Plano Real 30 anos: pandemia muda fluxo de circulação do dinheiro no Brasil
Presente nas mãos e bolsos dos brasileiros desde 1º de julho de 1994, as notas de real esbarraram na pandemia do novo coronavírus. Desde a implementação do Plano Real, a expansão do dinheiro físico ocorreu de maneira ascendente até 2020, quando o total de cédulas em circulação disparou 32% com criação do auxílio emergencial. No ano seguinte, o volume recuou pela primeira vez e passou a operar estável, em patamar abaixo do registrado no ponto mais alto dos últimos 30 anos.
O que aconteceu
Real em circulação interrompe trajetória de altas. O ano de 2021 marca a primeira queda do total de dinheiro nas mãos dos brasileiros. A redução de 8,5%, de R$ 370,44 bilhões para R$ 339 bilhões, ocorre após a disparada de 32% do volume no ano anterior. Os dados fazem parte do Sismecir (Sistema de Administração do Meio Circulante), do BC (Banco Central).
Pico da série foi motivado pela liberação do auxílio emergencial. A movimentação é atribuída ao benefício de R$ 600 às famílias de baixa renda no momento de isolamento social devido ao avanço da pandemia de covid-19. "Houve o aumento da quantidade de moeda em função do auxílio emergencial, que pegou uma parcela significativa da população aos bancos", observa Pedro Rossi, professor da Unicamp (Universidade de Campinas).
Em 2020, em parte devido a efeitos causados pela crise sanitária, a quantidade de dinheiro em circulação apresentou crescimento atípico, bastante superior ao crescimento anual médio observado nos últimos anos antes deste período.
Antônio José Medina, chefe do Departamento do Meio Circulante do BC
Nota de R$ 200 foi lançada durante o aumento da demanda. Ao observar a expansão da busca pelo dinheiro físico, a autoridade monetária optou pela criação de uma face de maior valor. "O lançamento parecia adequado pelo aumento do consumo dos mais vulneráveis na pandemia e pela incerteza se o Pix seria aceito e amplamente utilizado pela população", diz Rodolfo Olivo, professor da FIA Business School.
Cenário adverso foi seguido pela estabilidade do real. Após as variações ocasionadas pela pandemia, o sistema monetário nacional atravessa um momento de baixa movimentação. No último dia 10 de junho, eram R$ 347 bilhões em circulação no país. O valor é 1,6% maior do que o apurado no início deste ano, ainda figura abaixo do recorde alcançado em 2020.
Atualmente, embora inferior ao valor máximo de 2020, a quantidade de dinheiro em circulação ainda se encontra acima do valor que alcançaria caso houvesse mantido, desde 2019, o mesmo crescimento médio anterior.
Antônio José Medina, chefe do Departamento do Meio Circulante do BC
Criação do Pix desestimula o uso do dinheiro físico. O sistema revolucionou a forma de consumo a partir de novembro de 2020. Como consequência, a ferramenta de pagamentos instantâneos do BC é aliada à redução de renda para a queda do dinheiro em circulação. "O Pix foi implantando de forma experimental e seu uso tomou corpo no ano de 2021", recorda Olivo.
A inclusão das pessoas no sistema bancário e as tecnologias foram importantes, aliadas infelizmente a uma certa estagnação da renda da população, pelo baixo crescimento nestes anos e alta da inflação pelo efeito da pandemia.
Rodolfo Olivo, professor da FIA Business School
Nota de R$ 50 foi a que mais perdeu espaço. Com a redução de 19,4%, equivalente a quase 420 milhões de cédulas, o modelo de terceiro maior valor entre as notas de real existentes lidera a queda do meio circulante desde 2020. Por outro lado, o salto de 39,6% tornou as cédulas de R$ 100 as líderes de circulação.
Real digital vai determinar o fim do dinheiro impresso. Em fase de implementação pelo Banco Central, o Drex vai permitir a realização de transações sem uso de cédulas e moedas. A plataforma inovadora faz parte dos planos de médio e longo prazo da autoridade monetária.
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