José Paulo Kupfer

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Opinião

Inflação recua em março, mas continuará pressionada ao longo de 2025

A marcha da inflação, medida pela variação do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), caiu pela metade de fevereiro para março. Em março, segundo divulgou o IBGE nesta sexta-feira, a alta de preços foi de 0,56%, depois de bater em 1,31%, em fevereiro — possivelmente a maior alta mensal do ano.

Projeções para a inflação de abril apontam alta de 0,4%. A expectativa é de que uma prevista redução no preço da gasolina, neste mês, colabore para uma nova contenção mensal do IPCA. Caso a previsão se confirme, a alta do IPCA no acumulado de 12 meses atingirá 5,5%, praticamente a mesma registrada em março.

Essa melhora em março era amplamente esperada e apenas repõe as pressões inflacionárias no nível "normal" projetado para 2025, depois dos desvios ocorridos em janeiro e fevereiro, basicamente pela incorporação do bônus distribuído ao consumidores por Itaipu. Daqui até o fim do ano, as altas mensais previstas não devem passar do avanço registrado em março, ainda assim bastante alto — se viesse a se repetir por 12 meses, a inflação registraria elevação de 7,5%.

Quando se observa a marcha inflacionária no acumulado em 12 meses, o que aparece é um nível mês a mês em torno de 5,5%, com um pico de 6%, em agosto e setembro. Pelas projeções, a inflação em 12 meses recuaria, mês a mês, no quarto trimestre, fechando 2025 em 5,5% — um ponto percentual acima do teto do intervalo de tolerância do sistema de metas, que é de 4,5%, para um centro de 3%.

Em resumo, a inflação cedeu em março, na comparação com fevereiro, mas o resultado mensal melhor não muda praticamente nada em relação ao comportamento previsto para os preços no resto do ano. A inflação continuará pressionada, rodando em níveis acima do aceito pelo sistema de metas.

Com a nova sistemática de meta contínua, determinando que o Banco Central publique cartas abertas explicando as razões da superação do teto do intervalo de tolerância, se isso ocorrer, a cada seis meses, estão sendo esperados dois desses documentos em 2025 — um primeiro em junho e outro no fim do ano.

Mesmo com a taxa básica de juros nas alturas de 15% nominais -- e perto de 8,5% em termos reais --, num ciclo de alta que deve chegar pelo menos perto de um ano, combinada com uma esperada desaceleração da atividade econômica no segundo semestre, a inflação continua resistente.

O sensível grupo dos alimentos se mantém contribuindo para essa resistência, ainda que o ritmo mensal de alta se apresente, nas previsões, com alternância de muitas subidas e descidas. Em março, os preços dos alimentos no domicílio subiram 1,3%, sendo responsáveis por quase metade de toda a inflação do mês, devendo aumentar perto de 1% em abril.

De acordo com as projeções do economista Fábio Romão, experiente especialista em acompanhamento de preços da consultoria LCA 4Intelligence, entre maio e agosto, os recuos em alimentos no domicílio prometem ser mais fortes, com altas mensais inferiores a 0,3%. Mas a escalada no acumulado em 12 meses, no sentido contrário, pode assustar. A alta em agosto, no acumulado em 12 meses, se as previsões mensais forem confirmadas, por exemplo, pode passar de 10%.

Com elevações mensais mais fortes de setembro até o fim do ano, a inflação de alimentos no domicílio, em 12 meses, deve recuar até encerrar 2025 com alta de 7,5% — apenas um pouco abaixo dos 8,5% de alta registrada em 2024.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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