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Desemprego e salário baixo: economistas avaliam risco de recessão nos EUA

Imagem: Getty Images

Do UOL, em São Paulo

09/08/2024 05h30

O pânico de investidores na segunda-feira indicou uma possível recessão nos Estados Unidos. Embora a economia continue crescendo, os índices apontam para uma desaceleração. O UOL consultou economistas para entender se há, de fato, o risco de uma recessão na economia americana e o que pode estar causando essa desaceleração.

O que aconteceu

Na segunda-feira, as Bolsas de Valores ao redor do mundo registraram quedas significativas. O Banco Central do Japão aumentou as taxas de juros no país o que valorizou a moeda local, o iene. O Japão, que anteriormente tinha a menor taxa de juros do mundo, viu uma mudança significativa com o aumento da taxa para 0,25% ao ano.

Isso afetou diretamente o "carry trade". Nessa estratégia de investimento, os investidores emprestavam dinheiro em países de baixa taxa de juros, como o Japão, para investir em países com juros mais altos, como Brasil e Estados Unidos. Com a mudança na política monetária japonesa, muitos investidores que se beneficiavam dessas transações começaram a retirar seus investimentos. Isso levou a uma desvalorização de moedas locais, como o real no Brasil, e queda nas bolsas de valores em países como Brasil, México e Estados Unidos.

Movimento se juntou à preocupação de investidores com uma possível recessão nos Estados Unidos. Este sentimento pessimista foi intensificado por um relatório de empregos divulgado na sexta-feira anterior, 2, e, que mostrou uma desaceleração inesperada nas contratações em julho.

O que é recessão?

Recessão, por definição, é uma queda na atividade econômica de um país. Desde 1974, considera-se que uma economia está em recessão quando ocorrem dois trimestres consecutivos de queda no PIB (Produto Interno Bruto), que é o valor total de bens e serviços produzidos no país durante um determinado período, em comparação com o trimestre anterior.

A recessão econômica envolve diferentes situações. Entre elas, estão a redução do nível de atividade econômica, aumento do desemprego, diminuição dos indicadores de consumo e investimento, queda na renda familiar e redução da renda total da sociedade, que inclui salários de pessoas e lucros de empresas — essa retração pode resultar em menores lucros e maior risco de falência.

Há também o conceito de recessão técnica. Nesse caso, a economia precisa apresentar queda por três trimestres consecutivos, ou seja, nove meses, para ser considerada em recessão técnica.

É um sinal de alerta econômico. O cenário mais preocupante ocorre quando essa contração econômica se prolonga por um período extenso, afetando vários setores.

Pode ter diversas causas. As causas de uma recessão podem incluir políticas econômicas mal planejadas ou mal executadas, além de choques externos que provocam uma redução súbita na produção, no consumo e no investimento.

A retração econômica afeta diversos aspectos sociais e econômicos. Ela pode levar a um aumento da pobreza e a uma deterioração nos serviços de saúde, educação e habitação.

A recessão afeta a vida das pessoas porque temos menos empregos, mais pessoas em situação de vulnerabilidade, menor poder de compra, e, portanto, menor bem-estar.
Juliana Inhasz, professora e coordenadora da graduação em economia do Insper

Os Estados Unidos vão entrar em recessão?

A economia dos EUA continua forte. No último trimestre, a economia americana cresceu mais do que o esperado, impulsionada principalmente pelos gastos dos consumidores, que representam mais de dois terços do PIB (Produto Interno Bruto) do país. O índice de atividades do setor de serviços dos Estados Unidos subiu de 48,8 em junho para 51,4 em julho, enquanto os analistas previam um aumento para 51.

Ainda não há recessão. Embora existam sinais de desaceleração na economia americana, isso não significa necessariamente uma recessão. É um alerta de que uma recessão pode ocorrer no futuro, mas ainda não é uma realidade, como explica Carla Beni, economista e professora de MBAs da FGV.

