Acidente em Vinhedo: o que explica queda de avião em espiral?
Uma principais hipóteses para a causa do acidente com o avião de médio porte que caiu nesta sexta-feira (9), em Vinhedo, no interior paulista, é a formação de gelo nas asas da aeronave, que teria provocado uma "queda em espiral", segundo um especialista em segurança aérea ouvido pelo UOL. O assunto é um dos mais pesquisados no Brasil, segundo dados do Google Trends.
Entre os 61 ocupantes do avião estavam 57 passageiros e quatro tripulantes, informou a Voepass, responsável pelo voo. Todos morreram na queda (veja a lista).
Série de eventos podem ter levado o avião à queda em espiral; entenda
Hipótese da queda ter sido causada pela formação de gelo nas asas da aeronave ATR 72, da Voepass Linhas Aéreas, é "plausível". A análise é de Raul Marinho, piloto e presidente do BGAST (Grupo Brasileiro de Segurança da Aviação Geral).
Existiam características de formação de gelo naquele momento em que o avião estava passando. Então, [a hipótese] é coerente. Olhando, à primeira vista, é bastante provável, inclusive. Raul Marinho, em entrevista ao UOL
Condição atmosférica em que a água fica abaixo de 0ºC pode gerar a formação de gelo sobre a aeronave. "Porque, quando o líquido se choca com a asa, forma-se uma camada de gelo nela", explica Marinho.
Já o acúmulo de camadas de gelo sobre a aeronave pode mudar a curvatura das asas, "que é justamente o que possibilita a sustentação da aeronave", segue o piloto. "Se muda demais essa curvatura, a aeronave perde a sustentação e, nesses casos, "é como se ele deixasse de ser um avião e passasse a ser uma como uma pedra, que foi o que vimos hoje".
Então, o que explica a queda do avião em espiral é justamente isso, a aeronave perde a sustentação e para de voar. Tanto é que ele não tinha nenhuma velocidade horizontal, só vertical. Por isso, ele ficou rodando no próprio eixo, até chegar no chão. Quando entra em um 'parafuso chato' [quando o avião cai sem nenhuma ou quase nenhuma velocidade horizontal.], é praticamente impossível de sair. Raul Marinho
Estol
A "perda súbita de sustentação da aeronave" é chamada de estol, explica Marinho.
Para se sustentar, a asa do avião tem uma aerodinâmica que diferencia a velocidade do vento. Em poucas palavras, a asa tem uma curvatura na parte de cima, enquanto a de baixo é praticamente reta. Isso faz com que o ar que passa por cima da asa tenha uma velocidade maior do que o que está abaixo dela. Essa diferença de velocidade também gera uma diferença de pressão, que produz uma força para empurrar a asa para cima. Esse "empurrão" é o que gera a sustentação necessária para a aeronave decolar e se manter em voo.
Há várias outras situações em que um avião pode entrar em estol. Uma delas é ultrapassar o limite máximo de inclinação, impedindo que o ar circule sobre a parte de cima da asa. Assim, o ar tem contato somente na parte da frente e o arrasto exige uma força bem maior do que se a placa estivesse na posição horizontal. Além disso, a própria redução da velocidade de um avião também pode ser uma causa, já que o ar que passa pela asa não é suficiente para a sustentação.
Todo o avião comercial é preparado para enfrentar a situação, afirma Marinho, quando questionado se as aeronaves não deveriam estar preparadas para evitar a formação de gelo em suas asas.
Esse é um tipo de problema muito comum, até trivial, eu diria. Então, todo o avião de transporte de passageiros tem esse tipo de mecanismo para lidar com formação de gelo, inclusive o ATR 72. Raul Marinho, piloto e presidente do BGAST.
Uma falha no mecanismo da aeronave da Voepass é "uma possibilidade", diz o piloto. "Mas também pode ter sido falha da tripulação, ou ocorrido outra coisa que a gente nem imagina", ressalta. E conclui: "Existem casos de acidentes aéreos que, na hora que você vai investigar, se encontra um fator totalmente fora da curva, que ninguém imaginou que seria aquilo, mas era. Então, só a investigação pode confirmar [a causa da queda]".
*Com informações de reportagens publicadas em 09/08/2024 e 09/08/2024.
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