente da Eletrobras, Ivan Monteiro, afirmou durante teleconferência a analistas de mercado que descarta um novo PDV, mas que a redução de custos acontecerá durante 2024.
O mercado analisa a investida da Eletrobras com atenção. O analista da Genial Investimentos, Vitor Souza, diz que a ideia da companhia confronta o governo, o que pode ter consequências negativas nos preços de cotação. Na tarde desta quinta-feira (18), as ações da companhia são negociadas a R$ 37,52 (-1,44%).
O mercado avalia a redução de custos da Eletrobras como positiva. Mas alguns indicadores da empresa no mercado ainda estão mais próximos daqueles de uma estatal do que de uma empresa privada, diz ele.
O mercado não quer pagar antecipadamente por esse processo de reestruturação da Eletrobras. Tudo depende de quão célere isso vai ser.
Vitor Sousa, analista da Genial Investimentos