Regra econômica também causou preocupações. Criada pela economista Claudia Sahm, ex-colaboradora do Fed por mais de uma década, a "regra Sahm" é um indicador de recessão. Essa regra estabelece que, sempre que a taxa de desemprego média de três meses aumenta 0,5 ponto percentual em relação ao ponto mais baixo dos últimos 12 meses, isso indica os primeiros sinais de uma recessão econômica. Desde janeiro, a taxa subiu 0,6 ponto percentual. Mas a professora do Instituto de Economia e Relações Internacionais da UFU (Universidade Federal de Uberlândia) Vanessa da Costa Val Munhoz explica que a "regra Sahm" que foi usada para justificar o temor de uma possível recessão não é exata.

O indicador [de desemprego] está no mesmo nível dos períodos que se iniciaram as recessões americanas em 2001, 2008 e 2020. Mas este indicador não é descritivo, baseado em eventos passados, e nem preditivo, capaz de suportar previsões futuras. Uma recessão pode acontecer, mas estará certamente associada a outros fatores econômicos além do desemprego.
Vanessa da Costa Val Munhoz, professora do Instituto de Economia e Relações Internacionais da UFU

A opinião é referendada por um integrante do Fed. O presidente do Federal Reserve de Chicago, Austan Goolsbee, afirmou que, embora os dados de emprego tenham sido mais fracos do que o esperado, não parece haver risco iminente de recessão. No entanto, destacou a necessidade de reavaliar a política de aumento das taxas de juros dos EUA, que atualmente estão entre 5,25% e 5,50% ao ano.

No entanto, há quem acredite que sim, uma recessão é possível nos EUA. Especialistas do Goldman Sachs, uma das principais empresas globais de investimentos, elevaram a probabilidade de uma recessão nos EUA para 25% nos próximos 12 meses.

Dados são preocupantes. "Quando somamos que o desemprego começou a aumentar com o crescimento econômico desacelerado, isso gera bastante preocupação. Mas precisamos de mais evidências para confirmar se uma recessão realmente acontecerá", comenta Juliana Inhasz, professora e coordenadora da graduação em economia do Insper.

Política monetária prejudicou recuperação americana. A economista e professora da Faculdade de Economia da UERJ, Juliane Furno, sugere que a abordagem conservadora da política monetária dos EUA, com altas taxas de juros, pode ter contribuído para a possibilidade real de uma recessão enquanto se buscava controlar a inflação.

A baixa criação de postos de trabalho e o aumento do desemprego, consequências dessa politica monetária, podem estar gerando desaquecimento econômico, com possibilidades, sim, de uma recessão nos EUA.
Juliane Furno, professora na Faculdade de Economia da UERJ

Como a recessão nos EUA afetaria o Brasil

Teria impacto no mundo todo. Uma recessão nos EUA pode impactar indiretamente o Brasil por meio de sua influência em outros parceiros comerciais importantes, como a China e a União Europeia, que também podem ser afetados.

Diminuição na demanda por produtos brasileiros. Os Estados Unidos são um dos principais parceiros comerciais do Brasil. Em caso de recessão, pode haver uma redução na demanda por produtos brasileiros, especialmente commodities como soja, petróleo e minério de ferro, que são grandes componentes das exportações do Brasil. Com a queda das exportações e o menor investimento, o crescimento econômico do Brasil pode desacelerar, afetando empregos e a renda das famílias.

Redução de investimentos. Durante uma recessão, investidores norte-americanos podem se tornar mais cautelosos, resultando em menos investimentos diretos no Brasil.

Fuga de capitais. Pode ocorrer uma saída de capitais do Brasil em busca de mercados considerados mais seguros, resultando em uma desvalorização do real.

Impacto na taxa de câmbio. Uma recessão nos EUA pode levar a uma valorização do dólar em relação ao real, tornando as importações mais caras e contribuindo para a inflação no Brasil. O Banco Central do Brasil pode aumentar as taxas de juros para controlar a inflação ou estabilizar a moeda, o que pode afetar o crédito e o consumo interno.

Se há uma recessão nos EUA, o caminho do dinheiro dos detentores de riqueza financeira passa a ser sair das bolsas de valores e ir para os títulos do tesouro americano. Isso pode gerar fuga de capitais, o que impacta na taxa de câmbio brasileira e por conseguinte a inflação.
Juliane Furno, professora na Faculdade de Economia da UERJ

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