José Paulo Kupfer

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Opinião

BC prevê queda da atividade em 2025 e da inflação nos anos seguintes

A marcha da inflação, medida pela variação do IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor - 15), indica que a alta de preços no IPCA cheio em março deve ficar no intervalo entre 0,55% e 0,6%, um pouco abaixo do registrado pelo IPCA-15, de 0,64%, conforme divulgado nesta quinta-feira (27) pelo IBGE. O IPCA-15 é calculado do dia 16 do mês anterior ao dia 15 do mês corrente.

Embora indique um ritmo menor de alta de preços quase na metade do registrado em fevereiro, quando o IPCA-15 avançou 1,23%, no acumulado em 12 meses a inflação subiu de 5% em fevereiro para 5,3% em março. Projeções apontam a manutenção desse nível de inflação mês a mês até o fim do ano, fechando 2025 com alta ligeiramente acima de 5,5%.

É preciso notar que uma alta de 0,6% não é pequena. Caso se repetisse por 12 meses, a inflação no fim do período atingiria 7,5%. Ao longo do ano, a inflação deve avançar até um pico próximo a 6,5%, em agosto, recuando daí em dia.

Se as projeções se confirmarem, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, terá de publicar duas cartas abertas — uma em junho e outra em dezembro — explicando as razões do estouro do teto do intervalo de tolerância do sistema de metas de inflação, que é de 4,5%.

O sensível grupo de alimentos, deve atingir o ponto mais alto de inflação mensal em 2025 agora em março. Projeções do economista Fábio Romão, experiente especialista em acompanhamento de preços da consultoria LC4-4Intelligence, apontam elevação de 1,3% para o conjunto da alimentação no domicílio, mas com menor pressão nos meses seguintes, apesar das altas fortes em 12 meses.

Em abril, os preços do subgrupo alimentação no domicílio devem subir em ritmo equivalente à metade do registrado em março, em torno de 0,5%, descendo, em maio, para a estabilidade em relação a abril. No acumulado em 12 meses, porém, a inflação de alimentos deverá bater em 9,5%, também em agosto, fechando 2025 com alta de 7%, pouco abaixo dos 8,2% de 2024.

A pressão inflacionária tende a começar a arrefecer no segundo semestre deste ano, a se acreditar nas previsões divulgadas pelo Banco Central, também nesta quinta-feira, com a publicação do RPM (Relatório de Política Monetária) de março. No documento, antes intitulado RTI (Relatório Trimestral de Inflação), projeta recuo da atividade econômica em 2025.

O RPM, de certo modo, contradiz a constatação da comunicação do BC, tanto no comunicado como na ata da reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) de março. Nos documentos, o colegiado que reúne os diretores do BC e decide a política de juros, menciona "incipientes" sinais de desaceleração da economia.

No RPM, contudo, projeções mais detalhadas sinalizam freada evidente da atividade. O PIB (Produto Interno Bruto), por exemplo, crescerá 1,9% em 2025, abaixo da previsão de expansão de 2,1%, no RTI de dezembro.

Todos os componentes do PIB, nas previsões do RPM de março, apresentarão expansão menor do que as previstas em dezembro. Destaque para o consumo, com que agora avançará 1,5% em 2025, ante expansão de 2,4%, em dezembro.

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Idem para o investimento, cuja alta, de acordo com as novas estimativas do BC, será de 2%, quase 1 ponto percentual abaixo do estimado há três meses. A atividade no setor de serviços também deve recuar, embora em ritmo menor, passando de expansão de 1,9%, em dezembro, para 1,5%, em março.

Está evidente, nestas projeções, a ação da política de juros contracionista aplicada pelo BC, a partir de meados de 2024. Seus efeitos são defasados e podem ser ainda mais atrasados se, de outro lado, a política fiscal e de crédito for expansionista.

É o que tem ocorrido, neste momento da economia, com a redução lenta do déficit público primário e as medidas de injeção de recursos na atividade, sobretudo pela via do crédito, determinadas pelo governo, para impulsionar a economia. Ainda assim, o BC estima expansão menor do crédito em 2025, com crescimento de 7,7% ante 9,6% há três meses.

A expectativa de uma alta forte do PIB no primeiro trimestre de 2025, acima de 1%, refletindo a safra recorde que está sendo colhida, é matizada no RPM com cálculos da marcha da atividade desconsiderando o setor agropecuário. O resultado do exercício sugere que está em curso uma desaceleração mais evidente da atividade, suportada pela redução gradual do "hiato do produto" ao longo ano.

"Hiato do produto" é uma medida econômica do potencial de crescimento da economia sem provocar pressões inflacionárias. Por ser uma medida não observável nos dados da realidade, mas apenas possível de ser estimada, sem um resultado único, é sempre motivo de desconfiança. De todo modo, o BC calcula que a economia se encontrava 0,8% acima do seu potencial no quarto trimestre de 2024, projetando que ainda estará crescendo 0,6% acima da capacidade instalada, no primeiro trimestre de 2025, mas já operando em terreno negativo — ou seja, com capacidade instalada ociosa — de 0,8%, no terceiro trimestre deste ano.

Apesar da alta das previsões do BC para a inflação em 2025, de dezembro para março, a redução das variações do IPCA em prazos mais longos se deve em parte à freada prevista da atividade, sobretudo pela ação restritiva dos juros altos.

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A previsão de variação do IPCA de 3,9%, em setembro de 2026 — o chamado horizonte relevante para a política de juros —, ainda que acima do centro da meta, é um indicador claro dessa tendência de recuo, que, de acordo com o BC, seria alcançada com a inflação chegando a 3,1%, no terceiro trimestre de 2027.

Estes cenários sinalizam a proximidade do encerramento do atual ciclo de altas da taxa básica de juros (taxa Selic), atualmente em 14,25%. Apostas no mercado financeiro são de mais duas elevações, em maio e junho, fechando o ciclo com a Selic em 15% ou 15,25%. Daí para frente, a expectativa é de manutenção da taxa básica, com possibilidade de um primeiro corte ainda em 2025.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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