Avião cai em Vinhedo: área do voo tinha alerta 'severo' de formação de gelo

Na área onde sobrevoava o avião comercial de médio porte que caiu nesta sexta-feira (9), em Vinhedo, no interior paulista, havia um alerta para "formação severa de gelo", segundo informou o site sueco Flightradar24, que rastreia voos internacionais. Segundo especialista ouvido pelo UOL, a aeronave pode ter sofrido uma "perda súbita de sustentação da aeronave", chamada de estol. 61 pessoas morreram na queda (veja a lista).

Na área onde o 2Z2283 [número do voo] caiu, há um alerta ativo para formação de gelo severo entre 12 mil pés e 21 mil. O avião voava a 17 mil pés pouco antes do acidente.
Flightradar24, no X

Para Raul Marinho, piloto e presidente do BGAST (Grupo Brasileiro de Segurança da Aviação Geral), a hipótese da queda ter sido causada pela formação de gelo nas asas da aeronave ATR-72, da Voepass Linhas Aéreas, é "plausível". "Existiam características de formação de gelo naquele momento em que o avião estava passando. Então, [a hipótese] é coerente. Olhando, à primeira vista, é bastante provável, inclusive", afirmou ele, ao UOL.

"Entretanto, existem casos de acidentes aéreos que, na hora que você vai investigar, se encontra um fator totalmente fora da curva, que ninguém imaginou que seria aquilo, mas era. Então, só a investigação pode confirmar [a causa da queda]", disse Marinho.

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Formação de gelo e queda em espiral

O presidente do BGAST explica que a formação de gelo sobre as asas de uma aeronave é causada por uma condição atmosférica em que a água fica abaixo de 0ºC e, quando o líquido se choca com a asa, forma-se uma camada de gelo.

"O acúmulo de camadas de gelo sobre as asas, pode mudar a curvatura das asas, que são justamente o que possibilita a sustentação da aeronave", segue o piloto. "Se muda demais essa curvatura, a aeronave perde a sustentação e, nesses casos, "é como se ele deixasse de ser um avião e passasse a ser uma como uma pedra, que foi o que vimos hoje", completa.

O que explica a queda do avião em espiral é justamente isso, a aeronave perde a sustentação e para de voar. Tanto é que ele não tinha nenhuma velocidade horizontal, só vertical. Por isso, ele ficou rodando no próprio eixo, até chegar no chão. Quando entra em 'parafuso chato' [quando o avião cai sem nenhuma ou quase nenhuma velocidade horizontal], é praticamente impossível de sair dele. Raul Marinho, piloto e presidente do Grupo Brasileiro de Segurança da Aviação Geral (BGAST)

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Marinho explica ainda que a "perda súbita de sustentação da aeronave" é chamada de estol, situação que pode ter ocorrido antes do avião ter entrado em "parafuso chato".

Questionado se as aeronaves não deveriam estar preparadas para evitar a formação de gelo em suas asas, Marinho afirma que todo o avião comercial é preparado para enfrentar a situação.

"Esse é um tipo de problema muito comum, até trivial, eu diria. Então, todo o avião de transporte de passageiros tem esse tipo de mecanismo para lidar com formação de gelo, inclusive o ATR 72".

Sobre uma possível falha no mecanismo da aeronave da Voepass, ele conclui: "É uma possibilidade, mas também pode ter sido falha da tripulação, ou ocorrido outra coisa que a gente nem imagina".

O que aconteceu

Entre os 61 ocupantes do avião estavam 57 passageiros e quatro tripulantes, informou a Voepass, responsável pelo voo. A aeronave tinha capacidade para 68 pessoas.

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Todos os ocupantes da aeronave morreram. A informação foi confirmada pelo governador Tarcísio de Freitas e pela prefeitura de Vinhedo, que auxiliou na operação de assistência ao acidente aéreo.

Aeronave saiu de Cascavel (PR) com destino a Guarulhos (SP). A decolagem da aeronave ocorreu às 11h50 e a previsão de aterrissagem era às 13h45.

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