Inflação avança 0,38% em abril; alimentos e remédios foram destaque
Alexandre Garcia
Colaboração para o UOL, de Sâo Paulo
10/05/2024 09h03
A inflação oficial de preços voltou a acelerar e subiu 0,38% em abril, ante variação de 0,16% registrada no mês anterior. Já na comparação anual, a inflação caiu. Em abril de 2023, a variação havia sido de 0,61%. Conforme as informações divulgadas nesta sexta-feira (10) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o ganho de ritmo do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) foi puxado pela alta dos alimentos e dos remédios.
Nos últimos 12 meses, a inflação foi de de 3,69%, abaixo dos 3,93% observados nos 12 meses imediatamente anteriores.
Como foi o IPCA
A variação do índice de preços a menor para o mês em três anos. Mesmo com a aceleração, a taxa é a menor para o mês desde a variação de 0,31% apurada em 2021. No mesmo período do ano passado, a alta foi de 0,61%.
No acumulado em 12 meses, o índice desacelerou. Com a alta registrada em abril, o índice soma uma variação de 3,69% no período anual. A variação é inferior à taxa dos 12 meses encerrados em março (3,93%). No ano, a inflação acumula alta de 1,8%.
Resultado mantém o IPCA dentro da meta. O índice acumulado em 12 meses segue no intervalo estabelecido pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) em 3%. O valor tem margem de tolerância de 1,5 ponto percentual, entre 1,5% e 4,5%.
Alta mensal foi guidada pelas variações dos alimentos e produtos farmacêuticos. Os movimentos colocam os grupos de saúde e cuidados pessoais (+1,16%) e alimentação e bebidas (+0,70%) como os principais vilões da inflação em abril.
Saúde e cuidados pessoais foi impactado pela alta de preços dos produtos farmacêuticos, em decorrência do reajuste de até 4,5% autorizado pela CMED (Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos), a partir de 31 de março.
André Almeida, gerente do IPCA
Inflação dos alimentos acelerou
Entre os alimentos, a alta de 0,7% é superior à apresentada em março. A aceleração é puxada pelos itens que compõem a alimentação no domicílio, que saltou de 0,59% no mês anterior para 0,81% em abril. A alimentação fora de casa, por sua vez, subiu 0,39%, alta também acima da apurada em março (+0,35%).
Mamão (22,76%), cebola (15,63%), tomate (14,09%) e café moído (3,08%) foram os vilões. Em abril, os produtos foram responsáveis pelas variações mais significativas entre os alimentos devido à redução da oferta.
Fenômenos climáticos ocorridos no fim de 2023 e no começo de 2024 afetaram a produção.
André Almeida, gerente do IPCA
Grupos
Passagens aéreas ficaram mais baratas e combustíveis mais caros. A alta de 0,14% do grupo de transportes foi atenuada pela queda de 12,09% dos bilhetes aéreos. Por outro lado, os preços do etanol (+4,56%), da gasolina (+1,5%) e do óleo diesel (+0,32%) registraram altas.
Dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados, sete tiveram alta em abril. No mês, apenas artigos de residência (-0,26%) e habitação (-0,01%) apresentaram oscilações negativas.
- Saúde e cuidados pessoais: +1,16%
- Alimentação e bebidas: +0,7%
- Vestuário: +0,55%
- Comunicação: +0,48%
- Transportes: +0,14%
- Despesas pessoais: +0,1%
- Educação: +0,05%
- Habitação: -0,01%
- Artigos de residência: -0,26%
O que é o IPCA?
O índice oficial de inflação do Brasil é calculado a partir de uma cesta de 377 produtos e serviços. A escolha pelos itens tem como base o consumo das famílias com rendimentos de um a 40 salários mínimos. O cálculo final considera um peso específico para cada produto analisado pelo indicador.
O IPCA leva em conta a evolução dos preços em nove grandes grupos. As análises consideram as variações apresentadas por itens das áreas de alimentação e bebidas, artigos residenciais, comunicação, despesas pessoais, educação, habitação, saúde e cuidados pessoais, transportes e vestuário.
O levantamento mensal é feito nos grandes centros urbanos do país. Para isso, o IBGE considera as regiões metropolitanas de Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Vitória, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Porto Alegre, além do Distrito Federal. Há ainda pesquisadores nos municípios de Goiânia, Campo Grande, Rio Branco, São Luís e Aracaju.
Como avalia o mercado
IPCA teve alta pouco acima da expectativa de 0,34% do mercado financeiro. Ainda assim, os analistas avaliam que a oscilação não traz novidades significativas. Para os próximos meses, a alta dos alimentos deve persistir.
Na minha visão, o grupo de alimentação deve seguir pressionando a inflação, por conta da tragédia no Rio Grande do Sul, que é um grande produtor de alimentos do país, principalmente no arroz.
André Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital
Entre os serviços, a desaceleração da alta para 0,05% é vista como positiva. Tal variação foi motivada, principalmente, pela queda no preço das passagens aéreas.
Quando a gente olha os serviços subjacentes, que excluem, de certa forma, preços mais voláteis, eles mostraram também melhor, saindo de uma alga 0,45% para 0,32%
Fabrício Silvestre, analista de renda fixa da Levante Inside Corp
Impacto sobre os juros
A inflação é determinante para a variação da Selic. As decisões sobre a taxa básica de juros têm as variações de preços como ponto central. Isso acontece porque os juros menores estimulam o consumo e, consequentemente, elevam os preços.
Última reunião do BC (Banco Central) reduziu os juros pela sétima vez seguida. O corte, de 0,25 ponto percentual, teve magnitude menor do que os anteriores e derrubou a taxa Selic para 10,5% ao ano.
No comunicado sobre a decisão dividida, os diretores do BC veem fatores de risco para a inflação. A avaliação considera maior persistência das pressões inflacionárias globais, que sofre com impactos sobre a desinflação mais fortes do que o esperado.
A conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento, expectativas de inflação desancoradas e um cenário global desafiador, demanda serenidade e moderação na condução da política monetária.
Copom, em nota
Resultado do IPCA abre caminho para elevar rito de cortes de juros. Após a decisão dividida, com o apoio de cinco dos nove diretores do Copom (Comitê de Política Monetária), a percepção é de que as quedas da taxa Selic podem ganhar intensidade.
Caso o item de serviços subjacentes siga desacelerando, o IPCA em si siga comportado e siga convergindo para a meta, acredito que poderemos voltar a ter cortes de 0,5 ponto percentual na Selic se o cenário externo, principalmente em relação à inflação americana, colaborar com isso.
André Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital