Do pãozinho às viagens: como a alta do dólar impacta seu bolso
Juliana Moraes
Colaboração para o UOL, em São Paulo
13/06/2024 10h06
O dólar comercial fechou em R$ 5,4024 no fim do último pregão, nesta quarta-feira (12), valor que não era superado há 18 meses. A alta da moeda americana afeta diretamente o bolso do brasileiro já no curto prazo.
O que aconteceu
Tensões da política fiscal local foram aumentadas pelo discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Durante evento, Lula diz que está arrumando as contas: "Estamos arrumando a casa e colocando das contas públicas em ordem para assegurar o equilíbrio fiscal", afirmou ele. Sem falar em cortes, o mercado interpretou essa fala como sendo pró-gastos e com incertezas sobre a meta fiscal
Além disso, o Federal Reserve (FED) deu mais um tom conservador sobre os juros americanos. O banco manteve , mantiveram a moeda americana fortalecida.
O real já desvalorizou 11,33% no ano em relação ao dólar.
Impacto para o brasileiro
Impacto pode ser sentido no curto e longo prazo. É o que dizem analistas ouvidos pelo UOL. Os preços de produtos importados são os primeiros a serem afetados, mas a desvalorização do real pressiona a inflação geral da economia brasileira em efeito cascata.
Importados ficam mais caros. Isso porque as importações são negociadas em dólar, e os efeitos já podem ser sentidos em menos de um mês. O pão e o macarrão encarecem, já que o trigo, da farinha, é importado do exterior.
Até a gasolina fica mais cara. "Apesar de ser um grande produtor de petróleo, o Brasil não possui capacidade de refino suficiente para atender a demanda interna por combustíveis, importando quase toda a gasolina consumida no país", diz Matheus Pizzani, economista da CM Capital.
Viagens ao exterior pesam mais. Com mais reais para comprar um dólar, o orçamento inicial pode ser comprometido. "Uma viagem para o exterior mal planejada poderá ser adiada, pois os custos aumentam com relação a meses atrás", diz Anilson Moretti, head de câmbio da HCI Invest.
Impacto para empresas e a economia
Oferta interna cai. Com o real desvalorizado, produtores optam por exportar suas produções para lucrarem em dólar, que vale mais. O mesmo acontece com os investimentos.
Margem de lucro das empresas é reduzida. Com preços mais caros, o custo de produção também é elevado, reduzindo as margens de lucro. Isso pode levar ao aumento do preço final para os consumidores. Além disso, com alta nos preços, a indústria também corre o risco de ter que lidar com a formação de estoques indesejados de produtos por conta da falta de demanda.
Inflação é pressionada para cima. "O aumento dos custos e dos insumos corrói a competitividade das empresas brasileiras de uma forma geral", diz Moisés Jardim, da Fundamenta Investimentos. A médio prazo a queda no investimento faz com que as empresas percam produtividade e competitividade.
Juros também podem ser afetados. "O aumento da inflação pode fazer com que o Banco Central adote uma política de juros mais restritiva, com o aumento da taxa Selic. Tudo isso acaba afetando a capacidade de crescimento do país", diz Jardim.